Capítulo I

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Ser uma mulher negra já é um desafio nesse mundo em que vivemos, ser uma mulher negra e acima do peso era praticamente uma provação.

Já tive muitos problemas em relação ao meu corpo, foi um longo e penoso caminho o da aceitação. Mas cheguei até aqui, em meus bem vividos 26 anos e plenamente feliz com o meu corpo e acima disso, feliz com a pessoa que sou.

Estudei aquilo que pude, terminei a escola e fiz alguns cursos extracurriculares quando tinha tempo, foram poucas as oportunidades já que tive que trabalhar desde cedo para me sustentar. Minha mãe falecida há oito longos anos e meu pai, está por aí vivendo sua vida como se não tivesse tido filhos, sim filhos no plural pois ainda quando minha mãe estava viva ele a traiu e teve até dois filhos com a amante, não tenho contato nenhum com eles, embora sejam meus irmãos esse assunto ainda me deixa abalada por ter feito tanto mal a minha mãe no passado, atualmente eles moram em outro estado, distantes o suficiente de mim, crescendo como eu, sem a presença de um pai decente.

No momento moro de aluguel em um bairro não tão ruim, já vivi em lugares piores. Tudo estava razoavelmente bem, tinha um emprego como recepcionista em uma clínica, um salário bom e um plano de saúde decente, era tudo o que queria. Até o fatídico dia em que fui demitida, o dono do lugar veio a falecer e os sócios resolveram acabar com tudo, cada um abriria um consultório e eu sobrei no meio de tudo.

Já fazem cinco meses desde que fui demitida, venho fazendo das tripas coração para me manter, pagar o aluguel e arrumar outro emprego, aceitando qualquer trabalho que me oferecessem.

E é exatamente isso o que estou fazendo agora, indo até um lugar indicado pela minha melhor amiga Lívia, que trabalha numa transportadora, ela disse que os patrões dela precisavam de alguém para um serviço temporário, seriam dois dias em um iate sendo uma "garçonete" acho que foi isso, não recusei pois o pagamento era bom, daria pra pagar o aluguel do mês, perfeito.

Agora só preciso ir até esse endereço que ela me passou, falar com uma tal de Berta e rezar para ela ir com a minha cara.

Saio de casa apressada em direção ao ponto de ônibus, um calor infernal está fazendo hoje, para piorar essa calça jeans e blusa social não ajudam em nada, mas é preciso passar uma boa impressão, então vale o sacrifício.

Demora cerca de quarenta minutos para chegar na Rua em que Lívia disse que deveria ir, lado nobre da cidade, onde só são avistadas mansões a perder de vista.

Caminho em passos rápidos olhando para cada muro, a procura do número indicado, foram mais dez minutos de caminhada até encontrar o lugar certo.

E que lugar, era a maior casa que já tinha visto, não que tenha visto muitas mas essa era uma das maiores que tinham, pelo menos naquele bairro com certeza.

Olho em volta e vejo câmeras de segurança, ajeito meu cabelo e toco o interfone. Chama umas três vezes até uma voz feminina soar por ele.

- Residência dos Moretti

- Bom dia, aqui é a Luana e vim para a entrevista com a Dona Berta - Uma certa ansiedade toma conta de mim.

- Entre, senhorita - E em alguns segundos o grande portão a minha frente se abre. Caminho em direção a entrada, em um caminho cercado por uma grama bem verdinha.

Paro em frente a uma porta, céus, até a porta desse lugar é intimidadora de tão grande. Ela se abre e de lá surge uma senhora, com alguns cabelos brancos e um terno sorriso no rosto.

- Estava a sua espera Luana, a Lívia me falou sobre a senhorita e disse maravilhas a seu respeito, entre querida.

Ela dizia tudo de uma vez, enquanto caminhava pela casa e eu a segui por alguns corredores, lugar enorme.

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