Vamos tentar, Kai?

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A maldição da minha vida é me apaixonar por hétero.

Então eu, Kim JongIn, já deveria estar acostumado, certo? Errado. Eu só conseguia pensar nos seus olhos, no tom alvo de sua pele, nos seus lábios finos e na sua expressão séria, concentrada. SeHun, você trabalha demais, e isto me deixa muito hipnotizado.

Quantas vezes me perdi observando os dedos longos e angulosos de suas mãos digitando sem parar?

Quantas vezes imaginei estes mesmos dedos percorrendo meu corpo?

Você não é nada caloroso, não participa dos encontros de equipe após o expediente. E aquela aliança sobre seu anelar esquerdo mostra que a mulher em seu porta-retratos possui, definitivamente, muito mais sorte que eu.

Até mesmo sua mesa de trabalho se parece contigo. Organizada, limpa, sem muita informação além de puro trabalho. Apenas um pequeno cacto espinhoso, e o fatídico porta-retratos, destoam das pastas e papéis perfeitamente alinhados ali. Você faz questão de borrifar água naquela planta duas vezes na semana, e a leva para pegar sol.

Já o peguei fitando a planta com uma concentração digna de certo afeto mais de uma vez. SeHun, você pode até não ser caloroso, mas também não é frio.

E este seu equilíbrio me enlouquece praticamente desde o dia em que o conheci.

Eu já trabalho aqui há mais tempo, e confesso que treiná-lo foi a tarefa mais simples que já recebi. Você aprende rápido, precisou pouco de mim.

E o fato é que, hoje, dois anos depois, você já é nitidamente muito mais importante para a empresa do que eu. Porque eu não consigo ser tão workaholic assim, não consigo não dar atenção às outras áreas da minha vida. Não me lembro quando foi a última vez que você deixou o escritório no horário, a impressão que tenho é que, talvez, você durma por aqui, para não ter o trabalho de ir em casa apenas se banhar.

Mas você é tão cheiroso que logo preciso abolir esta ideia. Sempre tão bem penteado e com as roupas tão bem passadas. Imagino que sequer o cinto de segurança do seu carro ouse criar uma ruga ali.

E tudo que eu queria era desvendar o que há sob cada uma das suas camisas sociais extremamente alinhadas. Abrir cada um daqueles botões e levar meus lábios a cada canto morno de sua pele.

Mas aquela foto no porta-retratos está ali, me encarando, junto de sua aliança, me lembrando o quão hétero você é, o quão comprometido está.

E o quanto eu sou um desgraçado por não conseguir desejar ninguém além de você.

Sou tirado dos meus devaneios por nada menos que suas mãos. Estas mesmas mãos de dedos longos que tanto cobiço e estão a me entregar os papéis de algum projeto.

Meu sorriso não disfarça o quanto fico satisfeito com a proximidade, pego os papéis tocando sua pele propositalmente. Mendigando qualquer contato.

Meus olhos desviam de nosso toque de mãos para o seu rosto anguloso e intenso, já esperando seu olhar concentrado em algum ponto de sua própria mesa. Me assusto ao vê-lo me encarar de volta, você jamais me olhou assim. E não é a primeira vez que faço nossas mãos esbarrarem.

SeHun, você não está tirando sua mão da minha, e meu coração está começando a disparar. Não deveria fazer este tipo de jogo com alguém que nitidamente é louco por você, sabia?

Também não deveria aproximar seu rosto do meu desta forma, nem levar sua outra mão ao meu ombro, como está fazendo agora. Eu estou ficando iludido e, merda, é tão difícil lidar com a certeza de que sempre serei eu a me iludir.

Minha boca está seca, SeHun, você não vai mesmo se afastar? As baias são altas então tenho sorte de ninguém mais possa ver o quão vulnerável você me deixa. Ah, não, sua boca está tão perto do meu ouvido, tenho certeza de que pode sentir minha respiração entrecortada.

Deixo o ar sair pela boca ao ouvir seu sorriso. É a primeira vez que você sorri, e eu não estou nem mesmo vendo seus lábios.

Porra, SeHun, por que está fazendo isso? Diga algo e se afaste, antes que eu faça qualquer loucura.

— Kai? — sua voz chama meu apelido, a forma com que todos por aqui se referem a mim. — Ou prefere JongIn? Como gosta de ser chamado, hã?

Ouço você sorrir outra vez, arrastando sua cadeira de rodinhas para mais perto da minha, enquanto permaneço imóvel, estático, paralisado. Me sentindo extremamente acuado pela sua proximidade súbita e totalmente inesperada.

— Se-SeHun... — engoli seco depois de gaguejar seu nome. Certo, eu sou um adulto ridiculamente apaixonado e, se por algum acaso não havia notado antes, obviamente percebeu agora.

Sua mão em meu ombro sobe pelo meu pescoço. Eu já estou tão arrepiado quanto aquele cacto sobre sua mesa, e sequer tenho a decência de disfarçar. Sinto sua aliança fria sobre a minha pele e nem mesmo isto me faz querer afastar você.

É errado, mas esperei tanto por migalhas da sua atenção, que a euforia dentro de mim tornava tudo pecaminosamente incrível.

— Gosta disso, não gosta? — sua voz me alcançou outra vez, seus dedos finos apertavam minha nuca e precisei de muito autocontrole para não avançar minha boca sobre seus lábios bem ali.

Você está com um sorriso de canto tão sexy que só agora pude ver, pelo ligeiro afastar de seu rosto do meu. SeHun, eu já não tenho qualquer sanidade, homem.

O encarei sem qualquer vestígio de sorriso, eu estava surpreso demais para sorrir. Meus olhos se desviaram se seu rosto para a fotografia feminina sobre sua mesa e sequer sei o motivo de estar olhando para ela. Talvez fosse a parte sensata de mim, me lembrando o quão errado era desejá-lo.

Você desceu suas mãos pelas minhas costas e sinto uma excitação líquida me percorrer. Seus olhos encaram nossas mãos ainda em contato e vejo seu sorriso aumentar.

— Vamos tentar, Kai? — o ouço dizer voltando os olhos a mim, antes de encarar o ponto ao qual meus próprios olhos estavam. — Não se preocupe, eu sou viúvo.

Volto a encarar seu rosto e, pela primeira vez, pareço enxergar o que nunca quis ver. Tristeza.

Oh SeHun, você não é casado. Você a perdeu, e mergulhou em trabalho para superá-la, não foi?

E eu simplesmente o tenho devorado com os olhos este tempo todo, sequer respeitei seu luto.

Senti seu polegar tocar minha bochecha antes que se você afastasse. Continuou olhando para mim, com seu sorriso mais bonito, me fazendo sentir como se cada célula do meu corpo entrasse em combustão espontânea. Tombou seu rosto para o lado e mordeu o nó do próprio indicador.

Por que não para de ser sexy por um momento?

— Tudo bem, é muito para processar, não é mesmo? — você disse já ajustando a cadeira em sua própria estação de trabalho. — Vamos a algum lugar quando sairmos daqui. Não é um convite, é uma afirmativa, estou intimando-o.

E então volto a encarar suas costas, em silêncio. Meus lábios entreabertos com tudo que acabou de acontecer. Você ainda mantém seu sorriso no rosto, e posso ver que também não está tão concentrado no trabalho quanto antes.

Minha ficha ainda não caiu, tanto que permaneço assim, desnorteado, encarando meu monitor e trabalhando mal até o fim do expediente. Até que sinto novamente suas mãos sobre meus ombros e o calor da sua presença nas minhas costas, eu ainda estou sentado, mal vi as horas passarem. O encaro, você de pé, altivo, vestindo seu terno, com a alça da pasta pendurada sobre o braço direito.

— Vamos? — seu sorriso me cumprimenta, e finalmente consigo sorrir de volta. — Você não é de fazer horas extras, que eu sei.

O vi recolher seus braços e sua aliança já não estava mais em sua mão, seu rosto ainda tinha um belo sorriso e sua sobrancelha erguida em tom convidativo me levaram a fazer a única coisa que poderia. Me levantei, pegando minha própria pasta, o terno pousado sobre meu braço direito enquanto pressionava o botão para desligar meu computador.

E o segui para fora dali, com o coração cheio de expectativas, e a ansiedade crescente dentro do peito sobre o que poderia ser. Sobre o que nos aguardava adiante.

Maldito Oh SeHunOnde histórias criam vida. Descubra agora