Capítulo 110

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Andy

Não consigo parar de rir a caminho de casa ,lembrando do quanto Lipe estava ridículo naquela farda de policial !
Acho que minha irmã finalmente encontrou um parceiro tão louco ,quanto ela . Bem .... finalmente não é bem o termo ...
Essa união só foi adiada por uns...10 anos ? 11 ?
Se tem uma coisa de que não podemos fugir , é essas coisas de destino ! Se voce foi predestinado a uma pessoa , não importa o quanto a vida dá voltas ! Você sempre retorna  ao mesmo lugar em que " estacionou " ou " andou a esmo " e quando se dá conta ,lá está .... novamente frente a frente . Foi o caso dos dois e de tantos outros que conheço . Apesar de trabalhar na área criminal ,onde as histórias não são lá bonitas ou românticas ,convivo com colegas de trabalho que atuam em outra área e sempre pedem minha ajuda para algum caso específico . Muitas vezes me deparo com algo surreal.
Meus pensamentos são interrompidos pelo meu celular . Atendo pelo bluetooth .
- Alô ?! - não reconheço o número
- Andrew ? - uma voz feminina pergunta
- Ele !
- Desculpe o horário ,mas não consegui falar com você mais cedo ! É Débora ! - ela faz uma pausa , esperando minha resposta ,mas não lembro de quem seja a mulher . Alguma cliente ?
- Débora ? De onde ? - desisto de tentar lembrar quem é a mulher
- Sua decoradora ! - ela ri
- Ah sim ! Desculpa Débora ! Estava distraído ! - mentira ,nem lembrava seu nome
- Sem problemas ! Estou ligando para avisar que o trabalho em seu apartamento está quase pronto ! Gostaria de marcar um horário para amanhã ,para que você veja se está de seu agrado ou se quer que mude algo ! - ela diz e praguejo baixinho ,por estar tão relapso nessa questão . Faz 1 mês ,mais ou menos que contratei ela ,expliquei o que queria ,ela me mostrou o projeto ,gostei e dei aval para que ela começasse a trabalhar . Confesso que não fui uma única vez ,ver como estava o andamento do serviço dela ,que se consiste em instalar os móveis planejados pelo espaço todo.
- Claro ! Tenho horário vago para a parte da manhã ! - marcamos de nos encontrar e me despeço ,já chegando no condomínio da minha mãe . Noto que tem algumas ligações perdidas de Cooper . Tenho o hábito de desligar o aparelho ao chegar no fórum , principalmente quando tenho alguma audiência e na maioria das vezes ,esqueço de ligar ou tirar o aparelho do silencioso.
Estaciono na garagem e enquanto desço do carro ,ligo de volta pra ele .
A ligação cai automaticamente na caixa postal . Ainda tento umas duas vezes ,mas a resposta é a mesma .
Suspiro ,pego minha pasta no banco de trás e caem algumas folhas no chão .
- Droga ! - me abaixo para pega las ,mas algo me chama a atenção .  Forço a vista e noto algumas pegadas manchadas de terra vermelha no piso da garagem ,que acabam na porta lateral , onde dá para a entrada dos fundos , mais precisamente na área de serviço .
As pegadas não podem ser de Ana ,pois são de sapatos masculinos e de um tamanho que não condiz com o dela .  Me abaixo pra analisar melhor e de repente uma desconfiança me assalta . Levanto rapidamente e atento a algum movimento da casa . Silêncio e isso não é bom ,acho eu . Sempre tem a tv ligada ,ou uma música baixa tocando ,quando Ana está em casa .
Silenciosamente ,volto para meu carro e abro a porta sem fazer barulho ,tateio debaixo do meu banco e tiro a arma da capa protetora em que se encontra . Sim ,eu tenho uma arma e , Sim ,eu tenho porte para usa la !
Resolvi adquirir uma após ser ameaçado na porta do fórum ,no final de uma condenação ,na qual eu mandei pra cadeia um assassino poderoso . O próprio juiz do caso me aconselhou a comprar .
Engatilho a arma e com ela em punho ,abro a porta principal devagar ,olhando para dentro . O ambiente encontra se na escuridão .
Outro motivo para eu continuar em alerta ,pois Ana acende as luzes ,assim que chega .
Cuidadosamente vou andando pelos comodos as escuras ,pra não chamar a atenção . Entro na biblioteca e mais uma vez ,um sentimento ruim toma conta de mim . Ana não está lá . O lugar que ela costuma ficar ,está vazio .
Escuto um barulho no andar superior e rapidamente subo as escadas .
- Ana !!! - não me contenho e chamo ,mas não obtenho resposta
- Ana !! - chamo mais alto acelerando meus passos . Outro barulho ,dessa vez vindo do quarto dos meus pais .
Se fosse ela ,com certeza , teria respondido .  Aperto firme a arma em minhas  mãos , e abro a porta do quarto deles .
O ambiente se encontra vazio e o único movimento é das cortinas balançando ,pois a porta que sai para a a varanda  do quarto está aberta . Aponto a arma e ando com cautela ,até lá sem saber o que irei encontrar . Solto a respiração ,ao notar que não tinha nada de errado na varanda . Mas e Ana ? Onde ela está ?! Volto rapidamente para seu quarto e bato na porta
- Ana !! - chamo novamente . Silêncio . Começo a me desesperar . Sem pensar duas vezes abro a porta . Paro de repente , e só agora noto que meu coração está disparado .
Ana está deitada em sua cama ,com um bloquinho na barriga ,uma caneta  levemente solta em seus dedos e com fone de ouvido ,o motivo dela não ter escutado eu chama la . Ela ressona tranquila e respiro aliviado .
Como se pressentindo minha presença ela abre os olhos sonolenta mas  senta rapidamente na cama assustada ao me ver .
- Andy ....- ela coloca as mãos no peito e olha para minha mão .
- Isso é uma arma ? - ela balbucia assustada . Praguejo por ter me esquecido  completamente da arma.
Travo e guardo na cintura .
- Eu te chamei e você não respondeu...- tento explicar
- E resolveu me matar ? - ela sorri nervosa .
- Não ....- rio também balançando a cabeça me sentando na ponta da cama .
- O que aconteceu ?  Você anda armado .....- sua voz é quase um sussurro e me sinto culpado por te la assustado
- Eu ouvi um barulho e a casa estava as escuras ...eu pensei que ....- não termino a frase .
- Barulho ? Eu....dormi enquanto escrevia .....- ela diz aturdida ,escondendo rapidamente o bloco debaixo do travesseiro .
- Notei ...por isso chamei e você não respondeu . - me levanto ,sem mencionar a pegadas na garagem pra poupa la de um suposto nervoso . Nem eu nem sei como interpretar aquilo .
- Vou tomar um banho ! - me dirijo para a porta
- Vou preparar alguma coisa pra gente comer . - ela se levanta também e dispensa o chinelo , indo até o banheiro . Desço e volto até meu carro ,guardando minha arma em seu lugar habitual ,e só então retiro o notebook e a pasta abarrotada de papéis do carro .
Dou uma última olhada nas marcas no chão .
Não , não é coisa da minha cabeça ! As marcas estão lá ,denunciando que alguém esteve aqui !
Mas quem ? E como conseguiu entrar ?
O jardineiro não pode ter sido ,pois ele era muito meticuloso e não deixaria essa " sujeira " .
O piscineiro está marcado para vir só dali a dois dias .
E em ambos os casos ,sou notificado da presença deles ,já que minha mãe está fora ! Com um suspiro resignado ,entro e encontro Ana na cozinha ,descalça , como de costume ,mexendo nas panelas . Ela sorri ao me ver
- Macarrão alho e óleo ,gosta ? Com segredinhos .  Minha especialidade !!- ela mostra o balcão com algumas coisas dispostas .
- Pra mim está ótimo ! - concordo passando por ela ,mas paro e me viro
- Ana , avisaram você algo sobre a visita  do jardineiro ou o rapaz que cuida da piscina ....se viriam aqui hoje ?
- Não , que eu saiba eles virão daqui depois de amanhã ...- ela confirma o que já sei .
- Ok !
- Algum problema ? - ela franze a testa me analisando
- Não ! Acho que me confundi com as datas ! - minto ,mas ela ainda me olha desconfiada .
Saio da cozinha para fugir de algum questionamento.
Tomo um banho rápido e desço para a biblioteca ,decidido a ligar na portaria . O porteiro me afirmou que não foi solicitada nenhuma visita na residência . Me recosto na poltrona ,ainda mais intrigado .
- Andy ....- Ana chama baixinho da porta me assustando
- Está pronto ! Venha comer ..

Coração BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora