Calisto
Abri a porta depressa, perguntando mais uma vez ao bom velhinho, como era se aventurar e estar no mar. No caso de hoje, eu perguntei sobre o Perry, um animal que ele o capturou em uma de suas viagens.
— Ei vovô, como foi que você pegou o Perry? — Perguntei muito curioso.
— Oh meu querido Calisto, sente-se aqui. — Sua careca brilhava com a luz da lamparina e sua barba grisalha ficava sendo coçada. — Lá estava eu, em uma noite tempestuosa nas terras do leste. Em uma lagoa encontrei alguns ovos e então, aquilo me atacou. Ele era bem grande e possuía uma cauda e um bico enorme. Era um ornitorrinco, um bicho que não tem por aqui. Consegui captura-lo e o chamei de Perry, porém tive que soltá-lo.
— Mas por quê? — Perguntei meio chateado.
— Pelo fato de que ele tinha sua própria aventura, própria família, seu próprio sonho e você ainda é muito novo para entender isso. — Logo a seguir sua gargalhada começava e ia batendo firme no fundo da minha mente.
O cenário de minha casa era mudado, na medida que eu ficava com as mãos no ouvido. Sua voz ficava mais alta e então, sumia, com uma explosão deixando tudo escuro.
Em um susto abri os olhos e vi o céu estrelado da noite. A lua ao longe iluminando todo o mar. Os pardais-franceses sobrevoavam o meu pequeno barco de pesca, com algumas cargas.
É com isso que trabalho há alguns anos, graças ao incentivo de meu avô. Sou um comerciante marítimo. Vou de terras em terras, em busca de aventuras e mercadorias. Sem rumo ou sem trajeto. Tão livre, quanto estes pardais-franceses. Franceses... França... Oh céus...
— Droga, eu não deveria estar aqui — Disse trocando minhas roupas e pegando um pequeno tubo amarelado com uma lente. Muito bom para ver ao longe.
Peguei um pedaço de pano amarelo e cobri os caixotes de mercadorias e bagagem. De uma hora a outra, meu barco se iluminou por completo e vozes pediram para encostar. Ao chegar perto, estava um homem com barba negra e um uniforme de exercito.
— Pra ondes andas forasteiro? — Perguntou na língua dos comerciantes.
— Para o Monte de São Miguel, entregar algumas mercadorias da igreja e do reinado. — Disse levantando um pedaço do pano amarelo mostrando as mercadorias, escondendo o resto.
— Muito bem... Você deve ser Calisto, o Aventureiro, certo? — Disse o homem com o ar de dúvida e eu confirmei — Era só ter dito isso, tenha uma boa entrega e tome cuidado.
As luzes começaram a ascender e mostrar um caminho pelo qual devo seguir, no meio deles, existe diversos barcos com marinheiros prontos para combate. Lembrei do perigo em que eu me encontrava.
Estou em território de guerra, do meu país e o do dela. Disse que eu era como um pardal? Que mentira, sou totalmente aprisionado por uma certa mulher de cabelos amarelados, da pele clara e dos olhos esverdeados.
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Alícia
Acaricio... Toco... Amacio... Me arrepio... A vida realmente é tão justa assim? "Claro que é". Aquele homem sempre fala isso... Meus pulsos estão doendo tanto... Mamãe sabe sobre essas marcas em meus pulsos, em meu corpo e tudo mais. Só que o que ela faz? Absolutamente nada. Muito pelo contrário, apoia estes atos. "É para o bem dela", "Uma boa educação, vem de uma boa lição".
Tenho saudades do meu velho... Pai, por que você foi tão cedo? Por que eu tive que ficar sendo a "sucessora"? Na verdade eu era, até eles chegarem. Não sinto raiva, muito pelo contrário, agradeço por aliviarem este peso das minhas costas.
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Ilícitos
RomanceDe todas as aventuras da vida, a melhor que aconteceu foi no Monte de São Miguel na França. Não esperava que encontraria uma pessoa que mudaria meu destino, que brincaria comigo, que me tornaria Ilícito, em meio a guerra. Conto escrito para o Concur...