Hulk Pansexual

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    Espero não decepcionar as mentes ávidas de requinte dos leitores assíduos, nem, tampouco, equadrar-me no enfadonho grupo inócuo dos escritores de fanfic. Pretendo fazer - e farei - algo inovador. Não, corrijo-me. Farei revolução, colocarei em suas mentes uma história breve e extraordinariamente insólita com palavras atraentes, resignadas, arrogantes e até uma ou duas moribundas. Escrevo como necessidade fisiológica de expor idiossincrasias da minha mente doentia. Fato estranho: nosso protagonista é mundialmente conhecido, mas não pelo motivo obscuro aqui relatado.

              

I.  O ÉBRIO ERRANTE

   Deitado no fétido chão poluído nas entranhas cadavéricas de uma cidade decadente e escondido em uma penumbra dolorosa dorme Bruce Banner. Mas não por muito tempo. Sua própria casa está a lhe trair. Os ventos gélidos e ardentes tocam-lhe despudoradamente, causando espasmos e calafrios, fazendo Bruce levantar-se em sobressalto. Quero dizer, sua mente se levantou-se em sobressalto, visto que seu corpo idoso respondia vagarosamente aos comandos cérebrais. Suas próprias sinapses não eram lá das melhores.

   "Putz, que buraco é esse que o demônio me deixou hoje?", pensou pesaroso no instante em que começava a desbrochar os membros do corpo como uma flor, lenta e pacientemente. Não tinha pressa de nada, a pressa tornara-se obsoleta, bem como computadores, televisões e o que os antigos chamavam de livros. "Pff, livros", não leria um nem que pagassem, a preguiça era parte inerente dele, quase como um novo órgão.

   Banner tossiu. Continuou tossindo. Parou um segundo pra respirar e tossiu ainda mais intensamente. Sentia como se os pedaços do pulmão estivessem sendo aspergidos com sangue no mundo exterior. Ao menos não sentia fome, "que que o nojento do Hulk terá enfiado no meu bucho mesmo...?"

    Não conseguia lembrar, apesar de ter melhorado consideravelmente sua capacidade de manter parte da consciência quando transformado em Hulk. Não sabia se era uma bênção ou um fardo. "É um fardo", disse. "Mas não controlo a curiosidade. Sou mais curioso que sensato."

    Pois bem, esse mesmo velho Bruce caminhou pesaroso pelas ruas escuras de uma manhã natimorta. Eram 5:30 e ele buscava sua casa em meio aos cortiços metálicos e tétricos. Não tinha medo do escuro, tinha preguiça de sentir medo também, se fosse de morrer, morreria. Ele próprio era escuridão, evitavam-no, temiam-no, era o velho asqueroso portador do repugnante e monstruoso demônio verde. Verde é esperança, esperança de morte. Ninguém é feliz aqui, morrer não causa medo, é apenas... desagradável, bem como o é suas vidas miseráveis.

   Banner encontrou sua casa. Lê-se "casa" com aspas, já que pra chegar ao status de casa ruim essa precisaria melhorar muito. Dona Giordanna dormia na cadeira de balanço rosa. Bruce entrou com pés de algodão, muitíssimo cuidadoso, ele era todo respeito. Não respeitava ninguém, para ser honesto, mas nutria considerável respeito por dona Giordanna, que lhe fazia companhia.

   A missão foi bem sucedida, conseguira entrar sem acordá-la. Agora ia dormir. Deitou pesadamente na cama e dormiu até as 10 horas.

  "Quer café, Brucezinho?", Dona Giordanna estrara sorridente, fazendo barulho e abrindo as janelas. Vestia um xale feiíssimo e falava como uma matraca.

  "Essa mulherzinha não tem o mínimo de senso", pensou Banner. E disse:

   "Que é mulher?!"

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