"eu juro que vou morrer online e ninguém precisa saber. eu já fiz backup da minha alma"
Não havia jeito. Primeiro, apagou as fotos. E então veio a tristeza, daí apagou a conta. Instagram foi o primeiro, seguido pelo Facebook. Deixou os memes para trás, o mesmo para suas fracassadas tentativas de um dia administrar alguma página famosa e todas aquelas contas fakes para que gostassem dele — mesmo que fosse uma farsa.
Solitário naquele vagão de metrô, releu todos os seus estúpidos tweets reclamando sobre a vida e enaltecendo famosos. Não precisava daquilo; apagou a conta. Sempre sentia-se distante das outras pessoas. Cansou-se de esconder-se atrás de arrobas, de icons fofos roubados no Tumblr e bios que ninguém lia. Excluiu, excluiu, excluiu.
Não podia excluir-se da realidade e, francamente, se pudesse, teria feito. O cinzento céu assemelhava-se com o humor azedo dele. Porque era tudo patético naquela internet. Livrou-se de todos aqueles aplicativos vazios, ridículos, pesados. Não queria mais aquilo.
Inerte àquele suicídio social, pensava que talvez todos fossem notar a sua ausência e ir procurar-lhe na vida real. Talvez Hendery sentisse falta dos seus retweets engraçados. Ou Xiaojun fosse sofrer com a falta dos seus reblogs. Lucas provavelmente iria cobrar pelas suas selfies. Também tinha Kun, que com certeza teria um ataque cardíaco quando não fosse marcado nos memes. Sicheng teria menos um storie para acompanhar. Ten teria menos gente para conversar. Os seus amigos sentiriam sua falta?
Não, não mesmo. Yangyang encontrou Hendery na biblioteca, mas apenas trocaram cumprimentos e nada mais. Ele não havia notado. Kun estava lanchando na cantina com Lucas, o qual não parava de tentar impedi-lo comer, alegando que estava muito gordo. Conversaram sobre um meme novo do Harry Potter em ascensão. Yangyang desconhecia-o, foi aí que comentou estar fora das redes por tempo indeterminado. Kun não podia responder, uma vez que a boca estava cheia. Mas Lucas falou que aquilo era um saco, metralhando-o com aquele tom e palavras numa cega esperança para que voltasse. Yangyang não iria voltar. Havia morrido.
Xiaojun estava tirando fotos no gramado do campus. Puxou Yangyang para algumas, fazendo caretas e agindo amavelmente. Prometeu que marcaria-o quando fosse postar, porém saiu apressado antes do amigo explicar que talvez não fosse encontrar a sua conta por lá.
Ten esbarrou-se com ele no corredor. O tailandês estava focado no telefone, respondendo mensagens e comentários. Havia uma semana sem trocar mensagens com o Yang e aparentemente não estava sabendo do seu sumiço. Era óbvio que não iria lembrar, tinha muito mais com quem falar — um contato não faria falta. E Sicheng apenas sorriu-lhe quando o viu passar frente à quadra de esportes. Nada de comentários, nada de vir buscar satisfações por não estar na internet. Nada, ninguém.
No final da semana, exausto sentara-se com seu café, fitando a tv desligada e pensando sobre tudo. Era apenas uma vida de farsa, então não arrependia-se de ter feito. Apenas pensou que talvez seus amigos fossem estranhar ou ficar preocupados. Bebeu um gole e respirou fundo. Pensou que ficaria feliz, mas a melancolia ainda estava bailando em sua mente.
Porque Yangyang tinha morrido online e ninguém sequer havia percebido. Ele era apenas mais um código ali, nada mais. Viver poderia mostrar-se cem vezes melhor. Só não sabia como.