Circuito Virtual: O REALITY -1!!!

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Capítulo 1.

Wander Lins

Ideias para um novo Livro

_Studio Wander Lins_________________

    Andando por sua sala de seu enorme 'Studio', Wander Lins parece um tanto inquieto, não ansioso, ainda bem! Não quer voltar a roer as unhas e ter um charme apenas superficial. Para em frente a grande janela à direita da sala e abre um pouco mais as persianas cinzas para a luz do sol entrar com maior liberdade. Pensa melhor e ergue todas as persianas centrais, assim a luz tem todo espaço para expandir seus feixes iluminando o local. Dá as costas para a janela e caminha em direção a sua mesa, passa por algumas poltronas, contorna por ela e senta em sua confortável cadeira reclinável.
    Muitas folhas A4 espalhadas de forma ordenada sobre a mesa, com parte de suas faces sobrepostas uma a outra. Alguns de seus livros empilhados no canto direito. Lápis soltos em torno das folhas, ele pretendia fazer alguns desenhos base para um novo anime e encaminhar para o 'set' dos desenhistas, mas a pouco, a Garota dos Cabelos Rosa veio até sua sala e disse que ele não precisaria se preocupar em fazer os esboços. Pois alguém conseguiu fazer isso por ele, seguindo a descrição que havia feito, conforme pretendia rascunhar.
    Agenda fechada próximo ao seu braço esquerdo, alguns e-mails da Isabelly para responder e alguns roteiros da adaptação de A Saga de Fantasy Falls recebidos, para que ele tenha mais ou menos a noção de como ficarão os próximos capítulos da série inspirada em um dos seus livros mais renomados. Um bloco listando suas próximas participações em programas de TV e as entrevistas agendadas para esse mês. Lembra que Ana Luiza já marcou seu próximo ensaio no 'Studio' dela, então é algo a menos em que ele tenha que se preocupar em agendar.

    -Aff - folheia o seu catálogo personalizado que ele mesmo fez, listando o nome de todas as suas obras e sonhos, desde desenhos à filmes, muitos títulos e alguns ele conseguiu concretizar em todo esse emaranhado de muitas ideias. Mas algo o incomoda nesse seu folhear.
    Alguém abre a porta de sua sala e entra, sem dizer nada, ele apenas ouve o som do ranger de abrir e fechar, tenta identificar quem poderia ser pelo toque dos sapatos no tapete felpudo. Ergue a cabeça e fita um dos funcionários do 'Studio', um dentre os que são responsáveis por servi-lo e também os demais artistas que trabalham ali, com o trazer de um copo de suco, por exemplo. A bebida que ele pediu a pouco. O rapaz trouxe o seu suco de laranja em uma bandeja, ao estilo que fazem os garçons, só isso, mais nada, da maneira que ele pediu, em um copo 'Long Drink', natural e sem açúcar.
    Contorna a mesa do patrão pela direita, carregando a bandeja apoiada em sua mão esquerda, desfilando com seu uniforminho, 'smoking' sem paletó, até porque não querem que ele morra assado ao decorrer do dia. É só que com esse uniforme os funcionários com a mesma função ficam mais estilosos, a nível do 'Studio'. Ao rodear a mesa, percebeu que Wander Lins, está com um semblante caído, sem ânimo ou algo nesse sentido. Para poucos centímetros distante dele, não desce o copo, antes se sente no dever de perguntar:
    -Tudo bem? - mastiga o som de cada sílaba de um modo feliz.
    -Estou sim, obrigado - responde devagar.
    -Desculpe-me por perguntar - declara - e também por insistir, é só que não parece - Wander Lins suspira, ergue os braços da mesa e se ajeita na poltrona, olha bem para o novo funcionário, que está ali apenas há uma semana, antes de responder.
   -Não tem problema em perguntar. Eu só estou um pouco entediado, apenas isso.
   -Hmm - ficam calados e o garoto pensa rapidamente em como pode lançar uma nova pergunta.  
   -Teria algum motivo? - tenta entender depois de alguns segundos em silêncio, ainda mantém a bandeja suspensa e o copo com o suco sobre ela - Sua vasta ocupação com a vida de artista?
    -É a falta dela - "ocupação", lança suas palavras a fora e desvia o olhar do garoto para a porta de sua sala ao endireitar o corpo para frente.
    -Como assim? - ele ainda não entendeu.
    -Ah - quando Wander Lins libera esse som, de uma forma meio pesada, ele pensa que talvez possa estar sendo chato em questionar, mas tenta arriscar mais uma pergunta. Sua mãe o ensinou que se um dia ele tivesse um emprego, teria que fazer a diferença, ser mais que apenas um funcionário, então se ele tiver algo a fazer que possa o deixar bem, o fará.
    -Você não está feliz com sua vida de artista? Ou, não acha que está sendo suficiente todos esses artistas esplêndidos pelos 'sets' de produção daqui, cada um deles empenhados em tornar cada vez mais seus sonhos em algo real? Cada um deles facilitando e tornando mais ágil a concretização de seus trabalhos?
    -Eu estou feliz com tudo isso, mas... - suspira e volta a apoiar os antebraços sobre a mesa - eu também quero estar envolvido no processo. Fazendo! - resume a ação com uma palavra.
    -Eu não sou fã de ficar sem ter o que fazer, só que é o que está acontecendo - o garoto o ouve atentamente, e o espera retomar após uma pausa - eu tenho uma nova grande ideia, apresento para todos os artistas do 'Studio'. Cinco segundos depois cada um pega uma parte dessa ideia para trabalhar nela, até que ela se torne um trabalho perfeito. E no fim eu apenas assisto todo o processo, até o trabalho ficar pronto para que eu assine e torne autêntica a mais nova conquista de "Wander Lins".
    -Eu... - ele interrompe o garoto que ia dizer algo, após as suas duas longas falas, diante disso, espera que o rapaz diga algo.
    -Não, tudo bem, continue.
    -Bem - Wander Lins continua quando o rapaz diz que ele pode - eu sinto que estou aqui apenas para dar ordens, assinar contratos e autenticar trabalhos.
    -Eu entendo, você quer ter seu dedo entre o intervalo de ter a ideia e o trabalho pronto...
    -É - a voz do artista sai meio abafada - "fazer parte da arte da criação" - expressa sua sentença devagar - não só ter o nome latejando nos trabalhos.
    -Eu sei que você consegue resolver isso - declara confiante - não seria a primeira vez, não é?
    -O quê? - se perde.
    -Que você dá a volta por cima. Eu acompanho o seu histórico de superações - declara, talvez lembrá-lo de todas as vezes que ele conseguiu se elevar em situações ruins o deixe melhor.
    -Olha mais um fã - diz extasiado - nem sei porque me surpreendo, quem não é meu fã não é mesmo?
    -Brincadeira - cobre a sua fala anterior, gargalhando.
    -Claro, por qual motivo eu quereria trabalhar aqui? - lança uma pergunta - Mesmo sendo para servir sucos... - "nossa!".
    -Obrigado - é o que ele consegue dizer ao ficar sem reação.
    -Ah, esqueci de entregar-lhe o seu suco - o rapaz dá um passo e leva a mão direita ao copo, pisa em algo que não viu pelo chão e se desequilibra, derramando todo o suco pelas folhas brancas, criando um mar laranja sobre a superfície de vidro da mesa.
    Wander Lins se afastou um pouco para que o suco não se espirrasse nele, arrastou sua agenda para não ser danificada com o líquido e o garoto rapidamente coloca a bandeja sobre os livros ao canto direito, agora com o copo vazio. Ele arrasta todo os materiais da mesa para direita, longe do suco que começa a escorrer e cair sobre o tapete.
    -Ai meu Deus - está estarrecido e com o coração acelerado, todas as folhas que estão sobre a mesa sofreram com esse dilúvio colorido, provavelmente estão grudentas devido essa situação. Estão tão transparentes depois do "encharcado".
    -Acalme-se - Wander Lins expressa ao vê-lo um tanto nervoso.
    -Acho que já era meu emprego - expressa em um tom triste, Wander Lins gargalha com sua risada característica e o jovem não consegue entender.
    -Não irei te demitir - tenta aliviar o garoto - foi apenas um acidente, temos que estar preparados para eles sempre. E a culpa também foi minha, por ter deixado esse urso de pelúcia que ganhei de uma fã debaixo da mesa - notou que o motivo do rapaz perder o equilíbrio, foi por pisar sobre o braço rechonchudo do urso.
    -Você não está bravo?
    -Não - diz meio forçado e estendendo o pronunciar do "não", devido as gargalhadas, tenta cessá-las, mas de certa forma esse momento é cômico pra ele.
    -Mas as folhas?
    -Bem, essas terão que ir pro lixo, mas não tem problema.
    -E o tapete? - tenta achar alguma culpa, e aponta o tapete felpudo com fiapos cinzas e brancos - Vai ficar uma mancha agora.
    -É só trocar! Fique tranquilo - está sentado meio despojado fitando o garoto.
    -Ufa.
    -Eu ficaria bravo se tivesse caído em algum desenho meu, - aponta - mas ultimamente eu não tenho desenhado nada, ou feito qualquer coisa - lamenta o que sente.
    -Eu vou limpar o suco!
    -Não se preocupe, deixa que eu limpo - arrasta sua cadeira para frente, colocando suas pernas baixo da mesa, vai tentar se concentrar em outra coisa.
    -Não! Não! Eu já limpo, só preciso buscar os panos - começa a se distanciar da mesa.
    Wander Lins curva os olhos disfarçadamente, ele disse que limparia, então o rapaz não precisaria buscar os panos. Só que não foi ouvido, ele já foi buscar o material que precisa para limpar a bagunça. Não pode culpá-lo de fazer o trabalho que é pago para fazer, se ele quer limpar, que então limpe.
    Está relativamente entre o meio da mesa, se arrasta com a cadeira de rodinhas para á esquerda, espremendo os lábios movendo-os de um lado para o outro, moldando um bico de pato, como costuma fazer nos segundos em que não sente nada. Se coloca na extremidade onde estão o computador fixo de sua mesa e o seu notebook aberto ao lado.
Começa a rolar o 'feed' de 'e-mails' de cima para baixo, de baixo para cima, tentando escolher algum que consiga responder primeiro, não importa o grau de urgência, ou o tempo de atraso.
    Repete isso algumas vezes e então nota algum 'e-mail' perdido da Vívian, que ficou de responder. Hmmm, conversar com ela nesse momento pode ser brilhante, talvez ela o ajude a encontrar alguma ideia para um novo livro que ele mesmo possa fazer. Está decidido, pega o telefone de sua mesa, confere o número dela na barra do 'e-mail', e disca a ligação.

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