6 • Ela não era normal

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Por mclarah  e fireflyins

Out there looking for love
Just let it find you.

(Synchronice)

Eu e Lia fomos "tout court" como as férias de verão

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Eu e Lia fomos "tout court" como as férias de verão.

Eu estou utilizando uma expressão jurídica francesa não só para mostrar um refinamento intelectual que não tenho, mas também para suavizar que nós fomos só isso, nada além de um relacionamento passageiro, ilustrado perfeitamente pelo lema das férias de verão: tudo que é bom dura pouco.
Datado, como todo relacionamento universitário, não sobrevivemos nem às primeiras provas do oitavo período, e eu ainda "arrumei" uma fossa para a véspera da prova de Direito de Família, me rendendo um belo 4,0 e uma prova final de brinde. Mas eu não vou culpar a Lia por não ter conseguido se entrosar com os meus amigos, por não relevar os olhares de Jiyoung ou por não saber ignorar o climão com seu precioso "Yoon".

Já na primeira semana de aula, quando entramos de mãos dadas na sala, Hoseok deixou cair o joystick da mão e Jiyoung se levantou do sofá, passando pela porta mais rápido do que os alunos do noturno desocupam a sala no fim da última aula, e eu tive certeza de que ser um casal na Nacional seria infinitamente mais complicado do que durante as férias.

Afinal, as férias de verão são um acontecimento à parte, que descola você da sua rotina. Durante aqueles meses, eu não era ex-namorado-de-ninguém que teve um término conturbado, Lia não era ex-alguma-coisa-de-um-amigo-meu e, por isso, eu não era conhecido como o fura-olho mor da galera. Durante as férias éramos só nós dois, almoçando juntos, saindo quase todos os dias e, eventualmente, dormindo no apartamento dela.

Naquelas férias fomos só mais duas pessoas  que estavam se conhecendo e se apaixonando de forma gradativa, mas de uma gradação bem acelerada. E eu posso dizer, sem nenhum peso na consciência, que aquele verão foi uma das épocas mais extraordinárias da minha vida, já que vejo agora, depois que acabou, com muito mais clareza, como fomos um casal ordinariamente extraordinário. As lembranças ficaram marcadas na mente como os raios de sol daquela viagem que juntamos as economias para conseguir sentir, por quatro dias, a areia fina de uma praia distante sob os nossos pés, e foi somente lá, longe da estética gasta de Seul, que eu percebi o quanto Lia combinava com as temperaturas tropicais, a forma como o sal na pele reluzia na cor morena e a fazia brilhar. De mãos dadas longe de todos, em um país que ninguém nos incomodaria, descobri que a junção de nossas sintonias não se resumia ao verão, mas eu também não conseguia restringir as sensações às estações que já conhecia: éramos algo que nunca foi visto.

Eu posso contar sobre o nosso primeiro encontro oficial em que eu levei a Lia para jantar no meu restaurante favorito, de como nos beijamos na portaria do seu prédio antes de voltar para casa; sobre o dia que a levei para tomar café da manhã em uma cafeteria em Itaewon; sobre como trocávamos mensagem o dia inteiro até a hora que, finalmente, tornaríamos a nos ver; sobre como ela me falou das suas bandas favoritas; de como ela descreveu encantada o último livro que leu; sobre o piquenique que fizemos no domingo de manhã; sobre o banho de piscina no meu prédio no outro sábado; sobre como nos beijamos na sala, aproveitando que meus pais haviam viajado; sobre as toalhas e depois  as roupas de banho sendo deixadas pela sala; sobre como nossos corpos se encontraram e se conheceram e, por fim, quando me confessou, um tanto embaraçada, o quanto gostava de tulipas.

Uma garota normal • Kim SeokJinOnde histórias criam vida. Descubra agora