Muitas vezes temos um véu negro que cobre nosso olhos, nos impedindo de ver o que está bem na nossa frente, não sabemos o porquê dele estar ali, apenas ficamos vedados.
Não são todos que conseguem notar que deixaram algo passar despercebido, e tira...
Como as pessoas são capazes de machucar umas às outras com tanta frieza?É estupidez minha pensar assim? Não sou inocente ao ponto de acreditar que não existam pessoas más, que passam por cima de toda e qualquer pessoa por um objetivo próprio. Não sou assim, sei do que o ser humano é capaz, basta olhar seu passado, os grandes massacres que o homem já fez, por motivos que só eles mesmos podem entender, a diferença é que eu só li isso em livros, ou vi reportagens, seja pela televisão ou pelo computador. Nunca presenciei algo ou passei por algo terrivelmente ruim. Contudo,hoje meu peito dói, por ver alguém de quem tenho o maior carinho do mundo,internado no CTI de um hospital, induzido ao coma para uma recuperação mais rápida, com múltiplas fraturas, escoriações e hematomas. Ainda não foi permitido a entrada de visitantes, por isso tudo o que posso fazer é olhar para ele através desse espesso vidro, sua mãe depois de muito insistir conseguiu autorização do médico para ficar ao lado dele, e ela tem feito isso nas últimas 24 horas, não saiu para comer ou beber qualquer coisa, só permaneceu ali, orando.Exercendo o pouco de fé que ainda reside nela. E eu permaneço aqui, do lado de fora do quarto, pelas mesmas quantidades de horas esperando um milagre.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Vejamos por onde posso começar a explicar o caminho que me trouxe a atual situação. A pessoa deitada naquela maca, entre a vida e a morte é Heitor, ele tem 16 anos apenas, está um ano adiantado nos estudos por isso cursa o segundo ano do segundo grau. Eu o conheço desde os meus 10 anos de idade, sendo que sou 5 anos mais velho que ele. Heitor é bastante introvertido, mantem-se sempre afastado de confusões ou multidões, sempre e digo a verdade, ajuda quando vê alguém que precisa, não importa como. Faz trabalho voluntário em um centro de recolhimento de animais abandonados. Estuda para se tornar professor, em uma das matérias que mais detesto, matemática. Ele ama a forma como tudo se resolve na matemática, como praticamente tudo tem resposta. Dificilmente vai vê-lo praticando esporte, ele é a pessoa mais preguiçosa que conheço! Ele até um tempo atrás tomou iniciativa de fazer caminhada, antes de ir para o colégio, mas quem disse que isso durou muito tempo? Em quatro - ou foram cinco dias, não sei ao certo -, ele desistiu alegando que a natureza já o tinha privilegiado com um corpo mágico, e convenhamos ninguém come como ele, e ninguém consegue manter o peso como ele.
Sorrio ao pensar nisso, porém meu sorriso desvanece ao olhar para frente e ver seu corpo franzino e esguio machucado. Nós praticamente fomos forçados a conviver um com o outro, já que somos vizinhos e nossos pais são amigos, sendo assim quando os pais dele precisavam deixa-lo em casa para resolver algo, meus pais se disponibilizavam em cuidar dele e vice-versa, desse jeito passamos muitas horas brincando juntos, crescemos juntos. Ele gosta mais de ler e ver séries ou filmes online pelo computador, eu preferia gastar meu tempo jogando,então quando eu tinha que ficar na casa dele passava o tempo o acompanhando,vendo filmes de terror, e eu era quem sempre se encolhia embaixo do lençol ou apertava o braço dele quando me assustava, como ele era um garoto destemido! Quando era ele quem tinha que vim para minha casa, eu o ensinava a jogar, ele jogava bem, mas enjoava rápido, ficando entediado em questão de minutos, o máximo que conseguir fazer foi ele jogar durante duas horas, e como ele reclamou depois!
