Os imponentes e altos muros do Condomínio Nova Brasília ficavam para trás enquanto Leonardo entrava no que era a cidade administrativa de Paranoá. Antes já não era uma cidade amigável, agora então, somente com escombros e lixo. O vapor quente que subia do chão deixava um cheiro de chorume no ar.
O pequeno mapa na visão de Leonardo não indicava nenhuma forma de vida no local, mas ele seguia cauteloso e devagar pelo o quê sobrou das ruas asfaltadas e pequenos prédios comerciais. O propulsor de salto e impulsionador de corrida estavam ligados e prontos para serem usados quando precisasse, mas ele estava economizando bateria para o trajeto que faria sobre o grande Lago Paranoá, para alcançar a antiga Brasília.
_ Hã? O que foi isso?
Leonardo notou um vulto na igreja no grande canteiro central já perto do final da cidade. Colocou os dois dedos indicadores na lateral da cabeça. Empurrou levemente para cima e a visão deu um zoom. Fez um gesto de clique com um dos dedos e viu uma criatura parada na lateral da igreja com sua visão de calor. Abaixou a mão e a visão voltou ao normal. Escolheu o aplicativo de ligação.
_ Tayla?
_ Leonardo? Aconteceu algo?
_ Então, tem uma criatura perto da igreja do Paranoá, parece ser um Puxador. Mas no mapa não houve reconhecimento. Lembre-se em dar manutenção do seu traje.
_ Tá bom. Mas se acontecer de novo, volte pra cá. E por favor, se cuide aí.
_ Fique tranquila. Está tudo bem. Desligo.
Respirou fundo.
_ Modo combate.
Sacou as duas adagas, uma em cada pulso e energizou-as. O pequeno mapa que estava vendo na lateral direita da sua visão mudou para o reconhecimento de calor, contagem de balas e estado do traje, e na esquerda a contagem de criaturas reconhecidas naquele local. No caso, zero. Mas o sensor de calor e o vulto indicava que ela estava ali.
Leonardo sabia exatamente o que estava fazendo, como se aquilo já fosse corriqueiro. Andou devagar em direção à igreja notando a movimentação da criatura que estava estagnada atrás da lateral da igreja. Parou a menos de dois metros de virar e dar de cara com ela. Ficou observando-a pelo sensor de calor e o sistema ligou os propulsores auxiliares de combate a curta distância. Ela estava de frente para a esquina com os braços abertos, o que não era uma característica normal dos Puxadores, apesar da estatura baixa, dois metros, ser condizente.
Olhou fixamente por entre a parede onde a criatura estava e o aplicativo de identificação dava negativo. "Droga de traje bugado", pensou Leonardo. "Vamos lá".
Leonardo pressionou os pés ao chão dobrando levemente os joelhos, projetando seu corpo para frente. O traje trocou a música eletrônica, que antes era suave, para Moonbound, de Anzo, e os propulsores das costas auxiliou a ligeira guinada na esquina, deixando Leonardo cara a cara com a criatura, que esboçou um golpe com suas garras de cima para baixo da mão direita. Apoiando o pé direito ao chão, o traje ajudou-o a pular pela esquerda e girar ao ar, cravando a adaga na orelha da criatura e aproveitando a inércia do giro, desceu a faca do pulso direito nas costas da criatura, abrindo um rasgo enorme fazendo-a cair de frente, sem nenhuma reação.
Olhou fixamente a criatura inerte mas não houve identificação, segurando um pedaço do tecido que saiu das costas dela. A música voltou ao normal.
_ Emergência.
_ Leonardo, aconteceu algo?
_ Encontrei uma criatura mas não houve identificação. Mandei foto dela agora mesmo e uma coleta de tecido.
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Nova Brasília
FantasyConto feito em desafio de um grupo literário que participo. O desafio era escrever um conto tema natal ou ano novo, mas contendo uma das pessoas do grupo como personagem. No meu caso, tirei o participante chamado Pedro.