Photographer.

Capítulo 1

"As vezes tudo que você precisa é de um incentivo. Um gatilho, algo que faça você voltar a sentir algo antigo, adormecido, talvez até algo que desperte coisas novas em você. Esse incentivo vem várias formas, você escolhe qual vai ser a melhor."

Finalmente depois de tantos anos as coisas estão tomando seu rumo. Eu me formei em fotografia à três anos e hoje trabalho para uma revista consideravelmente relevante aqui no Japão, a Jishu-Tekina, além de fazer trabalhos independentes pelo meu nome. Os conteúdos são bem diversos, acho que por isso o trabalho se torna tão divertido e leve. Na mesma semana que eu faço um ensaio com filhotes de pato no lago local para uma matéria, eu viajo até a outra ponta da cidade para fazer um ensaio erótico para um casal e recebo absurdos em dinheiro por isso. É estranho, mas sempre divertido e, o mais importante, lucrativo. Aproveitando a deixa, o segundo exemplo é a minha situação atual. Cheguei pela manhã na cidade fria de Osaka, um lugar tão único e especial que me trás inúmeras memórias boas. Felizmente o verão estava próximo, o que tornava o clima muito mais gostoso. Foi onde eu nasci, cresci, estudei e me formei no colégio. Me descobri de todas as maneiras, passei por todas as aceitações que precisava, virei um homem. Não sei se bom ou não, tive que me mudar para Tóquio quando quis cursar a tão sonhada faculdade de fotografia e acabei me afastando de tudo e todos por aqui. As vezes eu penso em como seria se eu tivesse ficado por mais tempo. Apesar de frequentemente ser visitado pela minha família, nunca mais ouvi falar dos amigos que eu mantinha por aqui. Apesar disso, não diminui em nem um pouco a minha consideração por eles, afinal, esse afastamento total foi minha culpa. Eu que sumi de repente, e ainda teve o empecilho que me impediu de falar com eles quando cheguei. Gosto de acreditar que eles ainda me consideram amigos assim como eu considero eles. Em Tóquio só tenho Ochako e Iida para me acompanharem, veja que eu moro por lá à cinco anos. Osaka é uma cidade calma e cheia de dualidades, uma coisa que sempre me fascinou. Quase tanto quanto a paisagem, o motivo de eu ter me apaixonado por fotografia. Eu queria gravar cada pedaço desse lugar, ângulos, colorações, tudo. Até mesmo uma árvore daqui já era mil vezes mais interessante do que qualquer outra que eu tenha visto em Tóquio. Suas dualidades, a mudança a cada estação. Eu nutria sentimentos por muitas coisas aqui, tantas memórias boas com a minha turma do colégio. Posso me lembrar perfeitamente de dois dos meus amigos de quando era menor, eles em específico foram os mais presentes na minha vida. Nós éramos completamente grudados, sem descanso nenhum segundo. O trio perfeito, conhecido como a Santa Trindade, uma piadinha idiota entre os professores e nossos pais. Sempre estávamos juntos, se ajudando e fazendo coisas idiotas de crianças. Era uma boa época, acordar todas as manhãs com a ansiedade e felicidade de ver os dois. Algo tão pequeno mas que era tão importante pra mim antes. Me arrependo de muitas coisas, inclusive da maneira que me forcei a sair da vida dos dois. Lamentável, o jovem Midoriya realmente era um idiota.

Bom, sobre o meu trabalho aqui, assim como eu disse antes se trata de uma sessão erótica para um casal. Eles me contataram somente dando as iniciais, seja quem K.B. e S.T. sejam parecem bem sigilosos quanto a isso. Talvez somente uma memória picante, podem estar no auge da relação ou talvez na ruína dela. Quem sabe. São muitas possibilidades atrás de um e-mail extremamente formal e de aparência tão sigilosa. Não é comum não ter nomes nos e-mails, geralmente só acontece com pessoas relevantes mas mesmo assim, é mil vezes mais prático um tipo de staff vir falar com a gente. Mas, depois de conversar com o meu chefe sobre o e-mail, ele me disse que a fonte era totalmente confiável e bom, não se questiona quem está no ramo a mais tempo que você. O ensaio só começaria de fato amanhã então tirei o dia para passear pela cidade, me lembrar de tudo que vivi aqui. Eu estaria vindo para Osaka de qualquer maneira já que entrei de férias recentemente então foi só um bônus. Mais dinheiro antes de descansar, não tenho do que reclamar. Eu pretendo viajar bastante nesse tempo, revisitar todos os países que eu já fui mas não tive tempo de apreciar. Eu amo o que eu faço, mas não deixa de ser cansativo. As viagens não são proveitosas, minha mente só consegue pensar em trabalho. Ser fotógrafo é extremamente difícil, quem me dera fosse só apertar uma câmera e nada mais.