Van Helsing e o Vampiro

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O caçador adentrou a porta lateral do cemitério para me encurralar. Parecia debochar de mim quando parou em minha frente, com as pistolas empunhadas.

— Como sabia que eu estaria aqui? – perguntei, tentando desesperadamente encontrar uma brecha para correr dele.

Antes de responder, Van Helsing segurou a aba de seu chapéu, e olhou para a lua. Respirou fundo, e virou os olhos verdes gélidos para mim:

— Só segui o rastro de um monstro. O ar aqui está fedendo a sangue amaldiçoado... Aliás, já tem dias que tenho notado seu cheiro, me observando pelas sombras. De início achei que fosse só minha imaginação, mas... Finalmente te achei.

— Se afaste! – gritei ao ver que ele deu um passo em minha direção, mas não adiantou. Van Helsing continuou vindo mais e mais perto. À medida em que eu me afastava, sem ver o terreno atrás de mim, o sorriso do caçador ia se alargando. Ele sabia que eu não tinha para onde fugir. Sem ver onde pisava, tropecei, caindo ao lado do poço inativo entre as lápides. — Não se aproxime mais, senão eu...

— Senão o quê? Está definhando, monstro... O que acha que pode fazer comigo nesse estado?

Sim, eu estava fraco. Desde quando Van Helsing tinha notado? Pelo que ele dissera, tinha consciência de que passei as últimas semanas seguindo seus passos. Fui enviado até ele com a missão de exterminá-lo, pois tem dizimado minha raça um a um. Porém, ao testemunhar o modo como Van Helsing se importa com as pessoas e ver como ele enfrenta as criaturas trevosas sem piscar, meu ímpeto de matá-lo se esvaiu.

Por mais que soasse absurdo algo assim dito por uma criatura vil, passei a admirá-lo. Não apenas por sua gentileza e habilidades, mas também por sua beleza que transitava entre o angelical e o selvagem. Quase podia dizer que o amava... E isso era imperdoável. Os malditos como eu não amam. Apenas matam.

Em meu íntimo, tinha plena noção de que falhei em minha tarefa de acabar com ele. Estava há muito tempo sem tomar uma gota de sangue, o que me deixava sem forças. E para piorar, eu sabia que não era somente meu belo Van Helsing que estava me caçando. Sentia o fedor "deles" ficar mais forte a cada minuto... Talvez o caçador ainda não tivesse notado, mas estava em perigo, também.

— Saia daqui, Helsing... Eu não sou o inimigo que procura. O que está para acontecer aqui não é da sua conta.

— Ah, não? – O cinismo destilado nessas duas palavras chegaram até mim, fazendo minhas entranhas reclamarem em protesto pela fome. — Desde quando não é de minha conta o fato de pessoas serem mortas por escórias da sua laia? Você é um monstro, e estou aqui para te matar.

O cano de sua pistola se elevou, e senti o metal frio em minha testa. Eu não queria aquilo... Não estava certo... Tudo o que eu precisava era de algumas gotas do líquido rubro para recobrar parte da vitalidade, e então eu poderia acabar com os verdadeiros monstros que se aproximavam a cada precioso segundo. Com isso, eu poderia proteger a mim e ao meu caçador.

Aqueles demônios foram enviados para se vingar, por conta de minha traição, e tudo o que eu queria era dizimá-los. Depois disso iria embora para sempre e nunca mais daria a Van Helsing o desprazer de minha presença. Não me esgueiraria mais pelas sombras para observá-lo... Não o desejaria mais.

Sentindo a ardência na testa, por causa da proximidade da bala revestida de prata no cano da arma, temi por minha vida. Prostrado diante dele, com as mãos trêmulas sobre o gramado, minha voz quase falhou:

— Não sou o que você pensa que sou...

Apertei as pálpebras, para não ver o momento em que Van Helsing puxaria o gatilho. Ele forçou a arma ainda mais contra mim.

Van Helsing e o Vampiro (CAPITULO UNICO)Onde histórias criam vida. Descubra agora