Olivia
Faz 100 dias.
Meu cabelo cresceu até a metade do meu queixo. Eu posso senti-lo.
Se não tenho um pedaço de um caderno e o resto de um lápis para me fazer companhia já tinha perdido minha cabeça.
Eu conto os dias e ponho no meu caderninho. Juntamente com alguns pensamentos insanos de assassinar o rei. Prisioneira da coroa.
Só parte da rotina.
Me perguntava todo dia se meus companheiros de resistência estariam tentando me salvar. Mesmo que não fosse o protocolo. No protocolo se você é pego é como se estivesse morto. Os mais próximos de você tentam te resgatar por um mês ou dois, e depois pode esquecer. Vai ter que se virar sozinho.
Não que eu estivesse sozinha na resistência contra a monarquia. E eu esperava ansiosamente que essa pessoa ainda estivesse pensando em um modo de me tirar daqui. Mas uma voz no fundinho na minha cabeça era pessimista e me dizia que essa masmorra era mais segura que o próprio castelo.
São dois metros quadrados, uma janelinha na parte mais alta da parede em que eu via a luz do sol indo e voltando todos os dias. O lugar era escuro, um breu. Gotas pingavam em uma sincronia absurda em algum lugar. Imagino que não seja só por tortura.
E as vozes.
As vozes e os gemidos não muito distantes me faziam lembrar constantemente que algo ou alguém além de mim estava ali também.
Eles me alimentavam com uma espécie de mingau. Todos dias uma fresta na minha porta abria e alguém colocava uma tigela com um líquido pastoso identificável que tão pouco tinha sabor de alguma coisa. Eu comi nos primeiros dias porque estava com fome. Eu comi nos dias seguintes porque queria sobreviver.
Tem 4 dias que eu não como.
E as tigelas não se cumulam, sempre que eu comia e deixava uma tigela vazia ela era reposta no dia seguinte.
Não houve reposição de tigelas desde o dia em que eu parei de comer.
No terceiro dia em que eu não comia nada eu ouvi uma voz diferente. Não era um gemido ou uma voz baixa como as que eu estava acostumada a ouvir. Era quase como um sussurro alto.
— Me deixa passar! - a voz disse.
Silêncio.
— Ela deve estar morrendo de fome. - A voz falou em tom mais baixo ainda.
— Ela é uma prisioneira e não um animalzinho de estimação. — disse uma voz mais firme.
E depois mais nada.
O que me fez pensar se haveriam câmeras em cada cela. Ou talvez somente na minha.
***
Depois de 30 dias aprisionada me permitiram tomar um banho.
— Porque você é mulher — Me disseram.
Então uma vez por mês eu podia tomar banho, no dia em que eu escolhesse. O que me permitia sentir um pouco mais humana e menos animal.
Uma vez por mês minha cela se abre, e misteriosamente não há ninguém por perto. Abre como passe de mágica.
Na primeira vez eu tentei fugir. Era um impulso, um instinto de sobrevivência.
Passei correndo por uma porta em que se lia 'chuveiros' e cinco passos depois eu estava abatida no chão com uma arma de choque.
Sem banho aquele mês.
Pensei que depois desse ato de rebeldia eu estaria sem meus privilégios femininos, porém não. No mês seguinte as portas da minha cela se abriram novamente. Eu hesitei um, dois segundos e a porta se manteve aberta.
Um zunido soa uma vez a distância. Da segunda vez o alarme soa mais rápido sacudindo a cela.
Eu entendo o aviso e dou um passo à frente da cela e a porta se fecha.
Eu estou sozinha. Dessa vez não há um sinal de luz ou cores, está tudo escuro. Eu encosto a mão em uma parede, é úmida e pegajosa, e sigo o caminho até tentar encontrar algo parecido com a porta de um banheiro que eu havia visto da outra vez.
São quase cinco metros até meus dedos encostarem em uma superfície diferente. Era madeira meio podre e cheia de lascas, assumi que era a tal porta do banheiro em que eu havia visto e a abro.
Há luz aqui dentro. Quer dizer ainda é escuro, mas há um tom de luz que eu consigo ver as sombras das coisas e aos poucos meus olhos vão se habituando ao lugar.
O lugar está mais para um vestiário. Há pelo menos uns seis chuveiros, três de cada lado. Os azulejos e o piso são brancos, porém ambos estão amarelados e encardidos.
Não perco mais tempo, rapidamente tiro todas as peças de roupas que me sobraram e passo os olhos pelo local a procura de uma toalha e já devia esperar que não houvesse nenhuma. Seria demais.
Na parede em que deveria estar a torneira do chuveiro há um botão e logo acima um aviso: após o pressionamento do botão a água correrá por cinco minutos e logo após o desligamento do chuveiro acontecerá automaticamente.
Okay.
Pressiono o botão e água corre fria. Eu levo um choque assim que as gotas batem nas minhas costas, estamos no fim do outono, quase inverno, porém não me importo, há tanto tempo não tomava um banho.
Passo o pé pelos cantos do chão até encontrar um pedaço de sabonete, e o esfrego nas partes que realmente importam e no meu cabelo. Meu cabelo grande que eu sentia tanta falta.
Mau acabo de enxaguar o sabão e chuveiro desliga. Visto minhas roupas ainda molhadas e retorno para minha cela escura.
Assim que entro percebo uma mudança, no canto da cela há um cobertor. Ele é grande o bastante para caber duas pessoas e tem cheiro de novo. Junto com ele há um bilhete:
"Espero que as coisas melhorem. JL"
JL? Seria Jean Lucca? Jean Lucca o príncipe mais novo...
Não! Eu estava delirando, provavelmente era só um guarda querendo alguma coisa.
Esses dias trancada sem ver a luz do sol, estavam finalmente me fazendo ficar louca.
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A Rebelde
RomanceOlivia é uma Rebelde que luta contra a monarquia absoluta do seu país. Bonita, impulsiva e sem papás na língua Olivia se vê por um descuido como prisioneira do rei. Há dias ela não vê a luz do sol, ou o barulho do vento, afinal as pessoas estão ocu...