PRÍNCIPE

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22h, essa foi a hora em que eu cheguei a tal festa a fantasia.
Ao contrário dos meus amigos, eu não estava nada empolgado para essa festa pois, além de não saber dançar, o aniversariante não ia muito com a minha cara.
Com muito cuidado para não trombar em ninguém com o meu sombrero mexicano, que por sinal era o único adereço que eu usava, atravessei a pista de dança e cheguei às mesas.
O garçom serve a primeira rodada de bebidas para mim e os meus quatro amigos. Está aí algo que me fez vir a essa festa, eu estava disposto a encher a cara.
Um, dois, três copos seguidos e eu já começo a enxergar embaçado, mas nada que me impeça de usar o celular.
Meia hora se passa desde que eu adentrei o espaço e eu já contei dez vezes em que meus amigos me chamaram para dançar alegando eu não estar me divertindo.
Depois de muita luta eu resolvi levantar e ir dar uma volta pelo espaço, guiado em direção a comida, atravessei algumas pessoas até a mesa de doces e salgados. Comi algumas coxinhas e voltei a caminhar pelo espaço a procura dos meus amigos.
Foi quando eu o avistei pela primeira vez.
Por algum motivo sua fantasia de príncipe se destacava entre as outras, talvez seja pelo seu cabelo colorido vazar pela coroa deixando alguns cachos caídos pela sua testa.
Uma mão no meu ombro me tirou dos meus devaneios, minha amiga me arrastou para a pista de dança me fazendo perdê-lo de vista.
Para lá e para cá, eu me movia automaticamente ao som da música que pelo visto só eu não conhecia. Mais copos de bebidas eram ingeridos e eles me faziam ficar leve, não ao ponto de dançar, mas me dava coragem para procurá-lo.
Dei algumas voltas pelo espaço a procura dele, mas não o encontrei, não é possível que alguém com o cabelo mais colorido que um arco-íris desapareça assim!
Pergunto para os meus amigos se eles viram o tal príncipe, porém eles respondem que não.
Frustrado e alcoolizado, me sento em uma cadeira aleatória e abaixo a cabeça, decido que essa festa já deu pra mim. Sem me despedir dos meus amigos atravesso o portão de entrada e desço as escadas, me deparando com ele sentado em um degrau, a cabeça encostada na parede indica que ele está... Dormindo?
- Licença - peço e ele fecha as pernas para que eu passe. - Posso me sentar aqui?
- Se quiser se juntar a um deprimido e me ouvir lamentar sobre a vida - ele me responde e eu solto um riso. - Sinta-se à vontade!
- O que te faz ser um deprimido que reclama da vida? - Pergunto me sentando ao seu lado e impedindo qualquer movimentação na escada.
- Eu vim pra essa festa pra esquecer uma pessoa e adivinha...
- Ela tá aqui! - Completo e ele suspira. - Ah, qual é, o que foi que ela te fez?
- Me traiu! - Ele me responde frio.
- Triste...
- Eu prometi que não iria me apaixonar por ela, mas a vida tem dessas... - Ele conta segurando a coroa que antes ocupava a sua cabeça. - E você, por que não está curtindo a festa?
- É que festas não são a minha praia. - Conto. - Na verdade eu já estava indo embora!
- Então por que está aqui me ouvindo lamentar por um amor que não deu certo?
- Quando eu te vi na festa você parecia ser mais do que alguém que lamenta por um amor que não deu certo! - Respondo.- Na verdade você me parecia muito alegre.
- Eu realmente estava decidido a curtir a festa, mas no final acabou que nem uma bebida eu tomei...
- Não seja por isso! - Digo me levantando e estendendo a mão para ele. - Tá afim de encher a cara?
Adentramos novamente a festa, agora eu tinha uma companhia com o mesmo propósito que eu, beber até cair.
Primeiro drink e ainda falávamos sobre a sua ex, ele me contou como descobriu que foi traído e como ficou devastado nos primeiros dias.
Segundo drink e agora é a minha vez de desabafar sobre as coisas da vida. Como eu nunca estive em um relacionamento, todos os meus problemas são voltados a minha família. Nossa relação é muito conturbada e eu acabo descontando na bebida, como estou fazendo agora.
Perdi as contas de quantos drinks nós tomamos e sobre quantos assuntos nós conversamos, ele é extremamente divertido, tem um papo muito bom e parece ser uma boa pessoa, como alguém conseguiu trair ele?
- Vamos dançar? - Ele me convida.
- Eu não danço! - Respondo dando mais um gole no meu drink.
- Nada disso! - Ele fala se levantando e me estendendo a mão. - Eu topei beber contigo, agora você tem que vir dançar comigo!
- Tudo bem, mas não me culpe pela vergonha que você vai passar! - Aceito me levantando.
Nunca uma dança foi tão divertida em toda a minha vida! Eu achava que não sabia dançar, mas isso foi até eu ver os passos engraçados que ele fazia ao som da música e ele parecia não se importar com as outras pessoas em volta. Não sei porque, mas eu tinha a sensação de que não era a bebida que havia deixado assim.
Já eu estava tão bêbado que não percebi as horas passarem, porém isso ocorreu apenas na minha mente alcoolizada, a noite já era dia e meus amigos precisavam ir embora.
- Você precisa ir! - Ele fala rindo e me provando que estava tão bêbado quanto eu.
- Antes eu preciso te dar um beijo! - Digo tentando parecer sexy, numa tentativa completamente falha, e ele exita.
- Eu nem te conheço!
- Não seja por isso, prazer, Diego , agora você me conhece! - Digo segurando a sua nuca e o beijando.
Meu sombrero mexicano nos dá uma certa privacidade, pelo menos na minha cabeça. Seria estranho se eu dissesse que a boca dele tinha gosto de todas as frutas que já provei e que isso condizia tanto com o seu cabelo, quanto com a sua personalidade irreverente?
Eu tinha a certeza de que nunca mais o veria, precisava ao menos saber o nome do garoto com lábios doces e cabelos coloridos, que tomou um porre comigo e me fez dançar na frente de todo mundo!
- Prazer, Nicolas!

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