sangrava desespero, abuso de si mesmo, esforços esgotados a esmo e todos aqueles sentimentos sufocantes.
teus lábios tremiam, as lágrimas enxugavam sua pele, o cabelo inclinava-se regado por vida própria, lançando-se a qualquer canto.
o banheiro apertado cheirava a solidão e água sanitária barata. as cortinas eram pesadas, espessas, traziam tensão.
o espelho de borda chanfrada grudava-se à parede, trazendo a si mesmo a impressão de que fazia parte desta. era prata e dourado, belo, requintado, de um alto-relevo florido e formoso.
nauseado, jeongin aproximou-se do objeto. suspirou, inclinou o rosto. não, para o outro lado. ergueu o queixo, achatou o nariz. isso não pareceu tão bom, largou-o.
as costas da mão lançou-se sobre a bochecha alva, querendo trazê-la à cor. houve outro suspiro, outro ângulo a ser observado, outra característica a ser comparada.
aqueles caras na tv eram bonitos. tinham pálpebras duplas e afins, com seus rostos finos e feições delicadas. doce afrodite, beijou-os cada um com intensa ternura.
mas não era eles ali naquele espelho, e sim o mesmo estranho e abominado yang jeongin. gostava de pegar as revistas, brincar de sete erros, assim como quando menor.
a diferença é que naquele joguinho de sete erros frente ao espelho, jeongin sempre encontrava mais de dez errinhos que, pouco a pouco, destruía toda a tua obra.
apontava cada um, tentava mudar, consertar, encontrar um jeito de resolver a situação. não importava, por mais que tentasse, nada seria do seu jeito.
por isso sempre cobria o espelho com o tecido de cetim ao lado da pia. sentava-se e decidia que não olharia mais. não olhava.
não gostava de comparar-se, não gostava dos comentários sobre seu aparelho, não queria ninguém elogiando-o.
jeongin olhava para a sua aparência e envergonhava-se cada vez mais. fugia de fotos, de situações em que as pessoas encaravam-o, conversas sobre beleza.
odiava o padrão, porém seu único desejo era fazer parte dele. não conseguia de modo algum e passou a acreditar que nunca iria fazê-lo.
fora ele quem pusera aquilo na cabeça, ninguém iria mudar. todos seus defeitos estavam públicos, todas suas falhas para que todos vessem e julgassem.
mas o tecido sempre caía, a verdade era sempre revelada. tinha de aprender a contentar-se com a metade do pão.
as meninas não gostavam de grandes corações, do quão gentil ou legal seja. meninas gostavam de caras bonitos para admirar.
se nem jeongin conseguia admirar-se no espelho de casa, qual garota iria conseguir fazer?
afinal, excedia um decimal a tamanha erroneidade do seu rosto esquisitamente tendencioso.
pena que só ele enxergava aquilo.
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7 erros✨jeongin
Fanfictione nessa brincadeira de sete erros frente ao espelho, jeongin sempre encontrava mais de dez.