Body Talk • Seuljoy Side.

Body Talk

Já faz um mês que você não responde as minhas mensagens, nem retorna as minhas ligações, o que está acontecendo? Hoje deveria ser o nosso segundo aniversário de namoro, deveria ser especial mas onde está você?

Não parece que a dois anos atrás nós estávamos juntas, jovens e imaturas, de mão dadas no novo parque de diversões em Seoul, andando milhões de vezes na montanha russa, aquele dia foi tão divertido, me lembro como se fosse ontem, você se declarando. Quando anoiteceu, nós fomos na roda gigante assistir os fogos de artifícios, eu não me recordo de nenhum deles, só lembro do sabor algodão doce da sua boca enquanto acariciava meu cabelo e dizia o quanto gostava de mim. O anel era de bala de framboesa, mas não tinha problema, o importante era você ao meu lado.

Os primeiros meses foram complicados, o ensino médio havia terminado e não tínhamos o que fazer a não ser procurar emprego e entrar na faculdade. Eu escrevia nas horas livres, mas não pretendia seguir essa carreira, nossa paixão sempre foi a arte, eu com a dança e a escrita e você com a atuação, mas o medo de tentar algo novo me deixou nervosa, e eu desisti de tudo pra estudar Direito. Eu odiava aquele curso. Todo dia você ia me buscar pra assistir suas peças de teatro, sempre com temas fortes, surpreendendo o público, você é tão inteligente, eu amo isso. Até que em umas das peças você pediu que eu dançasse, estava tão enferrujada, mas foi renovador, a música me renovou. Obrigada.

Após desse dia, eu desisti do curso, começamos a morar juntas e eu voltei a dançar, você fazia algumas peças durante a semana e eu fazia audições, era a única forma de nos sustentar, já que a nossa família nunca aceitou nossa união.

Pra aumentar uma categoria nas audições, eu comecei a vender algumas composições, você dizia amar a minha voz, assim fiz alguns covers, juntas produzimos algumas músicas e coloquei nas plataformas musicais, podia me considerar uma cantora indie. Você me achava a melhor.

Depois de alguns vídeos que viralizaram, você conseguiu um papel na novela principal da noite, foi um momento tão feliz, você estava conseguindo o reconhecimento que devia e eu me orgulhava disso. Em um programa de variedades te perguntaram a sua canção favorita, e você não hesitou em dizer "Always In My Heart", melodia que eu fiz pra você. Foi incrível, a música tocava em todos os lugares, o público te amava e começou a me amar também. Gravadoras me ligavam todos os dias, pediam colaborações ou até contratos, comparei todas e escolhi uma, as produções foram contínuas, sempre compondo, você era a minha inspiração.

Quando lancei o primeiro álbum foi a melhor coisa do mundo, todos pediam pelo menos uma música do álbum pelas rádios, finalmente eu estava sendo reconhecida e da mesma forma que eu fiz por você, você fez por mim.

Junto a agenda cheia, tínhamos pequenos encontros em restaurantes, cinemas, casas noturnas, ou apenas o aconchego de casa. Bom, no começo. As turnês se iniciaram e eu vivia mais em hotéis do que em casa, você trabalhava em novos seriados e viajava para o exterior. Mesmo com ligações constantes, eu percebi que tinha algo esfriando, você não estava bem, ou seria coisa da minha cabeça?

Quando eu pude voltar para Seoul, soube que tinha se mudado, suas coisas não estavam mais lá, eu te liguei perguntando o que havia acontecido, mas você só me disse: "precisava de um lugar maior" e "aqui é mais perto do trabalho" e eu não julguei, tudo bem. Pedi pra que nos encontrássemos mais vezes, mas você não quis, estava ocupada demais, e novamente eu concordei, eu te entendia, até virar costume as mesmas respostas, o que estava acontecendo? Tudo virou tão casual de cima a baixo, e eu estava com saudades. Precisava de você.

Enquanto separava algumas coisas em nosso antigo apartamento, ouvi meu celular apitar. Era uma mensagem sua. 

"Desculpe não te responder, eu marquei um horário no restaurante x ás 19h, podemos jantar juntas né? Te vejo lá."

Já eram 18h40, como se aquilo custasse a minha vida, me arrumei o mais rápido possível. Foi uma mensagem simples mas poderia ser uma nova chance para nós, podíamos começar de novo, ou até dar um novo passo. Eu estava tão ansiosa, peguei meu casaco preferido e calcei as botas, era hoje que tudo ia mudar.

Enquanto estacionava o carro, tentava pensar em algo pra te dizer, pedir desculpas, talvez tenha sido minha culpa não estarmos tão próximas.

Antes de entrar no restaurante, tentei ver pela vitrine se você já havia chegado e bom, estava lá, sentada me esperando, mordendo os lábios e balançando a perna, dava pra perceber o quão inquieta e insatisfeita estava, emburrada.

Foi aí que eu congelei e percebi tudo, como a minha esperança foi babaca e infantil. Eu sabia o que você estava prestes a dizer, eu conseguia ouvir cada palavra. "Devemos terminar". Eu não queria entrar, era medonho pensar em te perder, horrível a dor que batia na minha porta.  Eu sempre percebi o que você queria dizer só em te observar e dessa vez encontrei a resposta de toda ausência e decepção, você cansou de mim. Essa era a verdade. Eu queria chorar, voltar pra casa e fazer o maior escândalo, mas tudo que tem lá me lembra a você.

Quando voltei a realidade, te vi me encarando, não só emburrada mas também confusa com a minha expressão, que não era uma das melhores. Eu precisava encarar isso, precisava ser matura, eu só não sabia como viver sem você. Respirei fundo e abri a porta do pequeno restaurante.

Talvez seja a hora de aprender crescer sem Park Sooyoung ao meu lado.