Capítulo único.

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Ventava em Arcadia Bay, mas dentro de Chloe chovia, uma chuva forte, incessante, duradoura, antiga. Sentada no banco do farol, ela pensava em como sua vida tinha se tornado um caos enorme nos últimos cinco anos. Seu pai havia morrido, sua mãe casado de novo e claro, Max fora embora, a abandonado quando mais precisava.

O sol estava se pondo, laranja amarelado, a luz se apagava aos poucos, enquanto a escuridão começava a se erguer, junto a lua, inimiga jurada da estrela. Tudo aquilo também refletido pelo oceano abaixo, que agia como um espelho, copiando e imitando aquela imensa beleza.

A verdade era que Chloe invejava o fato do sol conseguir se pôr e ser trocado por algumas horas. Queria isso, ser substituída, sumir, qualquer coisa menos viver naquela cidade, viver essa vida. 

Ela estava cansada de tudo. Era insuportável estar na própria pele, na própria casa. Sua mãe exigia que interagisse com David. Será que ela considerava ele um substituto do pai dela? Um marido que servia de prêmio de consolo? “Foda-se ele, nunca vai nem chegar aos pés do papai” pensou. 

E Max… Por onde começar? Max tinha sido seu tudo por tantos anos, tanto tempo. Antes daquele fatídico dia, Chloe nem considerava perdê-la. Achava que seriam uma constante. Nunca mudariam. InocenteIngênua. Claro que Max iria embora e nunca pensaria nela de novo, ela não era tão importante assim, não é? Jamais havia sido.

Rachel estar desaparecida poderia ser a prova disso. A prova que tinha sido abandonada de novo. Ela se sentia insuficiente, e provavelmente era para todas essas pessoas. Qual o seu valor ali? Em que tinha ajudado, feito parte? Sua estadia em Blackwell? Uma piada. Por que? Por que isso acontecia repetidamente? “Por que todos sempre vão embora?” 

Chloe respira fundo. Não tem sentido tentar entender, é um fato que todos sempre se vão, precisa aprender a lidar com isso. É a realidade. 

Percebe como sente muita falta de seu pai, ele saberia o que dizer para que ela ficasse melhor, sempre sabia. Se abraçariam, passariam o dia vendo algum desenho bobo, comendo pizza junto com Max e tudo ficaria mais leve de carregar, qualquer peso parecia assim quando dividido com eles. 

A ciência da perda rasgando-a, drenando-a até perto do limite. Decidiu pegar uma das latas de cerveja até então esquecidas ao lado do banco, no chão. Um gole, dois, três, quatro. O álcool começando a anestesiar sua veias novamente, dando um pouco de alívio. Temporário, mas necessário. Levantou-se, focando a atenção no penhasco a sua frente. Seria tão fácil pular, o fim traria silêncio àquele barulho. Andou um pouco mais. Quase lá, tudo vai passar depois disso. 

“Você consegue, Chloe” pensou, se encorajando.

Tão focada naquele momento que não tinha notado uma mão em seus ombros e alguém chamando seu nome. Uma voz parecida ao fundo. Quem era? Por que sentia que devia saber? Virou-se, ficando desnorteada e prendendo a respiração quando finalmente viu quem a chamava.

Os cabelos castanhos curtos, as sardas, os olhos azuis como o oceano que há pouco encarava, assustados, nervosos. Max. Sua melhor amiga, que tinha ido embora, a abandonado, estava agora parada sem jeito ali. Na sua frente. Na sua cidade.

“Max?”

“Hey, Chlo” disse a menina, com a voz falhando. “Senti sua falta.”

Com a raiva que sentia sendo transformada em saudade e depois em confusão, Chloe questiona. “O que faz aqui, Max?”

Um milhão de perguntas surgiam na mente da de cabelos azuis, perguntas essas que ela esperava que a garota respondesse. Mas a mais importante do momento: Max a tinha visto perto do penhasco?

“Eu vim estudar fotografia em Blackwell. Faz mais ou menos uma semana que tô aqui, não parava de pensar no farol, em você. Então, como fui liberada um pouco mais cedo hoje, decidi vir. Não esperava te encontrar aqui” respondeu, tirando algumas dúvidas da punk. “Chlo… Você ia mesmo pular?”

Como um furacão, rápido e destrutivo, o ódio voltou, subindo pela garganta de Chloe, deixando um gosto amargo em sua boca quando ela respondeu. “Sim, eu ia. O que você esperava de mim, Maxine? Depois de tudo o que passei, sério, o que você esperava? Uma menininha feliz, animada e alegre? Me poupe. Você saiu. Você foi embora. Para de agir como alguém que se importa, você NÃO tem esse direito.”

As palavras entraram cortando como uma faca no coração de Max. Ela sabia que era horrível por ter abandonado Chloe, não passava um dia sem que o arrependimento batesse, sem que se culpasse. Também imaginava que não seria recebida com beijos e abraços, mas nunca tinha imaginado esse cenário e ela tinha pensado em milhares. Sua antiga melhor amiga estava completamente diferente, era outra pessoa. O que ela achava? Que Chloe a perdoaria? Não tinha certeza se perdoaria a si mesma se fosse o contrário. Antes que pudesse impedir, lágrimas brotaram em seus olhos.

“Chloe, eu...” era difícil falar com a dor que sentia em sua garganta, pelo choro. Mesmo assim continuou. “E-eu sinto muito, juro que sim. Não tenho desculpas pro que fiz, posso apenas dizer o quanto estou arrependida. Sei que devia ter mandando mensagens, ter te ligado, mas eu não consegui. Fui idiota. Por favor, me perdoa, Chlo. Eu prometo nunca mais te deixar, se você me perdoar.”

Os grilos eram a única coisa que impediam o lugar de cair em silêncio total. O sol já tinha se posto, a luz do farol era o que mantinha alguma iluminação. Chloe tentava assimilar tudo que tinha escutado Max falando com o que estava sentindo. Sim, estava com raiva da menina, porém vê-la ali, pedindo desculpas e chorando era demais. Há algum tempo atrás tinha chegado a conclusão do porquê não conseguia parar de pensar em Max de forma nenhuma. Ela a amava. De verdade. Então, é de se entender como ela queria tanto perdoá-la.

Max que antes se encontrava com o olhar vidrado em seus tênis, levou um susto com o barulho de Chloe se aproximando, ergueu o rosto para encará-la. Seus olhos se encontraram, azul no azul. Os dois brilhando pelas lágrimas e algo mais. SaudadeAmor. Desejo tomando conta das duas. A punk se aproximou, colocando a mão no rosto da hipster. As respirações se misturando. Para surpresa de Chloe, foi Max que cortou a distância entre seus lábios. Mas, foi ela que aprofundou o beijo. Ficaram se beijando até o ar se fazer necessário novamente e se separam, ofegantes. 

Elas se abraçaram, tentando passar a sensação de que não pretendiam mais ir embora uma para outra. Segurança. Quando Chloe finalmente disse o que as duas tanto ansiavam.

“Eu te perdoo, Mad Max.”

Perdão (Pricefield)Onde histórias criam vida. Descubra agora