—Nunca pensei que poderia estar deixando você sair da cidade, ainda mais sozinha.
—Por favor, papai, não me trate mais como uma garotinha. Eu saberei me cuidar.
—Tenho certeza de que saberá.— consigo ver o sarcasmo nos seu olhar como um espelho.
Me dirijo à fila do despache de bagagem com o celular na mão, enquanto dou uma leve bisbilhotada no site da escola.
—Nem deve ser tão ruim assim... Dentro de alguns dias já terei me adaptado, certeza.— falo baixinho, enquanto olho de longe meu pai ocupado ao telefone, com certeza falando de negócios ou tratando da demissão de algum funcionário, pela expressão irritada. Ele nunca teve tempo para mim. Lembro-me do dia seguinte a morte da minha mãe... Ele nem sequer conseguiu me abraçar ou dizer que ficaria tudo bem. A nova babá já fazia esse papel, porém muito mal. Na verdade, ele nunca foi carinhoso comigo. É como se, para ele, eu fosse algum erro que veio apenas atrapalhar seus planos. Por mais que eu me esforçasse, para ele, nada estaria bom o suficiente.
Me dirijo ao portão de embarque. Nenhum abraço. Nenhuma lágrima. Nenhum "até logo". Nenhum "eu te amo".
Olho para trás na esperança de ao menos um sorriso dele, mas ele não estava mais olhando para mim. Consigo ver, apenas sua silhueta por trás, subindo lentamente a escada rolante. Desta vez, uma lágrima brota do meu olhar. Não consigo entender de qual sentimento ela nasceu. Minha cabeça está confusa e me sinto enjoada, mas devo seguir em frente, de qualquer forma.
Esperando na fila de embarque, me pego pensando se sou culpada pela morte de minha mãe. Sim, ridículo! Porém, qual outra desculpa seria mais plausível para tamanho desprezo? Não consigo imaginar.
—Senhora? SENHORA!
—Ah! O quê?!
—Preciso de um documento com foto, senhora.— desperto do meu devaneio com a ajuda da voz impaciente da comissária de bordo.
—Ah, sim! Só um segundo.
Tiro do bolso traseiro da mochila minha identidade. Ela avalia o documento, escaneia o código de barra da minha passagem e, finalmente, depois de horas esperando, libera minha entrada no avião.
Aguardo, impacientemente o momento da decolagem da aeronave, enquanto um bebê resolve que quer chorar desesperadamente, logo atrás de mim. Ao meu lado, uma garota de cabelos loiros e olhos verdes-claro, lê uma revista de fofocas enquanto ouve música. Quando ela nota minha presença, me lança um sorrisinho debochado. Retribuo, meio sem graça, mas principalmente por não conseguir ir com a cara dela, mesmo.
Finalmente! O avião resolveu levantar vôo. O lado ruim é que a criança atrás de mim não para de gritar. Realmente, essa é a pior viagem que faço em toda minha vida. Além disso, meu estômago resolveu que vou ficar enjoada durante toda a viagem. Merda!
—Atenção, senhores passageiros! Estaremos passando, no momento, por uma breve turbulência. Por favor, apertem os cintos e mantenham-se em suas poltronas até um aviso prévio. Agradecemos sua colaboração, tenham todos uma boa viagem.— a voz do piloto é a voz de Deus. Porém com o balanço da turbulência não consigo segurar a ânsia e... Ah não! Droga! O que eu acabei de fazer?!
—VOCÊ FICOU LOUCA, GAROTA?!— consigo notar o quão enfurecida ela está.
—Não foi minha intenção, eu juro! Peço mil desculpas, de verdade!— falo nervosa, depois de conseguir vomitar todo o meu almoço em cima da minissaia da mesma garota loira que acaba de me olhar com ar de nojo. Agora, com certeza, a vontade dela de me ver na merda ficou cada vez maior.
—Você acha mesmo que se desculpar vai realmente resolver meu problema?! Não deveria nem estar sentada aí! Vai buscar algo pra limpar essa coisa nojenta de mim, agora!
Rapidamente uma das aeromoças corre até nós e tenta resolver o problema que causei. Para evitar um assassinato em pleno vôo, ela consegue convencer um senhor a trocar de lugar comigo, algo que ele faz gentilmente.
Meu Deus! O que está acontecendo comigo? De uma hora para outra sinto como se minha vida fosse desabar neste exato momento.
Se eu sei o que fazer para me sentir melhor? Não faço a menor ideia.
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Never...
RomanceNascida em família rica e rigorosa, Sophia finalmente se vê livre das reclamações de seu pai, mas para se aprisionar em regras ainda piores. Mal sabe ela que nada será como ela ou seu pai esperavam. Um romance sem tabus. Você vai surpreender-se c...