O lugar era caótico. Muitas pessoas, veículos, cachorros latindo e barulhos diversos que se juntavam formando uma singular cacofonia passavam pelos seus ouvidos, mas sem sucesso para serem processados pelo cérebro. As imagens da correria diária de cada um formava uma infinidade de cores e poluição visual que, mais uma vez, não eram processadas pelo seu centro de comando.
Apesar de estar sentada há horas no ponto de ônibus numa posição que normalmente não seria nada confortável, acrescentando o fato da perversidade do sol em queimar a pele e danificar as retinas, isso também estava sendo passado despercebido. Ela tinha consciência de que vários ônibus da sua linha já haviam passado, mas seus músculos não se mexiam para procurar ver o letreiro e muito menos levantar daquele banco. Era como se sua cota de energia estivesse alta (afinal, havia dormido na noite anterior), mas seu acesso fosse restrito pelo sistema. Não conseguia se lembrar dos últimos dias e, mais preocupante, dos acontecimentos que a levaram até ali. Supunha ela que seria parte da sua rotina diária.
Sua respiração era calma, mecânica e silenciosa... Assim como sua mente. Tão caótica por causa de problemas quanto era aquela rua em que estava, parecia que os dois ambientes poderiam estar em certa harmonia quando ainda tinha um resquício de sanidade mental. No entanto, assim como seu corpo se comportava, seu interior agora encontrava-se completamente apático e esmagado pela depressão.
O sistema estava quebrado, havia parado de funcionar. Teias de aranha e poeira passaram a tomar conta dos mecanismos que um dia funcionaram de maneira fluida e competente, muito antes de serem atacados por crises de pânico que disseminavam o mais profundo e intenso desespero.
Aquilo passou a ser uma crise de existência.
Mas por fim o sol se pôs, a lua mostrou-se brilhante e ela ainda permanecia ali. Seus olhos fecharam-se, tomados pelo cansaço da falta de comida em seu interior. O ritmo do seu sistema cardiovascular tornou-se mais lento, tão lento que em poucos minutos cessou seu trabalho. Era dali que ela estava indo: do nada para o nada.
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Expressões do tédio ou da inspiração
RandomTextos com temas aleatórios que escrevi em momentos de inspiração ou simplesmente quando não tinha nada melhor pra fazer e a ideia parecia interessante.