alguns ossos empalhados

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contemplo o quadro pendurado na parede. um abismo se abrindo e sendo engolido pelo magma laranja-tocha.

há o viés que entrega e que capricha no subliminar, e aquele cheiro característico de morte certa salta da tinta descascando na ponta do quadro. imagino que, se eu pender meu corpo ao norte, vou escorregar e atravessar a pintura da paisagem, um medo voraz circulando os ossos das omoplatas.

adiante, o frio: taxidermia abraçando o gelo dos ossos, embora o magma continue a escorrer. um pavor genuíno me faz colocar as mãos para trás do corpo e me distanciar um pouco da tela.

fios de vida escorrendo pelo tempo e entrando entre as brechas do abissal, colossal e de tudo que se pode ver e tocar.

pisco por um instante. a tela evaporou e o cheiro de queimado me toma a bile.

morte certa.Onde histórias criam vida. Descubra agora