Eu esperava do lado de fora do quarto de Lucy, sentado no sofá da sala, a pedido do doutor De Santis, que achou que seria melhor falar a sós com ela. Eu sabia que estava agoniado e ansioso quando percebi que não conseguia controlar a tremedeira em minhas pernas e pela sensação de que o minuto demorava muito a passar. Por isso, eu mal posso dizer quanto tempo fazia que o doutor estava lá dentro, mas, agora, ele finalmente saíra do quarto, atravessava o corredor e vinha em minha direção. Eu rapidamente me levantei ao seu lado.
- E então, doutor, como ela está?
- Olhe, Pedro, eu preciso lhe dizer que a situação de Lucy não é das melhores. Ela parece estar piorando a cada dia que se passa, e eu mesmo nunca vi algo assim. Lucy pode estar desenvolvendo alguma doença ainda desconhecida pela medicina, portanto, não há muito o que eu possa fazer, principalmente sozinho. Ela precisa de cuidados médicos de urgência, Pedro. Você sabe que eu estou fazendo o possível para conseguir uma vaga pra ela em algum hospital...
- Hospital? eles estão todos lotados! eu procurei em todos - TODOS! - os lugares por um hospital que pudesse atender a minha filha e todos me diziam ''desculpe, senhor, não temos vagas. Aguarde na fila, junto com outras 80 pessoas à sua frente esperando''. Isso é revoltante, doutor, revoltante! o senhor não imagina a dor pela qual eu estou passando, e eu não posso imaginar a dor que a minha filha está passando! - desmorono sentado no sofá, levando a mão ao rosto, escondendo o choro chorado em meio aos soluços.
- Pedro... - disse ele, sentando ao meu lado, pondo a mão nas minhas costas à me consolar.
- Me desculpe, doutor, o senhor não tem culpa da minha revolta. Na verdade, eu lhe devo muito por toda a ajuda que tem nos dado. Eu só não consigo ajudar a minha filha, tudo o que pude vender gastei com seus remédios, e em breve eles acabarão e eu terei de ver minha filha sofrer mais ainda - lágrimas pesavam mais nessa última sentença
Ele deixou que eu tivesse meu momento de exteriorização de sentimentos por alguns respeitáveis minutos. Nisso que se seguiu ele tentou me consolar mais:
- Eu farei o que for possível para ajudar a vocês, mesmo que no momento eu não possa ser capaz de muita coisa. Você é um homem muito forte, Pedro. Muito. Sua filha deve orgulhar-se de você
Eu tentei agradecer, e acredito que minhas palavras tenham saído numa voz baixa, abafadas pela minha respiração de quem chora descontroladamente.
Passado algum tempo, eu lhe perguntei:
- Por que o senhor está se preocupando tanto conosco? quer dizer, está fazendo mais do que outro médico faria...
- É porque eu ainda possuo uma virtude que está tão rara no mundo e que muitas pessoas se assustam ao vê-la: a humanidade... sabe, me assusta as pessoas agradeceram por algo que devia nascer e desenvolver-se em qualquer indivíduo... além do mais, eu te tenho com um grande carinho, pois foi você quem levou o meu filho pro hospital naquele acidente enquanto outros ficaram apenas usando a câmera do celular. Nesse dia eu percebi que a humanidade não estava em completa extinção. Você nem o conhecia, mas salvou a vida dele. Eu já lhe disse isso mil vezes e direi mais outras mil: obrigado!
Eu, que já não conseguia emitir palavras, apenas lhe sorri, com a esperança de que ele pudesse entender tudo o que eu queria responder com o olhar. Nessa hora, ambos nos assustamos com o repentino grito de dor que Lucy emitiu no quarto
- Ela está tendo outra crise - disse o doutor - tome esse remédio, dê-lhe-a, fará com que a dor diminua e, devido a um efeito colateral, ela dormirá em dentro de dez minutos.
Ele retirou do bolso do jaleco uma caixa de comprimidos de nome estranho e estendeu para mim, que apanhei.
- Ela não vai conseguir tomar agora, está agitada demais. Em uns dois minutos a crise diminuirá e ela ficará mais suscetível a tomar o remédio. Agora, se me permite, eu já acabei o que tinha de fazer aqui.
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Um Drama Paternal
Short StoryUm pai, que cuida de sua filha doente, recebe notícias nada positivas do médico a respeito da saúde de sua filha. Desesperado, ele precisa tomar decisões nada fáceis...