Base Aérea de Hornchurch - Inglaterra - 10 de Setembro de 1940

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A sala dos oficiais estava cheia, com aproximadamente vinte pilotos, divididos em pequenos grupos, jogando ou conversando sobre táticas de combate para enfrentar os alemães.

Todos aguardavam a comunicação do chefe de voo. Os pilotos acordavam sempre às quatro da manhã para que em uma hora pudessem fazer a revisão das aeronaves. Durante esse trabalho eram verificados oxigênio, quadrantes de tiro, motores e munição. Somente depois que tudo estava conferido ficavam de prontidão, aguardando o inimigo, que sempre vinha no começo da manhã e só parava de surgir no final da tarde.

Naqueles dias aqueles pilotos participavam da maior batalha aérea da História: A Batalha da Inglaterra. Os alemães estavam bombardeando todo o Sul do país e até mesmo Londres estava sofrendo ataques. Todos os dias os céus se enchiam de aviões alemães de todos os tipos, de caças a bombardeiros leves e pesados. Hitler tinha colocado toda a Luftwaffe com um único propósito: aniquilar a força aérea inglesa, para que a operação Leão do Mar, a invasão da Inglaterra, pudesse ser realizada.

Mas a máquina de guerra aérea alemã comandada por Göering não contava com a resistência tenaz daqueles jovens pilotos, que estavam resistindo além do limite de suas forças, voando a todo o instante para defender o seu país de terrível destino.

O piloto John Miller olhou pela terceira vez para as suas cartas e observou com o canto dos olhos seus três amigos, deixando escapar um leve sorriso de seus lábios. Nunca tinha sorte com o pôquer, mas naquele dia ela finalmente parecia estar sorrindo e ele não iria desperdiçá-la. Conferiu as horas no velho relógio preso à parede, ele marcava 6:55 da manhã, e os pilotos tinham combinado jogar até as sete, a menos é claro, que fossem designados para voar.

Isso significava ter que enfrentar os boches mais uma vez.

Seu amigo David sorriu ao apanhar mais uma carta.

— Muito bem senhores, é como diz o ditado, azar no jogo, sorte no amor. — E colocou suas cartas na mesa.

— Do que está falando? — perguntou John.

O jovem David, que tinha vinte anos e o rosto cheio de sardas, se limitou apenas a sorrir.

— Venho informar a todos os que estão sentados nesta mesa, que vou noivar com Mary no final de semana.

— Está brincando?

— Não, Thomas, não estou. Falei com o pai dela ontem à tarde durante mais de três horas. Não foi fácil convencer o velho Wilson, mas finalmente ele concordou.

— E se ele não permitisse? — perguntou Thomas acendendo um cigarro.

— Droga! Eu não desistiria de casar com ela nem que tivesse que lutar contra toda a maldita Luftwaffe.

E colocou o corpo ligeiramente para frente e continuou.

— Ninguém, senhores, ninguém vai me impedir de tê-la em meus braços.

— O que você acha disso, John? — Perguntou Thomas.

O piloto olhou calmamente para seus amigos. Para ele, aquela notícia significava muito mais que o noivado de seu melhor amigo. Significava que apesar da guerra, a vida e os planos para um futuro continuavam em suas mentes.

— Fico muito contente, mas para mim não é surpresa nenhuma. Eu conheço esse cretino desde a infância e posso lhes garantir que quando mete uma coisa na cabeça, não desiste nunca. — E depois sorriu para ele — Mas é importante que continuemos nossas vidas apesar de guerra. Eu também pretendo casar com Helen, já fizemos planos para isso.

O Último Inimigo - I ParteOnde histórias criam vida. Descubra agora