Tubarão/Santa Catarina/Brasil - Dias Atuais

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O taxista olhou para o sinal de trânsito e torceu para que ele fechasse. Deixou escapar um leve sorriso quando parou o carro e com mais calma, olhou pelo retrovisor para analisar melhor seus dois passageiros.

Afinal de contas não eram todos os dias que dois alemães entravam em seu táxi.

O primeiro era jovem. Não tinha mais que vinte e cinco anos. Os cabelos eram curtos e escuros, os olhos eram pequenos, de cor castanho-escuro, e seus lábios eram finos, assim como os traços de sua face. Deveria ter aproximadamente um metro e oitenta e trajava um terno azul impecável. O outro já era um senhor de idade avançada, na faixa de oitenta, oitenta e cinco anos. Também usava um terno azul, com diferença na gravata, que era preta, enquanto que a do jovem era verde-clara. Era um pouco mais baixo que o primeiro. Tinha a face enrugada pela idade, os cabelos grisalhos e bem aparados e os olhos eram azuis.

O sinal abriu, ele sinalizou e entrou pela direita, desviando do centro da cidade. Trezentos metros à frente, o carro parou em outra sinaleira.

— Desculpe a minha intromissão, mas por acaso vocês são parentes?

O jovem, sem tirar os olhos do posto de gasolina à esquerda, respondeu com sotaque bastante carregado.

— Sim, ele é meu avô.

— E vocês vieram da Alemanha direto para Tubarão?

A resposta veio simples e afirmativa.

— Sim.

O Taxista ficou pensativo. "Tubarão não é uma cidade grande. Situada no sul de Santa Catarina, possuía aproximadamente 110 mil habitantes. A atividade principal é o comércio varejista, mas havia algumas indústrias de destaque. Também não podia caracterizá-la como uma cidade turística, apesar de se localizar próximo de Laguna, cidade histórica e com belas praias. Uma das possibilidades que estavam em sua mente eram as águas termais existentes em Gravatal, outra cidade que não ficava distante mais de 20 quilômetros dali". Ele balançou a cabeça e pensou consigo "Esta cidade deveria ser centro comercial para os turistas, como o Fritz e o Hans ai atrás. Talvez o idoso alemão tivesse vindo fazer um tratamento nas águas termais como tantos outros que procuram o local com bastante frequência". Ele procurava imaginar qual era o real motivo da presença daqueles dois estrangeiros na cidade. Ajeitou o retrovisor e observou melhor o passageiro mais velho. Este, por sua vez, observava atentamente as pessoas que andavam nas calçadas, como se estivesse procurando um velho conhecido.

Desde que entrara no táxi, não havia dito nenhuma palavra. "Talvez, nem fale português" — pensou. Pegou o papel que tinha recebido deles e observou mais uma vez o endereço. Uma das coisas de que ele poderia vangloriar-se era que conhecia muitas pessoas na cidade. E as pessoas que residiam naquele endereço não fugiam à regra, pois se tratava de uma bela jovem e seu avô. Ele mesmo já tinha levado aquele senhor algumas vezes até sua residência. Era um homem reservado, e educado e era natural do Rio Grande do Sul, só não lembrava a cidade.

Isso aumentava de certa forma o mistério.

Resolveu tentar quebrar o gelo novamente com os dois ocupantes do veículo.

— Em que cidade vocês moram na Alemanha?

Ele recebeu o olhar irritado do jovem pelo retrovisor.

— Berlim.

— E sempre moraram lá?

— Sim.

O taxista pensou um pouco. Se o velho sempre morara na Alemanha...

— Então, seu avô estava lá durante a Segunda Guerra?

O idoso alemão, que tinha naquele momento a cabeça levemente abaixada, levantou-a lentamente e fitou os olhos do taxista pelo retrovisor e naquele momento ele teve certeza de que, se ele não falava, pelo menos entendia o português muito bem. O taxista pôde ver um olhar forte, do tipo que nunca demonstra medo. Sem dizer uma única palavra, ou sequer alterar sua expressão facial, ele piscou os olhos lentamente e votou-se para os pedestres que passavam pelo veículo.

O Último Inimigo - I ParteOnde histórias criam vida. Descubra agora