Capítulo Único

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Olá. Eu sou o anjo Elandriel. Não ouviu falar de mim? Tudo bem, vamos tentar de novo, eu sou mais conhecido como Mensageiro do Caos. Nada ainda? Certo, bem, tenho que admitir que isso é justificável, não sou tão celebrado pelos mortais quanto meus irmãos, diferente deles, eu não apareço para anunciar boas novas, o que eu faço pode ser desagradável para os receptores da mensagem: meu trabalho é criar confusão.

É, é isso mesmo que você leu, eu sou um anjo que cria confusão por onde passo. Dizem que Deus escreve certo por linhas tortas, então, sou eu o responsável por entortar as linhas: alguém precisa perder um compromisso que o levará em uma direção indesejada? Pessoas precisam de um empurrãozinho para encontrar o amor de suas vidas? Não tem problema, deixa com o papai aqui que eu resolvo.

Não podemos interferir expondo nossa existência aos mortais, por isso temos que encobrir nossas ações, fazendo-as parecer explicáveis dentro dos sistemas de crenças deles e, modéstia à parte, eu sou um verdadeiro mestre nessa arte: eu causo uma confusãozinha aqui, faço um freio falhar ali, uma carteira sumir acolá e sem que as pessoas percebam eu as coloco no rumo certo.

Eu costumava achar esse o melhor trabalho do mundo, adorava ver a indignação das pessoas com o infortúnio e sabia que elas ainda precisariam de algum tempo para perceber que aquilo fora para o melhor. Mas, com o passar do tempo, aquilo tudo começou a perder a graça.

Estava ficando entendiado e tive uma ideia brilhante para agitar um pouco mais as coisas: por que não elevar o nível da brincadeira? Eu comecei a causar confusões cada vez maiores para atingir meus objetivos, quanto mais chamativo o incidente mais divertido ficava, até que eu fiz algo realmente épico: eu descarrilhei um trem inteiro só para que uma pessoa não conseguisse chegar ao seu destino.

Foi o ato mais incrível de toda a minha vida, uma ação monumental, mas nem tudo mundo achou aquilo tão engraçado quanto eu. No fim, acabei convocado por São Pedro, braço direito do mandachuva, para uma conversinha não tão feliz em sua sala celestial:

— Que merda foi essa Elandriael? Descarrilhar um trem inteiro por causa de uma única pessoa? Você só pode estar de sacanagem comigo... Sabe quantos destinos foram desencaminhados por causa disso? Sabe quanto trabalho nós teremos para corrigir essa besteira?

— Hum... — disse engolindo em seco — é... então... sabe como é né? Eu não tinha pensado por esse ponto de vista...

— Pelo jeito você não pensou em nada! — Ele respirou fundo e depois continuou — O que está acontecendo com você Elandriel? Você costumava ser um funcionário exemplar, mas ultimamente está causando muitos problemas.

— É que eu estava entediado, queria fazer algo mais emocionante mas, talvez, eu tenha passado um pouquinho dos limites.

— Um pouquinho!? Você ultrapassou todos os limites! Eu não gostaria de fazer isso, mas você não me deixa escolha: eu vou ter que te mudar de função.

Aquilo me abalou. Causar o caos é a minha vida, eu sou o melhor nisso, tenho certeza. Como poderiam me afastar daquilo que eu amo, só por causa de um errinho qualquer...

Vendo minha desolação, São Pedro falou:

— Eu sei que vai ser difícil pra você mas isso é apenas temporário. Tudo o que você precisa fazer é manter essa garota a salvo — disse ele me passando a pasta com as informações sobre uma mortal — Achamos que você poderia aprender bastante com esta nova função.

— Eu vou ter que ser um anjo da guarda agora?

— Poderia ser muito pior Elandriel, por mim eu te afastava de suas funções por tempo indeterminado, mas o todo poderoso, no auge de sua misericórdia, separou pessoalmente este trabalho para você —disse São Pedro com um sorriso enigmático em seu rosto, alguma coisa não estava certa nesta história — Bom, agora eu preciso voltar aos meus afazeres, tenho muito trabalho pendente graças à sua trapalhada.

O Mensageiro do Caos (CONTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora