Epílogo

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Lee Donghyuck Point Of View

457 dias.

Faziam exatamente 457 que eu não saía de casa. Eu não ia no jardim, eu não caminhava pela rua, eu não andava de bicicleta, eu não ia para a escola.

Nada. Isso era tudo que eu fazia.

E eu estava cansado disso.

Parei de olhar para meu calendário ao me sentar em minha cama. Soltei o calendário e passei minhas mãos por minha cabeça e — em um movimento súbito — puxei meus cabelos. 

Eu estava com raiva, não é como se tivesse um motivo para eu ficar trancado em casa, eu apenas... ficava.

Meus pais nunca me contaram o porquê. 

Pra falar a verdade, eu não conhecia meus pais. Eu sabia como eram seus rostos e seus nomes, mais nada. Eu não me recordava sobre nada de sua personalidade.

Minha mãe me acordava todo o dia e abria todas as minhas cortinas — como se eu pudesse ver algo além das casas vizinhas e árvores  — e geralmente estava com saias compridas e regatas brancas ou floridas. 

Ela não falava comigo no café da manhã — que era pontual ás 08:30 de toda a manhã — e acontecia? Nada.

Minha mãe ajudava Ariel a colocar a mesa, enquanto meu pai folheava um jornal, que me parecia o mesmo toda a vez que eu o via na mesa. 

Em meus 19 anos de vida, se eu troquei mais de quinhentas palavras com meu pai desde meus 11 anos de idade, posso afirmar, que era muito. Ele era quieto e saía todos os dias de casa as 10h em ponto e quando voltava, eu estava dormindo — ou lendo meus livros para Snoopy.

Snoopy era meu cachorrinho, implorei para minha mãe adotá-lo, quando tinha em torno de 10 anos. 

Meu pai não gostou da ideia. Já ouvi ele e minha mãe brigarem incontáveis vezes por causa dele. Mas nunca deram Snoopy para outra pessoa, porque ele era a única coisa que me distraía do meu nada.

Isso era o máximo que eu conhecia sobre meus pais.

Me levantei da cama quando ouvi a doce voz de Ariel batendo na porta.

— Hyuck, você precisa se levantar - Ela entrou no quarto colocando suas mãos em cima de seu vestido. 

Sim, um vestido, para limpar aquela casa inteira. 

Eu a admirava, apesar de tudo ela sempre mantinha um sorriso.

Ela dizia que era pra me deixar esperançoso que algo iria melhorar um dia.

E então, casualmente, eu a beijava — não, ela não tinha 19 anos, mas não beirava os 30, então, qual era o problema?

Quando estávamos sozinhos e ela cantarolava The Neighbourhood pela cozinha. Ou antes dela ir embora.

Não importa quanto tempo se passasse, eu ainda beijava ela. 

Ela não reclamava, mas também nunca conversava sobre isso.

E eu? Preferia assim.

Não era como se eu a quisesse para mim. Eu não sentia muito.

Não sentia nada, na verdade.

Ariel ia embora todos os dias as 15h e era essa hora que minhas aulas começavam, até as 20h.

Todos os dias revisando coreano, matemática, história, geografia, inglês, biologia, física, química... sono, apenas ao cita-las.

Todos os dias as 20h, o professor ia embora. 

Quinze minutos depois — diariamente — um garoto se sentava em meu jardim e ficava lá, esperando por seus amigos.

Eram outros cinco garotos. 

Um tinha o cabelo rosa, o outro verde, outro tinha o cabelo moreno, um o cabelo azul e um cabelo preto.

Sei que citei só cinco, era porque o que sempre chegava primeiro era o que me chamava mais atenção.

Ele tinha o cabelo natural — comparando com suas sobrancelhas — e sempre estava com um maço de cigarros.

Na minha cabeça, eu chamava eles de Nada.

Se não fosse trágico vê-los matar a si mesmo todo o dia, seria cômico.

Eu os observava desde o dia 321.

Aqueles seis, na verdade, eram meu passatempo. 

Eu sentava em minha sacada, com meu livro favorito em mãos e esperava os seis se levantarem e andarem até um lugar desconhecido.

Eu chamava aquele lugar de Nada, porque mesmo que fosse um nada na minha cabeça, ainda era tudo que eu queria conhecer.

Mas aquela noite, foi diferente.

Antes de ir para o Nada, o garoto com a cor de cabelo natural, olhou para cima e acenou para mim.

E foi ali que eu percebi, que eu precisava sair de casa,

E então eu poderia conhecer o Nada.

ゞ♡


show me › markhyuckWhere stories live. Discover now