Coffee, Books and Cliché

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Haknyeon não era o tipo de pessoa que gostava de sair da rotina, por isso tentava sempre fazer as mesmas coisas todos os dias: acordava às seis e meia em ponto, passava na padaria perto de sua casa, comprava sólito sanduíche de queijo com peito de peru, chegava ao colégio pouco antes do sinal bater e se sentava na segunda carteira da terceira fila, aproveitando os poucos minutos que tinha para ler alguns parágrafos do seu livro enquanto o professor não entrava.

Mas em meio a tantos costumes que adquiriu com o passar dos anos, um deles se sobrepunha aos outros e ganhava destaque em sua lista de afazeres: visitar a biblioteca todas as tardes, no horário vago. Quando a segunda mesa redonda perto da porta estava ocupada, se sentava na frente; abria o livro de capa grossa na página que tinha parado e voltava a ler, mas só até ouvir a voz — ou a risada — do bibliotecário soar através do âmbito. Nesses momentos, Juhaknyeon parava de ler e, vez ou outra, apoiava o queixo na mão a fim de ter um melhor conforto para observar o aluno voluntário que perdia seu tempo na parte da tarde para ficar atrás daquele balcão de madeira, dando orientações e tomando café na mesma caneca de porcelana de sempre.

Talvez não fosse só Juhaknyeon que tivesse o hábito de não sair da rotina, afinal.

Ele não sabia dizer ao certo quando foi que passou a dar tanta atenção ao rapaz. Nunca trocaram muitas palavras, nada além de alguns "olá" e "boa tarde". Na realidade, a única coisa que sabia a respeito de Sunwoo era o nome — isso porque Kevin, um dos garotos da sua sala de química, entrou na biblioteca gritando, há uns dias atrás, eufórico, porque havia conseguido um beijo do garoto que gostava. Mas o fato era que Juhaknyeon não precisava de muito para abandonar sua preciosa leitura e observar os traços bonitos do rapaz. Às vezes, passava tanto tempo fazendo isso que Sunwoo percebia e acabava lhe mandando um de seus sorrisos de tirar o fôlego. Juhaknyeon sempre corava e voltava a agir como se nada houvesse acontecido, cravando os olhos no livro e demonstrando estar concentrado na leitura, mesmo que, por dentro, seu coração acelerasse as batidas como se quisesse explodir.

O irônico era que sempre rotulou como estereótipo as sensações diversas que acompanhavam o ato de gostar de alguém; coisas que nunca sentira na vida real, fora das histórias que lia. Mas depois de um tempo, teve que admitir que as tão famosas borboletas no estômago, o frio na barriga e o nervosismo nunca pareceram tão reais.

Porque quando Sunwoo sorria para ele, Juhaknyeon se enchia com todos aqueles clichês.

Quando pensava que as coisas não podiam piorar, começava a se identificar com a garota do livro e ansiava chegar logo ao capítulo em que ela tomava uma decisão que solucionaria seu caso indefinido com o garoto da cafeteria, talvez para tirar uma basee ter uma mínima noção do que fazer com a própria vida. Afinal, ele tinha que fazer alguma coisa, certo?

Na teoria, sim. Na prática, nem tanto.

Só a possibilidade de pensar em falar diretamente com Sunwoo deixava-o nervoso, e com toda razão. O Kim tinha vários amigos, pôde perceber. Era bonito, alegre e devia chamar a atenção de pessoas muito mais interessantes, então o que poderia querer com Ju Hak-Nyeon, um cara invisível que passava o tempo criando paranóias e enfiando a cara em coisas que o tiravam da realidade? Não, era melhor apenas observá-lo e permitir-se devanear algumas vezes, como estava fazendo naquele exato momento.

Era um dia chuvoso e frio. Não havia muitas pessoas na biblioteca, e Haknyeon podia imaginar seus colegas de classe aconchegados em casa, debaixo dos cobertores, visto que não eram todos que participavam das atividades extracurriculares do colégio. Ele próprio também não gostava muito delas, mas se obrigou a frequentar aulas extras de geografia, uma vez que tinha certa dificuldade na matéria e não queria ter problemas no final do semestre. Faltavam cerca de vinte minutos para seu tempo livre acabar, e ainda não havia conseguido ler sequer uma página do livro. Naquele dia, em especial, Sunwoo, com sua caneca de café exalando fumaça, havia conseguido chamar sua atenção mais do que já chamava nos outros dias. Talvez porque estavam sozinhos — com exceção de uma garota que vasculhavaas estantes do outro lado — e assim podia ouvir o maior cantarolar distraidamente enquanto copiava algo num caderno, quem sabe um dever de casa atrasado.

LIBRARY. sunhakOnde histórias criam vida. Descubra agora