•Algo de errado não está certo•
Uma bile amarga subiu em minha garganta trazendo o arrependimento de ter bebido tanto. Minha cabeça latejava como se alguém estivesse batucando dentro dela. Só de pensar em abrir os olhos minha mente revirava e eu sentia vontade de morrer.
Por mais que eu me esforçasse para lembrar o que tinha acontecido eu só conseguia visualizar o momento em que virei o quinto shot de tequila. Caramba! Minha memória tinha se apagado literalmente.
Virei para o lado já incomodada com a posição que estava e quase tive um infarto quando meu corpo encontrou algo macio e quente. Gelei consideravelmente e senti meu coração faltar uma batida. Ainda de olhos fechados eu estava torcendo para que fosse só um sonho. Mas não era.
Sem ainda acreditar tateei a cama e encontrei o braço de alguém. Santo Cristo! Mas que merda era aquela? Em um impulso sentei na cama e abri meus olhos. A claridade do ambiente fazia tudo ficar ainda pior. Depois de piscar os olhos várias vezes pude enxergar com clareza a burrada que eu havia feito.
Corri meus olhos pela cama e o que eu encontrei foi um Felipe desmaiado e coberto apenas por um fino lençol. Automaticamente levei meus olhos para meu corpo e senti uma vermelhidão considerável atingir meu rosto. Eu estava do mesmo jeito que cheguei ao mundo. Puxei o lençol na tentativa de me cobrir e acabei descobrindo o corpo nu de Filipe. Tinha como ficar pior?
Apavorada demais para conseguir ficar quieta me levantei com pressa e vi pela pequena janela que o sol já estava a todo vapor lá fora.
Calma aí! Pequena janela?
Quando constatei onde eu estava quase tive uma síncope.
- Ai meu Deus! - praguejei com a mão na boca ainda sem acreditar.
Meus olhos averiguaram o lugar ainda arregalados como se fossem sair para fora e minha mão continuava na minha boca.
Aquilo só podia ser brincadeira!
- Ai meu Deus! - falei mais alto já tomando consciência da situação.
Me aproximei da janela e constatei que eu realmente estava a mais de mil pés de altura.
- Não pode ser! - Passei minha mão pela testa e apertei mais o lençol ao meu corpo. - Não pode! - Falei alto o suficiente para Felipe se remexer e eu finalmente lembrar da sua presença ali.
Andei a passos firmes em sua direção e sacudi seu corpo decidida a saber o que havia acontecido na noite passada.
- Felipe, acorda! - Esbravejei enquanto o sacudia. Ele resmungou algo baixinho e virou-se para o lado. - Acorda, Felipe! Mas que merda! - o balancei com afinco e ele não moveu um dedo.
Ao notar um jarro com água em cima da mesinha de cabeceira, não pensei duas vezes e joguei toda a água na cara dele. Felipe levantou assustado sem saber ao certo o que estava acontecendo.
- Que isso! Tá louca garota? - Ele rosnou enquanto abria os braços em uma clara reprovação.
- Tô! Tô louca sim. Mas é pra te encher de tapas seu imbecil! O que eu estou fazendo aqui, Felipe? - Vociferei apontando a jarra vazia para ele.
Ele riu debochadamente e voltou a deitar com os braços embaixo da cabeça, deixando todo seu corpo nu amostra sem preocupação alguma.
- Ah você não se lembra? - Ele perguntou com a voz cínica e eu tive ímpeto de mata-lo. - Você berrou ontem a plenos pulmões que me amava e queria vir comigo para Chicago. E aqui estamos nós, princesa.
- Eu não acredito em você! É mentira! Eu jamais faria isso! - Perdi meu autocontrole e comecei a andar pelo pequeno quarto de tonalidade branca.
- Bom, se não quer acreditar não posso fazer nada. Mas infelizmente ou felizmente, só temos eu e você aqui. Ou seja, eu sou a sua única opção em quem confiar, catita. - Sorriu ironicamente e eu não aguentei.
- Seu cretino! Estúpido! - Desferi vários tapas consecutivos nele que apenas gargalhava. - Eu te odeio, Felipe. Te odeio!
- Sabe, Mônica, eu poderia facilmente passar o dia todo observando o seu corpo esbelto. - Ele sorriu descaradamente e só ai que eu percebi que o lençol havia caído.
- Oh, droga! - Me cobri e sai de perto do paspalho que apenas ria despreocupado.
Deus! Eu estava ferrada! O que meu pai faria quando soubesse que eu passei a noite com o filho do seu maior inimigo e ainda por cima estava viajando para outro país sem ao menos explicar nada a ninguém? Sem dúvidas ele me mataria. Mataria não! Morrer é algo fácil. Com toda certeza ele me trancafiaria em um convento e me obrigaria a virar freira. Eu seria torturada todos os dias e teria que assistir missas a cada duas horas.
E minha mãe? Coitada! Morreria de desgosto por ter uma filha depravada que manchou a imagem da família perfeita e feliz. Ela passaria os dias chorando e se lamentando até definhar e dizer que a culpa era toda minha.
Santo Cristo! Eu não estava preparada para isso.
Peguei meu celular que estava perdido dentro do caos que era a minha bolsa e liguei. Uma vez que eu não queria nenhum segurança me localizando através do GPS desliguei e o larguei lá.
E quando eu entrei no WhatsApp meu coração parou. Fotos e mais fotos minhas estavam espalhadas pelos grupos. E não eram fotos nas quais eu estava ao lado dos meus pais em algum jantar beneficente, aparentando ser uma moça recatada. Longe disso! Eram fotos onde eu estava em cima da mesa fazendo um strip para quem quisesse ver.
Arregalei meus olhos quando cliquei em um vídeo que era a prova do quanto eu estava louca naquela noite. Agarrada a uma garrafa de vodca, eu chamei a atenção de todos e gritei como uma maluca "eu te amo, Felipe Werneck!".
Balancei minha cabeça sentindo o mundo girar. Só podia ser um pesadelo. Virgem santíssima! Aquilo não podia estar acontecendo comigo.
Tudo aquilo me indicava um único caminho: a ruína. A carreira do meu pai estava comprometida. Minha mãe seria desacreditada na igreja e eu seria mandada para um internato bem longe do Brasil.
Minha vida estava fadada ao fracasso!
E quando eu achei que não tinha como piorar, me surpreendi. Brilhando na tela estava a foto do meu pai que eu havia colocado no reconhecedor de chamadas. Atendi ainda sentindo meu corpo suar frio.
- Pai?
- O que pensa que está fazendo, sua desmiolada?! - Estremeci. Eu conhecia aquele tom de voz mais do que ninguém.
De repente a ideia de enraivecer o meu pai se esvaiu deixando apenas um medo crescente se apossar de cada célula existente em mim.
- Pai, por favor...
- Acha que pode me desafiar, não é mesmo sua pentelha? - Gritou e eu senti minha alma vibrar. - Pois bem. Ainda essa semana eu irei falar com o presidente do conselho. E não adianta sua mãe pestanejar intercedendo por você. Irá casar nem que seja amarrada com Vangelis Cerqueira!
E o celular caiu da minha mão junto a minhas lágrimas.
Era o meu fim.
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Eu, Você E Alguns Drinks Depois
RomanceMuitos diriam que tudo o que se precisa para esquecer os problemas é de uma noite bem louca, regada a álcool, drogas e muito sexo. Pensando dessa forma, Mônica Werneck, uma patricinha que não tinha maiores preocupações a não ser a unha quebrada ou o...