prólogo

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O metal gelado da maca incomodava a pele exposta de meus braços, mas não havia como afastar naquela sensação, as grossas amarras de couro marrom que aprisionavam minhas mãos me impediam, recebendo reforços de três amarrar maiores que cruzava em horizontal meu tórax.
Ao meu lado havia uma mesa cromada e sob ela utensílios de uma cirurgia enferrujados, jogados em desleixo. Mas a frente um monitor cardíaco, ligado a meu punho esquerdo, entregava meu nervosismo através dos batimentos que registrava.
Meu pai parou ao meu lado, analisando as amarras e em seguida meu rosto. Sua postura entregava seu cansaço e sua feição entregava sua ansiedade, como se o mesmo não suportasse mais ficar de pé, mas continuava ainda assim, motivado por algo importante que precisava ser feito.

-Você está bem? ele perguntou. Não achei necessidade na pergunta, meu rosto entregava meu desespero.

-Não estou gostando disso.
mexi os dedos para mostrar que estava me referindo como amarras.

Seu rosto escureceu.

-Não precisa se preocupar -garantiu, a voz séria. -O que faremos agora irá curar você. - seus olhos foram para minhas pernas, mortas.

Eu não andava desde os meus 11 anos; havia sofrido um acidente de carro com meu pai que deixou meu corpo paralisado da cintura para baixo. E nos quatro anos seguintes ele se dedicou apenas a esse momento, trabalhando sem descanso em um soro que, segundo ele, seria capaz de me curar.

-Por que você não chamou a mamãe? questionei.

Foi como ter tocado em uma ferida; seus olhos se afastaram dos meus e quando se pronunciou, sua voz já não era tão familiar.

- Madara, traga as injeções. - a ordem foi dada e obedecida.

Um homem mais novo que meu pai, se aproximou com duas seringas em mãos, preenchidas por um líquido vermelho brilhante e se posicionou ao meu lado direito. Seu rosto era enigmático, mas jurei ter visto frieza no olhar que direcionou a mim.
- Mamãe vai brigar. falei olhando para meu pai, sabendo que se ela não estava ali era porquê não fazia a minima ideia do que estávamos prestes a fazer.

- Ela vai nos agradecer. -ele afirmou, senti que havia sido mais para si do que para mim. Madara, comece.

Assim que Madara encostou a agulha da seringa em meu pulso, meu corpo se retraiu, esperando pela dorzinha que veio no segundo em que ele perfurou minha pele, injetando o líquido reluzente em meu sangue.

- A Inserção da primeira parte completa. - Madara informou, retirando uma agulha e mostrando o embolo vazio da seringa, cujo líquido foi transferido para mim.

Eu podia sentir o líquido se espalhando pela minha veia, aquecendo e deixando pontadas por onde passava.

- O que você está sentindo? meu pai perguntou, curioso. No mesmo momento meu braço começou a arder por dentro, como se estivessem me furando com milhares de agulhas. Soltei uma interjeição de dor, olhando assustada para o membro. - 0 que está sentindo, Sakura?

Gritei quando a ardência se tornou queimação, fazendo o interior do meu braço doer como se houvessem ateado fogo nele. O monitor começou a apitar mais rápido, atraindo a atenção de meu pai que rapidamente levou a outra seringa até meu pulso.

- Não! - me mexi, tentando impedir de continuar. - não! Isso dói!

Ele me olhou nos olhos, mas não pude interpretar o que se passava em sua mente. Meus olhos encheram de lágrimas e eu comecei a implorar, tentando me soltar das amarras. Ele direcionou o olhar para meu pulso e então com rapidez, como se fosse perder a coragem caso demorasse mais para fazê-lo, introduziu a seringa, transportando o líquido para a veia do meu braço esquerdo.

A dor estava por toda a parte superior de meu corpo, onde ainda havia sensibilidade queimando todas as veias e fazendo meu coração bater dolorosamente. Então, meu peito pesava quilos; e a dor dessa pressão correu por minha mandíbula, garganta, costas e braços, fazendo com que minhas mãos se fechassem em punho, cravei as unhas no couro das amarras. Minha camisa parecia grudada em meu corpo; meu rosto estava molhado, de modo que já não se sabia o que era suor e o que eram lágrimas.

Meu corpo estava fervendo, tão quente que lembrei do vulcão no Havaí que visitei com meu pai um dia. "Você quer nadar no rio de fogo?", ele havia perguntado, "Não", eu respondi. Mas então, ali estava eu, mergulhada nas águas do inferno. Tendo cada parte minha em chamas. A garganta secando dolorosamente, até que respirar se tornou impossível.

O monitor não parava de acelerar e quanto mais rápido ficava, mais dor eu sentia.

- Ela vai ter uma parada cardiaca. - Madara havia dito lentamente, com calma olhando para meu pai na espera de um comando.

-Falta pouco.foi tudo que meu pai respondeu, os olhos fixados em meu rosto.

Gritel, sentindo o gosto de sangue na boca, mas parei assim que minhas cordas vocais decidiram me abandonar.Trinquei os dentes, sentindo os músculos do pescoço tremerem com a força exercida.

Eu nunca havia sentido uma dor como essa, que fazia parecer com que meus ossos estivessem sendo derretidos como manteiga.Eu só queria que acabasse, implorei para que meu coração parasse de vez, pois até a morte ainda era menos cruel.

Então, como se não bastasse a dor, a parte inferior do meu corpo, antes sem qualquer sensibilidade, começou a queimar também

- O que você está sentindo? -meu pai inquiriu.

Fechei os olhos com força, sentindo a dor se agravar agora que estava em todo lugar, em cada pedaço meu; dentro de mim, como se fossemos uma só.

- Me diga! - ele exigiu por uma resposta que eu não podia dar. Não conseguia mais controlar nenhum movimento meu. Eu era dor e apenas dor.

Meu corpo se retorceu involuntariamente e a expressão ansiosa de meu pai desabou, dando lugar ao choque, enquanto seus olhos estavam fixados em uma das minhas pernas que quase se dobrava. Movida através de um espasmo que não conseguia ir mais longe graças a dureza do músculo que nunca mais havia sido usado.

Meu pai parecia estar presenciando um milagre; assustado, agradecido, confuso. Ele levou as mãos até a cabeça e riu, como alguém que acabou de ganhar na loteria, e o som ecoou pelo ambiente, inundado de contentamento e orgulho. E aquilo soou doloroso aos meus ouvidos.

- Funcionou. - meu pai brandou; a dor se intensificando pelo meu corpo, meu coração quase explodindo. -Funcionou!

* Obrigada por lerem e não esqueçam de estrela se gostarem vai me ajudar bastante*

Máquina MortíferaOnde histórias criam vida. Descubra agora