- Hoje eu tô pra foda.
- Não vai foder com ninguém aqui hein! - Isis repreendeu.
- Foder não, mas beijar...
As amigas se entreolharam e riram, Isis sabia que não podia mesmo segurar a amiga e nem iria. Hoje ela precisava mesmo esquecer...
O centro de Cairo estava lotado, apesar de ainda estar de dia, tudo e todos brilhavam alegremente. O dourado prevalecia, em contraste com as peles e nuances de todas as cores. As músicas se misturavam e entre uma passada e outra, um esbarrão de sorrisos e corpos em movimento. Suor, glíter, bebidas coloridas nas mãos, Núbia sorria e apertava seu medalhão da sorte ao peito, preso a uma fina corrente de ouro, ele mudava de cor indicando quando ela estava em segurança ou em perigo. Hoje ele estava num vermelho vivo, estava tudo bem.
Mais amigos se juntaram a elas, a animação e expectativas eram contagiantes. Núbia começou a dançar e até se esqueceu da sua vingança, começou a se entregar à música e ao calor dos amigos a sua volta. Isis ficou mais tranquila, sabia que no fundo essa tal vingança doeria mais em Núbia do que no alvo em si...
- Bibi, me ajuda, olha aquilooooo
Núbia olhou na direção em que Amon apontava e viu um verdadeiro deus grego: alto, o peito nu totalmente à mostra, definido na medida certa, uma saia tufada preta completava o mistério, ornado com uma máscara negra de gato egípcio, pouco se via do seu rosto, embora nada negava de que deveria ser incrivelmente belo.
- E que tipo de ajuda você quer? – Ela perguntou sorrindo e já tentando adivinhar o que ele diria.
- Quero ele!
Amon gritou e começou a pular no ritmo da música, Núbia balançou a cabeça e olhou para o deus grego novamente, pensou ser quase impossível uma aproximação, ela mesma jamais teria coragem, ele era incrível aos olhos de qualquer um. Ela também se entregou a música, mais alguns goles de bebida e Amon iria esquecer o pedido. A noite caía e os brilhos aumentavam, assim como as pessoas. Núbia olhou a sua volta e repentinamente se lembrou de sua vingança. Precisava beijar alguém.
Com a aglomeração de pessoas no beco, Núbia e Isis se afastaram em dois grupos, porém visíveis. Um calor subiu pelas pernas de Núbia quando ela viu Ramsés beijando uma ninfeta loira e espevitada ao seu lado. Ela pensou "também quero" e não foi preciso muito esforço para que logo estivesse ao lado dos dois e foi só quando a ninfeta se virou para ela que ela viu que se tratava de um fado... Núbia virou o restante da bebida do copo em sua mão e fechando os olhos, beijou o fado sem se importar com nada. Sua vingança estava começando.
Dali em diante tudo foi uma sequência de flashes coloridos e bocas e línguas. Ramsés sempre deixava Núbia desconcertada, mas ali ela deixou o fogo tomar conta e colou sua boca na dele, de forma que logo seus corpos estavam grudados e quentes, lânguidos, alguma boca surgiu em meio ao transe, se juntou a eles num beijo triplo e confuso, era o fado outra vez. Núbia se afastou meio tonta. "Vou pegar uma bebida" ela disse sem som para Isis que a olhava com uma expressão de espanto e comédia, a algumas pessoas adiante.
No caminho para comprar a bebida, entre empurrões e mãos passeando por ela, ela se viu frente ao deus grego de antes. Rapidamente ela procurou Amon com os olhos e com alguns sinais, ela avisou que iria até ele. A bebida faz a coragem entrar e a vergonha sair.
- Oi. – ela disse e mal ele respondera, ela continuou na mesma euforia – Meu amigo quer você.
Ela disse de uma forma que ele achou engraçado e sorriu com o dedo dela parado no seu peito.
