UM

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Café.
Quente, forte e doce.
Podia ser em uma xícara ou em um copo descartável.
Ou talvez eu pudesse ter uma garrafa térmica inteira para mim se for comparar tamanho do meu cansaço.
Eu preciso de café!
E também preciso de um banho.
Quente, demorado, esfoliante e perfumado.
Pensando bem nem precisa ser na banheira, me contento com uma ducha, depois de quase 24 horas entre vôos e conexões em dois aeroportos diferentes, finalmente estou em Toronto para uma pausa de três dias antes de pegar a estrada novamente.
Puxei a minha mala mais rápido para sair da área de desembarque antes que a mesma virasse uma loucura ao perceberem quem também estava chegando em Toronto, algumas meninas que ali estavam já me olhavam e cochichavam entre elas.
Isso sempre acontecia, as fãs do Shawn me reconheciam e me associavam a ele desde sempre. E eu não me importo com essa atenção, ao contrário sempre procuro see gentil e ajudo o Shawn na interação com elas, mas não hoje.
Além da necessidade do líquido preto e do banho quente que acabaria com parte da minha agonia, a pressa em chegar em casa vinha da vontade de me esconder da minha outra fonte de agonia.
Shawn Mendes.
O músico mais idolatrado da atualidade, com shows esgotados no mundo todo, meu chefe desde que há 4 anos atrás se tornou conhecido e hoje é o ícone musical mais jovem a implacar todos os álbuns lançados, em primeiro lugar na lista de mais vendidos da billboard e se manter na mesma lista consagrada entre os dez artistas mais tocados de todos os tempos, vencedor de 4 gramys e meu melhor amigo desde que nossas mães compartilharam o antialérgico depois de comermos biscoitos de amendoins no mesmo parquinho.
O cara que deixou as marcas dos beijos dele no meu pescoço na última noite em que passamos em Sydney e quem estou evitando desde então.
Foi difícil evitar os olhos hipnotizantes que me encaravam toda vez em que eu deixava meu olhar correr para encontrar o rosto dele, nessas quase 24 horas presos em vôos e aeroportos mas eu consegui.
E como a mulher de 21 anos madura e bem resolvida que sou, estou tentando me esquivar das tentativas que ele fez de ficarmos a sós e as 10 mensagens que ele me enviou, para não precisar conversar sobre a insanidade que aconteceu entre nós. Muito madura, só que não né.
Durante a viagem foi fácil me esquivar dele, não ficamos sozinhos em momento algum, porque viajamos com o Andrew empresário dele e também com os integrantes da banda até a primeira conexão e depois seguimos somente com o Jake, segurança que nos acompanha e que reside também em Toronto, porém eu sabia que adiava o inadiável.
Porque além de trabalhar para ele, é no apartamento dele que eu vivo quando estamos na cidade.
Nunca foi declarado que eu moro com ele, que a casa dele é a minha mas é lá no quarto de hóspedes, que todas as minhas coisas pessoais estão.
Não houve uma mudança oficial, quando ele comprou a cobertura no centro da cidade nós ficamos tão empolgados com a conquista, com a independência de sair de vez da casa dos pais dele que foi natural que eu ficasse lá.
Nunca houve a opção de eu não estar lá com ele.
Somos melhores amigos.
Desde sempre, estive com ele.
Quando estudamos juntos e depois quando Andrew descobriu o talento do Shawn no aplicativo de música em que ele postava os vídeos em que tocava covers no violão. Quando ele assinou o contrato com a gravadora de maior reconhecimento da atualidade eu estava lá com ele.
Nossa união é tamanha que depois de terminarmos o colégio, Andrew me contratou para oficializar o trabalho que eu ja realizava sem saber, o de assistente pessoal do meu melhor amigo, organizando as seus horários, conferindo as perguntas nas entrevistas junto com ele, sendo quase uma extensão dele.
O único momento em que não estamos juntos é quando ele ou eu esta ficando com alguém.
E até nos relacionamentos que temos, fica logo claro que somos um combo. Talvez seja por isso que nunca damos certo com ninguém. Estamos sempre em relacionamentos de uma noite, transas rápidas porque nossa amizade além de causar ciúmes, nos basta.
E nunca houve sequer um momento de desejo entre a gente de levarmos a amizade para algo mais em todos esses anos.
Exceto na nossa última noite no quarto dele no hotel em Sydney.
Ele havia feito um show espetacular e nós estávamos comemorando com o pessoal, mas depois só ficou nós dois e ele me beijou.
Por que ele me beijou?
Por que eu retribui?
Não sou hipócrita.
Admito que gostei muito dos beijos que trocamos. Mas admitir para mim é mole.
Revivi o momento na minha mente vezes e vezes sem parar.
A sensação da boca macia na minha. De como o meu corpo pequeno se encaixou no dele tão grande.
Das suas mãos acariaciando minhas costas enquanto beijava meu pescoço.
Nós quase transamos.
Será que se o toque típico que alertava uma ligação da mãe dele não houvesse nos assustado nós teríamos parado?
E isso não pode acontecer.
Ele é meu melhor amigo.
A única pessoa que me importa de verdade.
Eu sou uma pessoa que gosta de racionalizar tudo e parece que meu cérebro virou uma gelatina desde aquele momento na jacuzzi.
Cheguei no Jeep que nos esperava estacionado no aeroporto, no mesmo lugar que eu havia deixado na nossa última folga, como eu já sabia as pessoas que se encontravam na área de desembarque, atrasariam a saída dele, não tinha jeito Shawn fazia questão de dar atenção aos fãs que o interceptavam. Não importa o nível de cansaço em que se encontra, ele sempre acha uma reserva de energia para retribuir o amor que recebe.
Jake o segurança só intervém se a situação se tornar perigosa.
Geralmente nas viagens para outros países o Jake dirige o carro que alugo e temos também o Fred outro segurança que dirige o ônibus da banda e dos instrumentos. Isso só não acontece quando estamos em Toronto. Aqui na nossa cidade, ele e eu dirigimos o Jeep.
Ajeitei as longas mechas negras do meu cabelo em um rabo de cavalo, já que agora não precisava mais esconder meu pescoço marcado, logo depois de colocar a bagagem no porta mala do Jeep.
Sentei no banco do motorista e apertei o espaço entre os olhos já começando a sentir os primeiros sinais de uma enxaqueca.
Liguei o carro e olhei no relógio.
Seis da noite e eu só preciso ir pra casa.
Café e banho.
Colocar meus pensamentos no lugar.
Demorou mais vinte minutos até Shawn aparecer no espelho retrovisor, arrastando o carrinho das malas com o case da guitarra em cima e segurando na outra mão um copo grande de café de uma cafeteria famosa que tem filial no desembarque do aeroporto.
Fiquei com raiva de mim por não ter tido a idéia de comprar o café primeiro.
Ele nem é tão necessitado, para não falar viciado, em café como eu mas sabia que um dos motivos da minha cara amarrada era pela privação da bebida quente e mesmo o ignorando desde a manhã de domingo, pensou em mim.
E mesmo eu sendo uma covarde e saindo na frente dele sem parar para fazer o meu trabalho e o ajudar a passar pelas fãs mais rápido, ele foi gentil em me trazer café.
E é por esse e por outros milhões de motivos que eu o amo.
Abri a janela do motorista e olhei para o rosto lindo dele.
Ensaiei um sorriso enquanto ele me estendia o copo de café.

Finalmente, nós dois.Onde histórias criam vida. Descubra agora