Mulher da noite. Botas com saltos, veludo preto, por toda a extensão das pernas. Um batom borrado, um cabelo bagunçado, vestido colado, perfume amadeirado sendo lavado pelo temporal dos céus.. e trovoa, estremece, encharca... a água, agora, escorre como o prazer pelo seu corpo. As gotas arrebentam-se nas pedras como o desejo explode em seu sentir. O frio estremece os seus dedos como se fossem suas pernas, perdidas no querer. Fios de cabelos molhados escorrem entre os seus dedos, deleitosos, como se fossem... e trovoa! Os trovões gritam aos seus ouvidos como os escolhidos gritariam naquela madrugada. Um desejo velado, pureza escancarada, depravações em seu olhar, tremores em seu caminhar... pela rua, escura, molhada, escorregadia como ela ali tão fácil ficaria. Três, dois.. um. Entregue, inteira. Amante da madrugada, feiticeira. Com uma boca que sorve todo o líquido oferecido pela tempestade, sem desperdiçar uma gota sequer daquele sabor, ardor, tanto calor.. recebido apenas de um vinho, o único convidado a seguir o mesmo caminho.
