Alice era uma garota como qualquer uma de sua idade. Notas boas, estava para terminar sua faculdade. Mas havia um porém: ela não tinha amigos e todos a consideravam estranha. O motivo? Nem mesmo ela sabia. Até seus próprios pais a tratavam de maneira indiferente - seu irmão mais novo era sempre privilegiado e mesmo que fizesse algo, era Alice quem levava a culpa.
Alice era fascinada por animais, principalmente por coelhos. Desde criança ela convivia com eles, pois seu falecido avô tinha um criadouro para esses pequenos orelhudos, no qual Alice visitava com ele sempre que ia até o sítio dos avós.
Certo dia após realizar todas as tarefas de manhã na casa, Alice esperou seus pais chegarem como de costume. A garota de cabelos castanhos estava estudando no quarto, quando ouviu a chamarem.
—Alice! — Novamente seu pai a chamava com tom severo, e ela se perguntava desta vez porquê brigariam com ela.
—Estou aqui. — Respondeu desanimada.
—Eu já não lhe disse para mexer na minha caixa de ferramentas?
—Mas eu não mexi nelas.
—Você mexeu sim! Não consigo encontrar nada por lá! Imprestável! Você não consegue fazer nada direito não é mesmo? Fica atrás destas coisas esquisitas e ouvindo musica o dia todo! —Disse seu pai apontando para seus desenhos.
—Não são coisas esquisitas... —Alice suspirou baixo, mais uma vez controlando sua raiva.
—São aberrações! Eu deveria me livrar disto e fazer você virar alguém útil na vida!
Seu pai fechou a porta do quarto com força a deixando sozinha, e mais uma vez ela se pôs a chorar. Alice sempre guardava sua raiva para si, cuja ela não conseguia liberá-la, como um bloqueio natural. Secou suas lágrimas rapidamente assim que ouviu sua mãe gritando seu nome para almoçar em "família".
[...]
Enquanto estava sentada no sofá ouvindo música e desenhando, seus pais a encaravam com uma carranca em seus rostos. Alice já estava acostumada com isso, mas isso ainda atingia ela de certa forma. Tentando evitar isso, a garota foi lavar a louça que sempre estava suja, não importava o quanto ela tentava manter limpo.
Alice ouviu as botinas pesadas de seu pai se aproximarem dela. De certa forma, a garota tinha medo de seu pai, tanto que evitava de usar roupas consideradas "chamativas" ou "sexy", como por exemplo shorts e regatas. Enquanto lavava a louça, seu pai disferiu um tapa em sua bunda, sem motivo algum. Segundo ele, era como uma forma de "brincadeira", mas Alice odiava isso. Ela se sentia assediada.
—Pare de fazer isso! — A garota tomou coragem para se defender— Isso machuca!
—Eu sou seu pai, eu posso e vou te bater.
A garota sentiu um aperto em seu peito ouvindo aquelas palavras enquanto seu pai ria e sua mãe se mantinha calada sentada no sofá. Era sempre assim, sua mãe era "submissa" ao seu pai, e Alice era submissa da família toda, quase como uma escrava. Havia dias em que a garota passava mal por ter ansiedade desde criança, mas com o tempo isso apenas piorava, chegando em um nível de deixar a mesma doente com várias dores no corpo ou até mesmo com falta de ar, e muitas vezes ela encarava isso sozinha.
[...]
Após um longo dia, finalmente chegara a hora de ir para sua faculdade. Normalmente a garota ficava sozinha em casa pois seus pais trabalhavam o dia inteiro. Ela gostava muito de estudar e era uma forma de sair de casa e ficar longe de tantas coisas negativas - ou quase. As pessoas lá sempre a julgavam e riam dela por simplesmente ser considerada a "diferente" ou "estranha". Na hora do intervalo, Alice costumava ficar sozinha no pátio do refeitório, mais precisamente perto das árvores na escuridão, onde ninguém a incomodava.
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Bunny
HorrorEla apenas quer justiça, então porquê não fazer isso com suas próprias mãos? Ou melhor, seu martelo.