Capítulo 5

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Um dia o caçador decidiu sair de sua cabana.

Ela ficava estupidamente apinhada de coisas sem valor e comida seca. E estupidamente posta numa clareira minúscula no meio da floresta.

Bem, talvez não fosse tão estúpido assim.

Após o primeiro surto e com o tempo, o caçador percebeu que já não era o mesmo. Não sentia a dor do esforço diário ao baixar o machado sobre uma tora de madeira, ao retesar o arco durante as caças. Já não sentia o cançaço do esforço que antes lhe era muito custoso.

A dor lhe visitava apenas à noite durante os primeiros anos. Mas de forma pungente.

Era possível ouvi-la gritar em seus ossos e músculos que pareciam expandir sempre que o sol se punha no horizonte desolado.

Isso durou 2 anos.

Nesse tempo, quase todos os dias após desmaiar devido à dor, costumava acordar de pé, num lugar aleatório qualquer do mundo. Geralmente armado, ensanguentado e com uma multidão daqueles seres malditos ao seu redor. Todos mortos. Nunca vira a aparente luta que precedia o seu acordar. Despertava da dor, para o terror.

Mas de alguma forma retornava sempre para a cabana escondida na clareira. Ao seu lugar no mundo.

Não sabendo ao certo como acontecia. Apenas dormia e acordava. Hora em casa, hora na batalha. Mas uma coisa era sempre certa. Não havia um som sequer.

Até que um dia o som de um galho quebrando o despertou do sono.

Clarão.

Sentia o vento com muita velocidade.

Era como se estivesse voando.

Depois queda, muito rápido.

Impacto.

Sem dor. Apenas uma sensação de toque.

Abri os olhos e vi uma mulher linda. Vestida em uma armadura reluzente, prateada. Mas era noite, a lua encoberta pelas nuvens. Não havia o que reluzir. Era como se ela tivesse luz própria.

Abri a boca para falar e de repente ela já estava ao meu lado. 4 metros em menos de um segundo.

- Morra. - Ordenou-me baixinho Uma voz feminina e doce.

Punhos fechados, senti um leve toque na bochecha esquerda e me vi atravessando a cabana e parando num tronco do outro lado da clareira.

Isso tudo em cerca de dez segundos.

Compreendi que aquilo era uma luta.

Meus sentidos de repente se aguçaram e mesmo com toda a velocidade, pude vê-la a dois metros de mim. Desviei do segundo soco.

Devolvi o terceiro antes que me atingisse.

E o silêncio da clareira retornou mais velozmente do que o soco que o espantara.

Fui até o lugar onde meu punho levou a mulher.

A encontrei desmaiada, o rosto ensanguentado devido ao corte na testa. Ao tentar apanhá-la senti dor. Uma dor que me transpassava o peito.

Literalmente.

Vi um objeto cravado ali. Não era uma espada. Diria que uma lâmina.

- Eu disse, MORRA! - Gritou ela Chutando a lâmina, apinhando-a em meu tórax.

Senti um leve toque no queixo e o vento que o seguiu ao me erguer no ar. A queda indolor empurrou a espada para fora.

A dor já não existia mais.

Decidi que aquilo precisava parar.

Ergui a lâmina, avistei a mulher e tomei a dianteira da luta.

Tentei uma, duas, três vezes e ela se desviou de todos as investidas.

Na quarta, segurou a minha mão que detinha a lâmina. Agarrei seu pescoço com a mão livre e a ergui no ar.

Apertei com mais força.

- Quem é você? - Minha voz saiu esbaforida, cansada e raivosa.

Ela não conseguiu responder. Tentou me esmurrar, chutar, mas não falava.

Cravei ela no chão, empurrei a lâmina em seu braço direito, quebrei o esquerdo pisando com raiva.

Assentei-me sobre ela e repeti.

- QUEM É VOCÊ!? - Esbravejando.

- Deixe-a! - Disse uma voz atrás de mim.

Aquilo me assustou. Haviam outros. Respirei fundo, levantei calmamente, pisei na perna esquerda até ouvir o som de osso se partindo e só então me virei.

Não havia ninguém.

- Sabe...

Atrás de mim. Nada. Apenas a mulher.

- Você até que é rápido...

Muito próximo, à minha esquerda. Nada.

- Pra um grandalhão.

A dor no peito. Outra lâmina. Arranquei-a.

- E resistente também não é?

Outra dor na perna direita. Removi aquela com certo desespero. "Por que não posso ouvi-lo?" Pensei.

Então Decidi parar para ouvir. Não a voz, mas o silêncio. Onde ele não estava?

Acostumado ao momento de batalha intensa, meus ouvidos buscavam o óbvio. Eu precisava dos mínimos barulhos. Então ouvi. Muito rápido.

Encontrei.

- Abra os olhos, grandalhão. Ainda não terminamos! Hahahgh-..

Senti-o em minha mão direita.

- Aqui. Olhos abertos. E agora? - Falei em tom odioso.

Ele era magro, branco, cabelos verdes, rosto fino, esguio.

Enquanto segurava seu pescoço ele se debatia.

Tomei a fina lâmina que estava no chão e cortei fora os seus pés.

- Pronto. Agora vamos conversar. Quem diabos são vocês!?

The HunterWhere stories live. Discover now