O ano é 2005. A pequena cidade de Itapetinga está em alerta total após os recentes eventos que espalharam a histeria entre os moradores que não se sentem mais seguros em sair de casa após o anoitecer. Esse mal não tem apenas um, mas sim cinco nomes.
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As mulheres estão reunidas nos fundos do açougue a espera da iniciada. Hoje a noite mais um ritual de passagem será realizado. O lugar tem um cheiro característico de sangue, a luz amarela e irregular das velas não permite que se veja o que está escondido por detrás dos ganchos e das carcaças penduradas. Se as paredes falassem, contariam horrendas histórias sobre as pessoas que entram naquela sala e de lá saem em sacos.
Um baú de madeira sacode, ouve-se um tilintar de metal e um som abafado indistinguível. As senhoras que estão à espera sabem muito bem o que se mexe ali dentro.
São 01h59min, a iniciada usa um vestido branco enquanto é conduzida por uma mulher com capuz preto como as outras três a sua espera. Ela está vendada. Essa é a regra, até o ritual ser concluído ela de nada pode saber. Já está com o tecido preto no rosto há algum tempo, o que fez a área em volta dos seus olhos suarem. O nó está bem apertado. De repente as duas param. Chegaram. A venda é retirada e na medida em que se acostuma com a pouca luz a visão medonha invade a sua mente.
Três mulheres encapuzadas e uma mesa de metal. Ao redor algumas velas de tamanhos diferentes. Parecia um tipo de seita. Um ritual de adoração ao Diabo, mas não, não era isso que faria hoje. Estava entrando em um clube, uma espécie de grupo determinado a fazer justiça. A mulher que a trouxe sai do recinto e logo retorna com uma bandeja metálica e alguns instrumentos que serão manuseados pela iniciada para a realização de sua primeira obra de arte. Ela treme e não sabe dizer se é devido ao frio ou a ansiedade.
02h00min. Mais alguns segundos e tudo irá começar. As mulheres tiram o capuz e mostram o rosto. Está na hora de repassar os detalhes
– Você já sabe por que está aqui.
– E sabe o que tem que fazer.
– Também sabe o que acontece se desistir.
– A partir de agora não tem mais volta. Essa noite alguém morre.
A iniciada assente com a cabeça observando o diversificado grupo que seguia uma rigorosa ordem de fala. Primeiro uma mulher na meia idade de cabelos vermelhos depois uma loira quase anoréxica seguida pela moça negra que a trouxe ali, e por último uma jovem de cabelos curtos obesa.
– Às 02h02min você irá começar.
– O número dois representa a energia feminina.
– E nesse período você irá usá-la.
– Para tirar a vida de um verme em forma de homem.
A moça de cabelos vermelhos e a mulher negra vão até o baú e tiram o sacrifício de dentro o colocando na mesa. Ele ainda está um pouco sedado, apenas o suficiente para reagir com menos intensidade e ao mesmo tempo sentir tudo que acontecer com seu corpo. As quatro moças acorrentam as mãos e os pés do rapaz que está nu da cintura para cima. Ele tenta gritar, mas a mordaça o impede, imagina o pior enquanto sente o metal gelado em suas costas. Estava indo a faculdade quando fora sequestrado.
Um rapaz jovem, branco e magro. Bonito até, mas parece apenas uma pessoa comum. Que crime ele poderia ter cometido para merecer tal punição? – Pensou a iniciada com si mesma, a resposta veio um momento depois.
– Luís Felipe de Andrade.
– Vinte e um anos.
– Estudante de direito.
– E espancador de namoradas no tempo livre.
O rapaz ficou mais inquieto. Os movimentos de seu corpo deduziam que ele estava negando as acusações.
– A primeira se chamava Rafaela.
– Publicou uma foto do olho roxo, mas não prestou queixa.
– A segunda chamada Liliane sofreu cortes na região das costelas.
– Se mudou da cidade logo em seguida.
– Não sabemos como anda a atual. Acredito que a Greice irá nos agradecer pelo favor.
– Pobre Luís... Não sabe como redes sociais são excelentes fontes de informação.
O rapaz chorou. Uma reação do corpo incapacitado de falar para clamar por piedade.
– 02h02min comece.
– O que eu preciso fazer? – Pergunta a iniciada.
– Corte o pênis.
O jovem se contorce e os metais se chocam. A iniciada analisa os instrumentos na bandeja, facas, tesouras, serras e ferramentas em geral.
– Você não tem muito tempo, escolha logo e prossiga.
A iniciada se pergunta quanto tempo vai levar até aquele pesadelo acabar. Puxa uma faca de churrasco. Parecia bem amolada. Ela tira o cinto e abaixa a calça e a cueca do rapaz até os pés. O membro está exposto, a moça negra mira a luz de uma lanterna para ajudar na visão. A iniciada usa sua mão esquerda para segurar o órgão enquanto segura a faca com a mão direita e então faz um corte iniciando a separação do saco escrotal do corpo.
O rapaz geme na medida do possível. A iniciada continua os movimentos de vaivém percebendo como estava enganada em seu julgamento. Não poderia ter escolhido pior
– Mulheres são reais. Elas são seres humanos. Os homens não são sequer seres humanos completos. – Diz a loira.
Os cortes estão sendo feitos de baixo para cima, estão mais próximos do corpo esponjoso do pênis. Sangue escorre pela mesa e pela mão da iniciada. O jovem se urina de dor e o líquido acide espirra na mulher de cabelos vermelhos que pega uma seringa com agulha e anda para o lado oposto da mesa.
– O gene masculino é um gene feminino incompleto. O macho é completamente egocêntrico, fechado em si próprio, incapaz de ter empatia ou de identificar-se com os outros, incapaz de sentir amor, amizade, afeto ou ternura.
Logo em seguida, retirou o bocal de proteção e inseriu a agulha no ouvido do jovem que agonizava chorando descontroladamente. Muito sangue brota do orifício do ouvido como a nascente de um rio. Os constantes gritos abafados soam cada vez mais altos e desesperados. Luís ouve o seu fim eminente por apenas um lado.
A iniciada retoma a amputação caseira e entre várias tentativas finalmente termina a castração. Tem uma profunda vontade de vomitar. O cheiro da urina e o sangue que tingiu seu vestido fazem a bile subir até a sua garganta, mas ela se controla.
Ouve um silêncio súbito no frigorífico e por alguns segundos ouviu-se apenas o zumbido do sistema de refrigeração. O rapaz na mesa desmaiou de dor.
– Agora deve marcar seu abdômen com o espelho de Vênus. – Ordenou a mulher acima do peso.
Isso não seria mais difícil do que havia acabado de fazer. Olhou novamente o que havia na bandeja e apanha um bisturi que não tinha visto ali antes, o trabalho seria mais limpo e rápido com uma ferramenta própria para cortar tecido. Inicia o desenho partindo da região entre os peitos, passando pelas costelas e na metade do círculo o homem sai do estado de inconsciência. É necessário que as outras mulheres segurem os braços e pernas contra a superfície de metal para que a marcação saia perfeita. A iniciada termina o círculo onde o começou.
– Nenhuma revolução verdadeira jamais poderá ser feita pelos homens, porque os que estão no Poder querem conservar as coisas como estão, e os que estão afastados do Poder querem simplesmente alcançá-lo. – Disse a negra.
Traçando uma linha vertical do corte circular até o umbigo, a iniciada percebe que pesou demais a mão pela quantidade de sangue, cortou muito fundo, finalizou com um corte vertical deixando algo parecido com uma cruz invertida, o símbolo do feminino.
– Agora você deve mata-lo. – Diz a loira.
A iniciada não queria chegar aquele ponto. Porque estão demorando?
– Não posso.
Um barulho característico de uma arma sendo engatilhada se propaga no ar. A moça de cabelo vermelho aponta para a cabeça da iniciada.
– Faça agora!
Sem escolha a iniciada leva o bisturi até a garganta de sua vítima que olha diretamente para os olhos dela, em um único contato visual ela pôde sentir toda a dor que causara, mas escolhia sobreviver e com um único e rápido movimento a jugular e outras veias menores são rompidas jorrando sangue das paredes ao chão. A iniciada agora faz parte do grupo.♀♀♀
Enquanto manuseavam o corpo e limpavam o chão, as mulheres ouviram sirenes se aproximando.
Tarde demais. Pensou a nova integrante.
– Companheiras, não achei que este momento chegaria tão cedo. – Disse a moça de cabeleira vermelha.
– Precisamos fazer o que tem que ser feito. – Disse a mulher negra.
– E o que tem que ser feito? – Perguntou a novata.
– O pacto é claro. Nunca seremos pegas com vida.
Batidas na porta e palavras de ordem. Os policiais já estavam à espera das moças.
– Eu primeiro – se prontifica a loira – por favor, seja breve.
– Certo. – A moça dos cabelos vermelhos empunha a arma e atira na cabeça da loira que permanece em pé por algumas frações de segundo e tombando no chão ao lado dos pés da novata com os olhos ainda abertos.
A porta da frente foi arrombada, só há mais uma barreira entre os policiais e as assassinas, a porta de metal do frigorífico. A novata seria a próxima a receber um tiro, já estava com a mira em sua direção quando avançou contra a mulher de meia idade a derrubando no chão. A arma dispara e o projétil atinge seu ombro de raspão. A briga pela arma continua. A moça obesa pega o bisturi usado anteriormente para matar o homem e se arrasta para a parte escura da sala onde abre um corte vertical nos dois pulsos.
A novata é mais forte do que aparenta, segurando as mãos da oponente ela aponta a arma para o peito dela e dispara duas vezes, a mulher fica inerte, antes que pudesse levantar a novata sente uma pancada na cabeça, um golpe de martelo desferido pela moça negra.
A porta do frigorífico é arrombada e dois PMs adentram o recinto, a mulher negra avança contra os homens e é atingida em oito pontos do corpo.
Um policial leva o rádio a boca e pede uma ambulância.♀♀♀
– Um mistério que estava assombrando a pequena cidade baiana de Itapetinga acaba de ser solucionado. Graças a uma denúncia anônima, a polícia encontrou o frigorífico nos fundos de um açougue onde uma verdadeira carnificina acontecia. No local a polícia encontrou o corpo mutilado de um estudante identificado como Luís Felipe de Andrade que foi torturado por um grupo de cinco mulheres acusadas de serem as responsáveis por outros quinze homicídios ocorridos no município. As criminosas seguiam o mesmo padrão, sequestravam um homem acusado de violência doméstica e removiam cruelmente o seu órgão genital, marcavam o tórax e o matavam. As autópsias sugerem que faziam esse ritual de diferentes maneiras e com diversos instrumentos. Sônia Braga, Pâmela Dias e Keila Amaranto morreram durante a ação da polícia, Yasmin Ferreira tentou suicídio e foi levada ao hospital onde está internada, segundo os médicos o estado dela é estável. Raíssa Teixeira foi achada consciente com uma ferida feia na cabeça proveniente de um golpe de martelo, quando acordou após uma pequena cirurgia alegou que entrou no esquema por acaso, sendo ameaçada de morte caso não colaborasse, segundo ela, a própria teria feito a denuncia descrevendo o carro que parou na porta de sua casa para busca-la. Disse também que não participava dos homicídios, versão que foi desmentida quando a perícia encontrou suas digitais por toda a sala incluindo na faca e no bisturi usados para assassinar o jovem Luís. Quando foi confrontada com essas provas, Raíssa afirmou que seria morta pelas outras mulheres caso não prosseguisse com o ritual. No local os peritos encontraram ainda um exemplar do SCUM Manifesto, um livro publicado pela feminista radical americana Valerie Solanas que descreve a sociedade perfeita como uma sociedade sem homens, sendo essa ideologia o possível motivo dos homicídios. Yasmin e Raíssa serão julgadas por cada um dos dezesseis homicídios, torturas e sequestros quando saírem do hospital. Voltamos com mais informações sobre esse crime bárbaro que ficará marcado na história do Brasil no jornal da noite.
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Elas {Conto}
HorrorCinco moças em um frigorífico, objetos pontiagudos e cortantes, um homem e um ideal. Mulheres obstinadas são fatais. 2° lugar no Concurso #4 do TerrorLP - Maldade Feminina