O QUE ACONTECE A MEIA-NOITE (ONE-SHOT) - Lançamento 03/03/2019

O QUE ACONTECE A MEIA-NOITE.

Existe uma lenda urbana contada pelas ruas da cidade de Goiânia, que quando o relógio marca meia noite do quinto dia de uma lua cheia, algo estranho acontece em um lugar chamado Praça Doutor Pedro Ludovico Teixeira, conhecido por todos apenas como Praça Cívica, local que fez parte do início construção de Goiânia.

O que é desconhecido por muita gente, é que tal praça foi a primeira a ser construída na cidade. Isso por si só já seria um grande marco, afinal ela resiste forte desde 1933, sendo visitada como ponto turístico. Isto durante o dia, pois à noite as coisas não são belas e tranqüilas como aparentam.

Um grupo de amigos estava conversando sobre histórias que ouviram a respeito da Praça Cívica, sobre coisas estranhas que ocorria durante a noite. Claro que nem todos acreditavam em tais histórias, alguns tiravam onda com toda aquela baboseira. Foi então que Leo, teve uma ideia, fazer um desafio aos amigos de ir tirar a prova sobre aqueles boatos que ouviram sobre o lugar.

Três dos outros amigos acharam a ideia divertida, menos Nicolau, um garoto negro de olhos escuros, o mais jovem de todos, que ainda tentava se enturmar, pois havia se mudado para a cidade há pouco tempo. Para Nicolau, fazer amigos sempre fora um obstáculo, por esta razão topou o desafio, mesmo não gostando nada dela.

Apesar da euforia, era preciso aguardar o quinto dia de uma lua cheia, que seria na próxima sexta-feira. Nicolau torcia para os amigos desistirem, ou simplesmente esquecerem aquilo, pois ele sentia que não iria acabar bem, mas Leo e seus companheiros estavam determinados a se divertirem.

Quando a noite começou a cair, Nicolau recebeu uma mensagem de Leo, perguntando se ele iria amarelar diante do desafio. Por dentro, tudo que Nicolau queria era desistir, mesmo que fosse chamado de medroso, mas sabia que se o fizesse sua credibilidade estaria manchada para sempre, então respondeu que iria encontrar com eles na hora combinada.

Faltando apenas vinte minutos para meia noite, cada um dos garotos foi chegando. Leo usava uma calça jeans e uma camisa vermelha de manga longa, Pedro o segundo a aparecer, sendo o mais velho do grupo, trazia consigo uma caixinha de cerveja, vestia uma camisa preta e bermuda, Alberto chegou minutos depois, com boné, camiseta larga e calça de moletom, Nicolau chegou em seguida, com um blusão azul e calça preta, o último a chegar foi Josué, que apareceu por entre as árvores próximas à praça, ele tragava um cigarro, enquanto caminhava até os amigos.

― Vejo que todos vieram. ― Disse Leo sorrindo e olhando para cada um dos presentes. Seus olhos eram verdes e o cabelo castanho claro que quase poderia se passar por ruivo.

― Pensei que o Nicolau ia dar pra trás. ― Brincou Alberto.

― Olha, não foi o único. ― Completou Pedro, bebendo um longo gole de sua cerveja.

O movimento começava a reduzir naquele lugar, restava apenas as luzes dos postes e do Palácio das Esmeraldas. Os carros passavam a cada minuto em menor quantidade. Para chegar até ali, alguns dos amigos tiveram que pegar ônibus e os outros usaram Uber, sequer se preocuparam como iriam voltar para suas casas.

Algo que realmente chamava atenção na praça era o monumento do centro, uma escultura majestosa e exuberante de sete metros de altura, feita em bronze e granito, cujo nome era "Monumento às Três Raças", que tinha como missão homenagear a miscigenação no estado. A escultura representava vários povos e etnias sendo eles negros, brancos e indígenas, talvez como uma forma de pregar igualdade, afastando de todos aquela sombra que insistiam em não mencionar: o racismo.

Todos bebiam menos Nicolau, que sentia em seus ossos que aquela ideia era péssima. Aguardaram a hora marcada, a lua resplandecia no céu, sendo encoberta vez ou outra pelas nuvens negras da noite, uma rajada de vento frio balançou as copas das árvores, fazendo várias folhas levitarem no ar. As nuvens que tapavam a lua se moveram deixando o brilho prateado da lua iluminar toda a praça.