A chuva fina caia naquela manhã de março, avisando que o outono havia chegado, e com ele uma frente fria que tomaria a cidade por alguns dias, muitos considerariam os seguintes dias como feios e sem vida, mas para mim, era o clima perfeito, afinal, sempre fui do tipo que preferia dias frios, ficar em baixo de mil cobertas e dormir até tarde, o que não aconteceu já que, as seis e meia da manhã daquela segunda feira, o despertador tocava insistentemente, me fazendo desistir da ideia de matar o primeiro dia de aula para dormir até o meio-dia, ideia que me tomava por dois motivos, o primeiro era poder ficar quentinho na minha cama, e o segundo, era a ansiedade que me tomava ao saber que a essa altura, todos da escola ja deviam saber sobre mim.
No ultimo fim de semana num ato impulsivo, havia publicado no me twitter sobre ter me descoberto bissexual, estava tudo tranquilo até eu receber uma mensagem de uma amiga dizendo que alguém tinha compartilhado no grupo da escola, e como fofoca corre rápido, eu ter apagado o post não deve ter adiantado de nada.
Tentei deixar a ansiedade de lado e me concentrar no que importava, estavamos no começo de um ano letivo, as aulas finalmente iriam começar, estava no tão aguardado primeiro dia de aula e a escola estaria encheria como de costume, e eu seria mais um invisível no meio daquela grande multidão de adolescentes, e isso me tranquilizava.
Tive que me arrumar bem rapidamente, coloquei a camisa do uniforme, uma calça jeans preta e um moletom verde - meu favorito - por cima, havia perdido muito tempo pensando e acabei me atrasando, também tive que correr até a estação de metrô, eu ter escolhido estudar em outro bairro tem suas partes ruins, e a pior é ter que acordar extremamente cedo, apesar disso não me arrependo da escolha, eu jamais sobreviveria sozinho em outra escola, sem meus amigos, estive junto com eles desde sempre, não gostaria de me separar agora.
Ja chegando na estação do colégio, dispersei-me do trem e fui caminhando junto ao fluxo de pessoas que seguia em direção ao conhecido prédio de pedra cinza, a estrutura do colégio era similar a um castelo, daqueles que a gente vê em filmes, só que com apenas 3 andares e entre predios gigantes naquela cidade gigante, durante a caminhada, aquele sentimento de ansiedade voltava a me assombrar, mais uma vez penso naquele maldito tweet, e instantaneamente, minha mente me faz pensar que todos ao redor devem estar olhando ou falando de mim, o que pode soar até meio egocêntrico, porém bem viável, as pessoas adoram uma fofoca quente como essa, apenas coloco meus fones de ouvido e faço o que eu sei de melhor, fingir que não me importo com nada.
Meus amigos, Natasha, Dalila, Luiza e Breno, os quais eu conhecia e ficava desde o ensino fundamental, se encontravam logo ao lado da entrada do colegio, Natasha, minha melhor amiga, foi a primeira a saber quando eu me descobri, a única que eu tive coragem de contar, justamente porque ela me entendia, ja tinha passado por isso a um ano, e hoje era bissexual assumida para o mundo, e agora, mesmo que acidentalmente, eu também era.- Eu estava morrendo de saudade de você - Ela diz logo quando me vê e me cerca num abraço - Fiquei com medo de você não vir, por causa daquilo.
Percebo que todos, inclusive eu, ficam sem o que dizer, é um momento estranho
-É... mas eu tô aqui - Sorrio sem graça - E senti muita falta de todos vocês.
- Pietro, você sabe que pode contar com a gente, nós somos amigos desde sempre - Luiza diz e todos concordam com a cabeça.O barulho do sinal nos interrompe, como uma intervenção divina à aquela conversa esquisita, um painel havia sido pregado na parede para informar as turmas de cada aluno, me esgueirei no tumulto que havia se formou para ver a minha classe, e mesmo torcendo muito o pior tinha acontecido, acabei caindo numa turma, onde a única pessoa que conhecia, era meu amigo breno, e as coisas estavam estranhas entre a gente desde o acontecimento, na realidade desde sempre, eu e ele nunca fomos de conversar, arrisco dizer que se não fosse pelas meninas, nós não seriamos amigos, não por questão de afinidade mas porque eu e ele não temos absolutamente nada a ver, ainda sim sigo junto dele para a sala de aula e acabo me sentando uma carteira a sua frente, no canto com janela, tinha o costume de me sentar no lado da janela todos os anos, devido a vista composta por varias árvores, sempre amei estar em contato com a natureza, mesmo que o contato fosse apenas visual. Me surpreendi a ver um rosto conhecido entrando na sala, uma surpresa um tanto quanto ruim, um dos novatos do ano, mas esse eu conhecia bem, era um garoto bem babaca, daqueles que vivem fazendo piadinhas desnecessárias, junto a ele, havia outro garoto, o que é comum já que esse tipinho anda em bando, mas ele parecia perdido, e acabou chamando minha atenção, quando me dei conta estava olhando a tempo demais e isso fez com que Hugo notasse minha presença, ele fez questão de se sentar na fileira ao lado da minha, e o amigo logo atrás.
- Sabia que quando eu vi 'Pietro' na lista, lembrei de você? - Ele diz
- Ah, eu nem notei seu nome lá - Dou de ombros.
Hugo abria a boca para dizer mais alguma coisa mas logo foi interrompido pela entrada da professora do primeiro horario, que já começava sua aula.