✥ㅡ A KANAE ㅡ✥

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   A transmissão está sendo passada em todos os canais do Reino Florido. Nos últimos dias, todo o castelo esteve em atividade vinte e quatro horas. Os preparativos para o Dia da Consagração passaram como um borrão, enquanto eu ficava aprisionada no quarto apenas ouvindo os movimentos constantes pelo corredor. O desejo era arrombar aquela fechadura coberta de magia, mas logo me lembrava da primeira vez em que havia tentado fazer isso e levei um choque terrível.

   Em vários momentos senti a magia penetrando meu espaço. Imortais de todos os reinos passavam pelos corredores do meu quarto, conversando sempre baixo. Nunca conseguia decifrar qualquer coisa que fosse útil para minha estadia aqui, por mais que tentasse ouvir por baixo da porta.

   Estou sem comer. Não por culpa deles, mas minha. Não confio na comida que mandam pelos criados humanos, principalmente depois de ter percebido os olhares de medo direcionados ao prato de porcelana perfeitamente brilhante. Acabava atirando tudo na porta e assistindo os pratos quebrarem.
 
   O quarto é pequeno, apenas o suficiente para abrigar confortavelmente a cama de solteiro e o pequeno armário ao lado da porta. Uma pequena escrivaninha está embaixo da escada que leva à sacada com grades, o único meio de receber o vento frio do inverno chegando. Me sinto um animal presa em uma gaiola.

   Meu único modo de não entrar em pânico durante a noite com meus pesadelos é sentar no pequeno espaço entre a sacada e as grades e receber o vento frio da noite. Um pouco do medo vai embora, mas a realidade não. É impossível deixar de pensar no que estou vivendo agora e no quanto isso me assusta, por mais que não queira admitir a ninguém. Ainda sonho com as paredes se fechando sobre mim, me aprisionando em meus próprios pensamentos e atormentando minha mente.

   Sinto meu corpo esmagando pelas paredes cada vez mais estreitas, e meu desespero crescente se aumentando à medida que o teto desde sobre mim com lâminas afiadas se preparando para me partir ao meio.

   E os olhos. Mesmos olhos azuis de sempre... A pequena silhueta que enche meus sonhos e rouba o medo dos meus pensamentos, trazendo finalmente a paz. Aqueles olhos azuis que se enchem de alegria ao olhar para tras ㅡ olhar para mim.

   A cada sonho que tenho com estes olhos, meu desejo de encontrá-lo aumenta cada vez mais. As pulsações aceleradas em meu coração quando acordo me lembram sempre que em meus sonhos o Paraíso existe, e não é um lugar. Eu via o Paraíso em seus olhos, um lugar que eu desejava viver com todas as fibras do meu ser. Mas sempre a realidade surgia e me tirava do lugar perfeito.

   Uma batida na porta me assusta. Fico na cama, esperando o mesmo criado humano entrar com o café da manhã. Mas não é ele que entra com minha comida, e sim o semideus Korian.

   Minha postura fica reta na cama em um pulo, os pelos do meu corpo arrepiam com a onda de magia que preenche meu quarto quando ele entra. Sinto seu poder emanando por seu corpo, cada centimetro do semideus exalando sua autoridade.

   Korian caminha calmamente pelo meu quarto como se fosse dono do lugar. Observa cada móvel, desde a cama pequena onde estou deitada até um canto do quarto inabitado. Olha para a janela aberta e as cortinas se movendo levemente pelo vento, as grades à vista. Não foi de propósito deixá-la aberta para que ele veja o que o pai fez comigo. Apenas a esqueci aberta quando saí da sacada durante a madrugada.

   ㅡ Bem, parece que meu pai gosta de assustar os convidados. ㅡ Comenta, rindo sozinho. Seus olhos se prendem em mim, na silhueta magra e pequena que ocupa a cama grande.

   ㅡ Ele gosta de prender seus animais, não é? ㅡ desdenho, sorrindo ironicamente. Ainda sinto leves pontadas nos braços enquanto trabalhava nos campos arados para as plantações. Eu gostava de ocupar a mente enquanto cavava a terra com violência para enfiar as sementes. Acho que todos ali me achavam uma maluca.

A ƑILHA ƊO ƑOƓO - A MALƊIƇ̧ÃO ƊO SOLSƬÍƇIOOnde histórias criam vida. Descubra agora