Na manhã seguinte acordei com dor de cabeça e atrasada para o trabalho. Quando me lembrei do que vi na madrugada, pulei da cama e corri para a varanda. A cidade estava como sempre. Olhei para cima, não havia redoma ou buracos. Fazia um belo dia, ensolarado até demais para o meu gosto. A cabeça pesou e tive que me apoiar na pilastra por causa da queda da pressão.
Voltei para dentro procurando por algum analgésico, mas para minha surpresa não havia nenhum. Tentei buscar na memória a última vez que tomei remédio. Sem sucesso. Liguei para Carla, minha amiga, pedindo que ela passasse em uma drogaria e me trouxesse algo. Meia hora depois ouvi o som do seu salto alto pela casa.
— Andou bebendo? — Perguntou me entregando um copo de água.
— Eu não bebo, você sabe.
— E nem costuma ter dores de cabeça — se sentou ao meu lado.
— Isso é pior do que dor de cabeça. De madrugada... — Hesitei. Carla acharia loucura.
— O que aconteceu? Alguém tentou entrar aqui? Ai meu Deus!
— Não! Calma. Ai! — Respirei fundo. — Eu tive insônia, fui até o jardim e alguma coisa sobrevoou minha casa.
— Como assim? A gente sabe que é impossível algo voar. Biologia simples.
— Pois é, mas essa não é a pior parte. Eu ouvi um estalo, como se fosse um vidro se quebrando. Começou a ventar de um jeito diferente, suave e úmido, sabe? E então percebi que Ipanel estava sob uma redoma e havia um buraco nela por onde chovia. Durante a chuva... aparecia umas luzes que vinham do céu. Do verdadeiro céu. E quando a luz iluminava, eu via a cidade destruída. Esse jardim ali fora estava todo morto. Depois disso algumas pessoas mascaradas me agarraram e injetaram algo no meu pescoço. Então acordei essa manhã morrendo de dor de cabeça. Eu sei que parece meio maluco, mas acho que foi real.
Carla me olhou com o cenho franzido, sua expressão denotava preocupação.
— Tem certeza que não foi um sonho? Ou alucinação por causa da bebida?
— Eu não dormi e nem bebi. To falando sério!
— Talvez você estava cansada e acabou imaginando essa história toda por causa dos seus livros.
— Em primeiro lugar, um livro contando uma história dessas seria muito interessante, mas não faz o meu estilo. Segundo, eu não estou delirando.
— Gabi, você por acaso acreditaria em alguém que estivesse te contando as coisas que você está me dizendo?
— Eu acho que não — respondi alguns segundos depois, me sentindo derrotada.
— Você deveria esquecer isso. Se voltar a ter uma dessas "visões", procure um médico.
Deixei o corpo relaxar no sofá.
— Você está certa.
— Não é novidade — Carla sorriu. — A dor melhorou?
— Um pouco. Pode voltar para o trabalho, e obrigada por cuidar de mim.
Ela me abraçou.
— Te mando a conta depois.
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Ipahell
Mystery / ThrillerA cidade era perfeita, assim como seus habitantes. Ninguém percebia como isto era bizarro e completamente inatural.