O Cantor de Gelo - 1

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Resumo

Uma pessoa criada na solidão de uma torre começa a desvendar o mundo que ela somente havia visto nos livros.

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Ka Suo sempre esteve sozinho naquela pequena ilha, somente o sons das ondas do mar batendo nas rochas. A ilha era pequena com uma alta torre de pedra no centro e uma árvore no interior da torre. A torre tem, ao todo, 130 andares, mas Ka Suo somente foi até o 25 andar - o andar de sua idade.

Desde sempre Ka Suo estava nessa ilha, somente tendo contato com três pessoas mascaradas que o cuidaram até ele ter 15 anos de idade - elas desapareceram no dia de seu aniversário. Elas não falavam muito, somente na época que o ensinaram a falar ou quando davam ordens para ele, mas Ka Suo sentiu saudades da companhia humana - mesmo somente saber que eles estavam ali já era calmante.

Cada andar representava um ano de vida de Ka Suo e a porta abria magicamente no dia de seu aniversário. Cada andar possuía algo que ajudaria Ka Suo nessa idade, como uma biblioteca (10 anos) ou uma cozinha que enchia-se sozinha com os alimentos necessários (15 anos).

Mas, alem do necessário, cada andar também possuía um presente especial para Ka Suo. Aos 13 anos foi um violino que Ka Suo aprendeu a tocar com o manual que tinha na biblioteca. 

Por ficar sempre sozinho na torre, Ka Suo aprendeu a 'matar o tempo' - seja cantando ou aprendendo novas receitas. E, sentado em baixo da árvore no primeiro andar, Ka Suo cantava sua mais nova música.

Ka Suo:

Vento que sopra as folhas da árvore, eu tenho um pedido a fazer.

Me mostre o reino banhado de neve e gelo, o reino que é mais frio que os outros.

Vento que sopra as folhas da árvore, eu tenho um pedido a fazer.

Me mostre o reino de fogo e lava, o reino que é mais quente que os outros.

Vento que sopra as folhas da árvore, eu tenho um pedido a fazer.

Me mostre o reino de terra e flores, o reino mais vivo que os outros.

Vento que sopra as folhas da árvore, eu tenho um pedido a fazer.

Me mostre o reino em baixo das ondas, o reino mais musical que os outros.

Vento que sopra as folhas da árvore, eu tenho um pedido a fazer.

Me mostre aquilo que desconheço, me liberte dessa prisão.

Que minha música seja levada pelo vento e ouvida pelos quatro reinos.

Meu passado é solitário, da mesma forma que o presente.

Meu futuro é incerto, mas...

Ka Suo interrompe a música e suspira frustado. Ele estava tendo problemas com essa parte da música, a parte do seu futuro, por dias - desde o momento em que ele criou essa música. Mas, quem poderia culpa-lo? Ele viveu nessa ilha por anos sozinho com a torre abrindo mais um andar nos dias de seu aniversário. 

Ka Suo tem longos cabelos brancos e olhos azuis, uma característica comum para o povo de gelo (aqueles que vivem no Reino de Gelo) - da mesma forma que suas orelhas pontudas. Ele usava, a maior parte do tempo, seu conjunto favorito que ele mesmo criou: uma camiseta de manga longa azul clara que chega metade das cochas com aberturas laterais e na frente para melhorar sua movimentação, uma calça azul clara (mesma cor da camisa), um colete branco estilo regata e botas brancas com detalhes azuis claros.

Ka Suo, cansado de tentar escrever a frase final da música, levanta e caminha em direção a saída da torre. O céu estava claro e o mar estava tranquilo, quase não havendo ondas ba

- Esse lugar fica mais entediante a cada dia. - Ka Suo pensa olhando para o céu. - Se eu não fizer nada, acabarei entrando no Sono Eterno.

Sono Eterno, também conhecido como o Último Sono, é como uma doença. Após adquirirem a imortalidade, os humanos, se não conseguirem agarrar-se a vida, acabam entrando em um sono que pode durar desde 10 até 1000 anos. Ka Suo havia lido isso em um dos mais recentes livros da biblioteca, notando rapidamente que os sintomas batiam com seu estado atual.

Ka Suo olha para cima ao ouvir o som de um pássaro, um som que ele ouviu em um dos livros sobre animais. Olhando para cima, ele vê um Pássaro do Céu sobrevoando sua ilha.

- Um Pássaro do Céu... é a primeira que vejo um ao vivo. - Pensa Ka Suo, mas, então, ele lembra-se de uma coisa que estava no livro:

"Os Pássaros dos Céus vivem nos bosques gelados do Reino de Gelo, eles raramente voam para longe das florestas, a menos que for para irem as enseadas buscarem pedras para encantarem seus possíveis companheiros."

Ka Suo, após lembrar-se daquela parte do livro, corre para dentro da Torre em direção a uma sala que ficava no térreo. Nesse quarto havia alguns mapas nas paredes, estantes com alguns livros com anotações e, no centro da sala, havia uma gigantesca mesa com água e uma imitação da Ilha flutuando na água. A imagem era em 3d, muito realista como se fosse a própria Ilha sendo vista por uma câmera.

Ka Suo vai até a uma estante e pega um mapa, indo em direção a mesa no centro da sala. Ele segura o mapa nas mãos e, então olha para a mesa.

- De acordo com o mapa, e as informações no livro, eu devo estar perto de alguma enseada no Reino do Gelo. - Ka Suo disse e apareceu a imagem de uma enseada, a Ilha aproximando-se da enseada. - Isso que dizer que, em breve, eu... irei para uma cidade de verdade... com pessoa de verdade...

Ka Suo estava feliz, mas, ao mesmo tempo, nervoso. Ele havia visto essas cidades nas gravuras de livros e sabia o tipo de pessoas que haviam nelas (ele esperava que sabia, pelo menos) - desde ladrões até nobres ricos. Mas nem sempre as coisas são como nos livros, Ka Suo sabia disso.

Olhando para a imagem da Ilha aproximando-se da enseada, Ka Suo canta uma frase que talvez seja seu final:

Ka Suo:

Um destino incerto me aguarda, mal posso aguentar.

Felicidade ou tristeza eu não sei o que é, mas o amanhã eu almejo ver.




Contos de Ice FantasyWhere stories live. Discover now