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      Pacificamente, a observei tragar por alguns segundos do maço de cigarro já antigo por conta da validade. Seus olhos brilhavam como esmeraldas esculpidas pelos anjos mais divinos, e seu sorriso era maldoso, escárnio.
     - Oras, não vejo motivos para que me venha perguntar audácias como esta. Não é como se você fosse interessado nisso ou algo do tipo. Bem provável que vás esquecer após segundos incontáveis, então não finja que se importas como os outros fizeram.- Sua expressão demonstrava luxúria, desumanidade, impiedade. Seu olhar era vazio, traçado com desprezo e um pingo de sobriedade. Mesmo parecendo sóbria ente seus próprios sentimentos, seus demônios interiores aparentavam corroer toda a sua alma em passos intrafegáveis, recompondo todos os seus conceitos de sua própria existência limitada.
Seu rosto era visível de forma escassa, e o único barulho presente era dos toques do relógio sinalizando que, em poucos minutos, seriam dez da noite. A taça presente em sua mão continha um vinho barato encontrado no fundo do armário, e ela fazia questão de batucar suas unhas afiadas contra o vidro fino e importado. Seu olhar sobre mim era intenso, carregado de apatia e desânimo. Por mais que eu tentasse gritar ou até mesmo esbravejar palavras afiadas contra a sua voz, eu não podia. A única coisa que eu podia fazer era me manter calado, indiferente diante de suas medíocres citações sobre como eu deveria me comportar diante de outros. 


     - Mas você não entende! você nunca vai me entender, não tentes dizer algo que não sabe. Isso me fere também e você finge não se importar com isso, ou também nem se importa. Olhe para os meus sentimentos, pare de tentar prever algo que, talvez, nem vá acontecer! - Aos prantos, tomei coragem e forças para esclarecer o que eu queria. Suas palavras me matavam como facas, rasgando minha alma e a descartando como um mero lixo substituível. Minha garganta se sufocava com as próprias palavras de alguns dias que não foram ditas, colocadas pra fora. As garras do medo me cortavam por dentro, alucinando a minha mente com pensamentos incertos e inquietos. Lágrimas sujas escorriam por minhas bochechas, tomando o tom escuro do sangue sendo despejado até alcançar o meu peito agora danificado, desmanchando-me em situações desfeitas, competindo com a própria realidade.


     Suas palavras me causavam feridas, transformando-se em cicatrizes que nunca se fecharam de verdade. A falta de ar se tornava mais presente do que acontecia frequentemente, formando bolhas de pensamentos sem respostas a cada ato praticado diante de mim. Tremores identificáveis travavam a casualidade já tão conhecida por minhas fobias ignoradas pela maldição que me prendia aqui.


     - Eu não posso, eu não quero viver essa mentira criada por você, por mim.. por todos aqueles que desejaram o fim dessa jornada que não me leva a lugar algum.- Queixei-me, cansado de viver em um ciclo melancólico de reiteração constante de todas as dores que um dia se fizeram presentes em meu peito. Sua risada maléfica desmanchava toda a minha coragem criada há pequenos segundos antes de sua chegada, encolhendo-me no meu mundinho desvalido onde a única assombração era a minha própria voz contra o vazio impregnado em meu peito.
Aceitando a maldita realidade descarada contra o meu rosto, abrindo-me diversas vezes na intenção de fingir que não era real, mas tendo que lidar com o fato de que realmente tudo era real, me entreguei mais uma vez a ela. Derramei lágrimas, derramei sangue, derramei dor, comprimidos desnecessários que me consumiam durante a noite para, por fim, entender;

                                                        Não era ela que fazia parte de mim,

                                                            Era eu quem fazia parte dela.

anxiety;Where stories live. Discover now