OROZIMBO

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História baseada em fatos reais. Nomes e lugares foram trocados para manter o anonimato das pessoas envolvidas. Se você viveu a mesma experiência, saiba que não foi o único.


Elza trabalhava em sua mesa do escritório, quando o telefone tocou. Ela estendeu a mão para atendê-lo, porém nessa fração de segundo, seus pensamentos pregaram-lhe uma peça.

"Deve ser má notícia" pensou. Imediatamente convenceu-se que isso era uma grande bobagem. Era quarta-feira, ainda no meio do expediente e não sexta ou segunda-feira, quando imprevistos com clientes, que lhe deixava com os cabelos em pé, ocorriam com maior frequência. Afastou o pensamento bobo.

— Contabilidade - falou, como sempre fazia.

— Elza? Oi, filha. É a Mãe.

— Benção, Mãe - falou, apesar de já ter passado dos quarenta anos.

— Deus te abençoe. Desculpe atrapalhar no serviço, mas estamos com um grande problema aqui.

Os pais de Elza moravam em Paranapanema, onde ela havia nascido e depois trocado a cidade pela Capital, São Paulo, a fim de seguir uma carreira nos estudos e no emprego, já se ia vinte anos.

Normalmente, mãe e filha conversavam à noite, quando ambas não estivam ocupadas com seus afazeres, e aquela devia ser a segunda ou terceira vez em vinte anos que a mãe telefonava para ela no escritório. Isso serviu para alarmar Elza de que talvez seu pressentimento sombrio pudesse estar correto.

Temendo alguma notícia bombástica e ruim, perguntou logo:

— Mãe, aconteceu alguma coisa?

— Não se preocupe, filha, estamos todos bem aqui. O problema é com a Cassianinha.

Cassiana era neta da família vizinha dos pais de Elza, desde que ela se deu por gente, e filha de uma amiga de infância, Dolores. Elas ainda eram amigas, mas o universo de Elza na capital, as cidades distantes uma da outra e as rotinas do dia a dia de cada uma as havia distanciado.

Dolores havia seguido a vida costumeira das moças da região nos anos 70. Se casara com o administrador de uma fazenda e morava no campo, fora da área urbana da cidade. Ela e o marido haviam enchido a casa de filhos, de uma maneira já não tão comum para os anos 80. Eram seis crianças em escadinha, com idades entre 13 e 3 anos. Cassiana era a segunda filha do casal, de dez anos de idade.

— O que aconteceu com ela? - Elza perguntou para sua mãe.

— Ela adoeceu de repente, uns três dias atrás. Foi piorando até que acharam melhor trazê-la para o hospital daqui. Os médicos não demoraram para ver que ela está com escarlatina e disseram que ela precisa de isolamento. Estão mandando ela para o Emílio Ribas, aí do lado do seu escritório.

A escarlatina ainda é uma doença a ser temida até os dias de hoje, assim como nos anos 80, quando essa história aconteceu. Muito contagiosa e com alto grau de mortalidade. A situação da menina devia ser bastante grave. Elza se entristeceu pela criança e pela amiga, Dolores.

— O que você precisa que eu faça? Precisa que eu hospede a Dolores, a família dela, alguma coisa assim? - perguntou Elza.

— Não, filha, a coisa está bem encrencada aqui. O marido da Dolores não anda bem e os médicos disseram que é coração. Está começando um tratamento e não pode sair daqui. Ela está cuidando dele e dos filhos e acabou de descobrir que vem mais um por aí, está de quatro meses e não pode ficar com a Cassiana, pois nem ela nem os pais dela sabem se ela teve escarlatina. Você sabe que seu Júlio e dona Tiana não tem mais idade nem saúde para viajar.

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