Joguei um dos meus livros na parede do meu quarto, tentando fazer com que meu vizinho parasse com os barulhos constrangedores de toda Sexta-Feira. Bufei, me levantando do meio dos meus estudos para pegar o livro. Em apenas três semanas de convivência, eu já sabia que eu o odiava mesmo sem conhecê-lo. Pelo tanto de mulheres que encontrei no elevador, eu conseguia ter uma idéia de como meu vizinho Sr. Galanteador era.
Espreguicei-me, olhando para meu relógio. Dez da noite. Decidi tomar um banho e dormir. Ou pelo menos, tentar. Com sorte, e com a ajuda de um pouco de música, peguei no sono sem muita demora. Eu ainda não havia feito amigos na faculdade, e sentia falta da minha família e amigos em Los Angeles. Mantínhamos contato, vez ou outra, quando eu tinha tempo. Apesar de minha mãe ligar para mim pelo menos três vezes na semana.
Acordei às 8:00 da manhã com uma pequena tempestade, ainda com a música ligada. Desliguei o rádio e desci as escadas do meu duplex até a cozinha para tomar meu café da manhã, que seria suco de maçã com algumas torradas. Naquela manhã eu decidi que merecia um bolo de chocolate por estudar tanto na noite passada. Comecei a misturar os ingredientes e quando percebi estava sem açúcar em casa. Suspirei. Não havia possibilidade alguma de sair de casa para ir ao supermercado com aquela chuva.
Calculei quanto eu ficaria molhada se eu decidisse sair na chuva até o supermercado a dois blocos de distância. Eu não queria ter que bater na porta do meu vizinho barulhento. Para meu desespero, a chuva aumentou. Desisti e agarrei uma xícara, ainda vestindo meu pijama. Bati na porta e e esperei. Eu havia decidido ir embora se eu contasse até 10 e ninguém me atendesse. A maçaneta girou quando eu estava no 8.
-O que você quer? -um cara alto de cabelos encaracolados abriu a porta. Sua testa estava franzida.
-Olá. Sou sua vizinha e...
-Não perguntei quem você é. Perguntei o que você quer.
Levantei minhas sobrancelhas, espantada.
-Parece que alguém levantou de mal humor -ouvi uma voz se aproximando e Harry virou-se e se afastou da porta. -Olá! Eu sou o Lee. -um cara não tão alto como o primeiro apareceu na porta sorrindo, me oferecendo a mão para um aperto. -Não que você queira saber -ele começou, dando uma risada tímida -, mas aquele é o Hayden.
-Oi, sou a Wenne. Você poderia me emprestar uma xícara de açúcar?
-Claro! Entre -Lee me deu espaço para passar enquanto Hayden me fitava, sentado no sofá com uma expressão nada amigável.
-Você vai devolver a xícara de açúcar que você está pegando emprestado? Então você deveria falar dar e não emprestar.
-E voce deveria fazer menos barulho nas Sextas enquanto algumas pessoas tentam estudar, você não acha? -Perguntei, irritada.
-Um dia talvez você também tenha a sorte que elas têm -ele riu enquanto Lee enchia minha xícara com açúcar.
-Nem sequer se dê ao trabalho de tentar -bufei.
-Eu não estava pensando em tentar -ele jogou as mãos atrás da cabeça, seu olhar de superioridade estudando meu corpo.
-Aqui está -Lee me estendeu a xícara.
-Obrigada, Lee -agradeci e segui para a porta, ao nosso tempo que ele a abria sorridente e hospitaleiro para mim.
-Não liga para ele -sussurrou, apontando Hayden com a cabeça. -Não é nada pessoal, apenas o jeito dele.
-Se você precisar de alguma coisa, sou sua nova vizinha - sorri, ignorando sua fala.
Ele assentiu e eu me afastei, ainda atordoada. Balancei a cabeça tentando esquecer o olhar de superioridade que Hayden olhava para mim enquanto misturava o último ingrediente da receita, e coloquei o bolo no forno.
Eu não iria estranhar se o bolo não crescesse; talvez o veneno nas palavras daquele cara tivessem contaminado o açúcar.
Fiquei feliz quando vi que o bolo assou da forma correta.
Limpei o apartamento durante a tarde, e sentei na minha varanda com uma xícara de chá de erva doce para assistir ao sol se pôr.
Eu amava fazer isso; olhar para o céu. Inspirei a brisa fresca de Londres e ouvi uma batida na minha porta.
"Me desculpe por Hayden -Lee sorriu, dando de ombros. -Eu me senti mal pelo modo como ele te tratou, e eu decidi vir ver se há algo que eu possa fazer como um pedido de desculpas.
-Está tudo bem, Lee. Não precisa fazer isso. Não precisa se desculpar por Hayden -ri sem entusiasmo algum.
-O que é esse cheiro maravilhoso de chocolate?
-É um bolo que fiz com o seu açúcar -sorri. -Vem, entre. Eu vou te servir um pedaço.
-Uau. Parece realmente delicioso -ele disse, quando viu o bolo na minha bancada. -O que te trouxe para Londres, Wenne?
-Faculdade. Estudo a língua inglesa -respondi, colocando um pedaço de bolo em um prato e entregando para ele em seguida. -Seu amigo é sempre assim?
-Especialmente agora que terminou a faculdade -Lee respondeu, de boca cheia.
-Os barulhos que vêm do quarto dele são constrangedores -corei, fazendo Lee rir.
-Nem me fale! -Colocou outro pedaço de bolo na boca. -Preciso encontrar qualquer coisa para fazer todas as vezes que ele aparece com uma garota nova.
-Ele não tem um emprego não? -bufei.
-Eu sou produtor -Lee começou. -Às vezes ele aparece no meu estúdio para gravamos alguma coisa. Ele costumava fazer estágio mas deram alguns meses de férias para ele.
-Você deveria deixa-lo morando sozinho -eu disse com raiva me lembrando da forma como ele falou comigo.
-Ele é um cara legal, Wenne. Você só precisa conhecer ele melhor.
-Não, obrigada. -Sorri, fazendo-o sorrir comigo.
-Bem... Eu acho que já tomei muito do seu tempo. Tem certeza de que não há nada que eu possa fazer?
-Não se preocupe - eu lhe assegurei. -Não precisa se desculpar por ele -disse de novo.
-Me desculpe, de qualquer forma -Lee levantou os ombros mais uma vez, abrindo a porta. -Eu te vejo por aí, Wenne.
-Tchau, Lee. -suspirei, sorrindo. Lee era um cara legal, na verdade. Eu não sabia como ele conseguia viver com alguém tão diferente dele.
Joguei o chá que já havia esfriado na pia da cozinha, e subi para tomar um banho. Li alguns livros apenas por prazer até que adormeci. A semana passou rápida, e mesmo que os barulhos do apartamento do vizinho tivesse me perturbado na Terça e na Quinta, eu consegui me sair bem com meus estudos.
Na Sexta a noite escutei alguém em minha porta e Lee apareceu com algumas sacolas plásticas, levantando-as ao lado do corpo.
-Jantar?
Vi uma mulher em um vestido curto se aproximar do apartamento vizinho e sorri, olhando para Lee com uma cara assustada.
-Jantar!
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Destrua Meu Coração
RomanceWenne Scarlat, uma garota de 19 anos, decide se mudar para um apartamento no centro de Londres depois de ser aprovada em uma universidade de línguas na cidade. Wenne costumava viver em Los Angeles, onde deixou sua família e amigos para viver seu son...