Louis

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O som do pavilhão de natação era abafado. Dezenas de vozes soavam em eco o que me causava irritação, honestamente não percebo bem o que faço aqui sentado a olhar para os colegas da minha turma a nadarem. Já que não posso praticar esta específica aula pelo menos deveriam de me conceder um tempo livre. O professor James de educação física disse-me que eu poderia aprender de forma teórica. Teoricamente, eu sei que não posso. Enquanto observo a piscina a minha vontade de me atirar para a mesma aumenta, o quão eu queria nadar sem ter todas as complicações posteriores. Atraso-me nos meus pensamentos quando subitamente ouço, relativamente perto de mim, cadeiras a serem arrastadas. A curiosidade desperta e eu olho discretamente para os causadores de tais barulhos. Um grupo de rapazes está agora sentado relativamente perto de mim. Devem ser de outra turma. Desvio automaticamente o olhor quando um par de olhos pára em mim. Uh, não... Não quero socializar.
Pego então no telemóvel e finjo estar super ocupado a enviar mensagens para evitar qualquer tipo de socialização com qualquer algum daqueles rapazes.
"Hey, Harry."Ouvi o professor chamar. "Diga?" olhei relativamente para baixo das bancadas onde ele se situava.
"Já podes sair, a aula acabou." expressou com voz alta para eu ouvir no meio de todos aqueles sons abafados. Assenti e dei-lhe um leve aceno enquanto me levantei pegando na minha mochila que estava na cadeira ao meu lado. Apesar de não me deixar praticar natação gosto bastante do professor James, exigente mas cuidadoso com toda a gente e sem exceção.
Há medida que ia saindo pelas escadas laterais, senti que estava a ser observado mais uma vez pelo grupo de rapazes da outra turma, talvez seja só uma impressão, talvez.
Já fora do pavilhão, sinto o meu bolso a vibrar supondo que seria o meu telemóvel, retirei o mesmo de onde se situava e olhei para o seu ecrã, "Mamã".

//SMS Mamã//
"Haz, vou demorar mais 20 minutos para te ir buscar à escola. Espera por mim no portão, beijos"

Ora, tudo bem. Mais 20 minutos da minha vida aborrecida, menos 20 minutos da minha vida aborrecida, qual é a diferença?
Já que a minha progenitora iria demorar, tirei os fones e coloquei-os nos ouvidos começando assim a ouvir música. O som de banjo misturado com piano começou-se a ouvir e não demorei muito a perceber que estava a ouvir "Hopeless Wanderer" da minha banda favorita Mumford&Sons.
Sentei-me no banco do portão e esperei, ouvindo as melodias que a banda me tinha para oferecer.
Uma música depois, senti um leve toque no meu ombro, e a seguir outro e outro. Mas que raio? Olhei para o autor de todos os toques e deparo-me com uns grandes olhos azuis brilhantes a encarar-me. Tirei um dos fones para perceber o que ele queria de mim. "Sim?" falei com calma " Hey, tens um isqueiro?" fiz cara estranha depois de ouvir a pergunta do desconhecido "Huh, não." depois de ouvir a minha resposta ele fez uma clara cara de desilusão, provavelmente ele queria saciar o seu vício e agora não tem fogo para tal. Ele não me disse mais nada, simplesmente assentiu e foi-se afastando. Olha, obrigado não? Fizeste-me tirar um fone e nem me agradeceste pela disponibilidade. Deveria ter respondido isto mas.. Estou impedido pela minha timidez.

//SMS para Mamã//
Ainda demoras?

Rezo agora para não ser interrompido por mais ninguém, não é que eu não tenha amigos. Eu tenho. Mas não está cá nenhum. E eu não gosto de pessoas fora desse grupo. Não gosto, nem sei socializar.
O sol começa a descer e a minha mãe ainda não respondeu, aos poucos vou ficando com mais frio e praguejo contra a minha progenitora. Eu podia ir sozinho para casa mas ela tem medo que eu tropece e não me levante mais portanto estou preso a um banco.
Sinto de novo uns toques sobre o meu ombro e respiro um pouco mais fundo, virando-me lentamente para o novo autor dos toques. Surpresa das surpresas, o mesmo par de olhos azuis fixa-me por baixo das suas longas pestanas, retiro de novo o meu fone"A sério, eu não tenho isqueiro. Não fumo." respondi já cansado e um pouco mais rude.
" Estás aqui sozinho?" a sua pergunta chocou-me, por ser um pouco estúpida porque claramente eu estava ali sozinho e por ser um estranho a fazer-me a mesma.
" Huh" olho para o espaço livre que há por toda a extensão do banco e olho de novo para ele " Como podes confirmar com os teus bonitos olhos, sim" disse sem pensar muito na resposta. Quando eu disse que não sabia socializar eu estava a falar a sério. A minha capacidade de filtrar é zero. Ouço um riso baixo e rouco possivelmente do tal rapaz "Olhos bonitos, huh?" fixou parte da minha resposta. Vai-te embora, vá lá. Eu não sei fazer isto. Assenti olhando agora para a estrada esperando a chegada do carro da minha mãe. O banco estalou quando o peso do desconhecido caíu sobre ele, estávamos agora ambos sentados a fixar uma estrada vazia." Não tens isqueiro mas tens uma voz. Podias falar comigo já que estamos ambos sozinhos." Huh, não. Não quero falar. Olhei-o sem expressão "Eu não te conheço. Porque haveria de falar contigo?" Realmente estava confuso confuso com a sua estranha aproximação "Well, eu sou o Louis." Sorriu ligeiramente e estendeu-me a mão, abanou-a à espera de uma reação minha e foi então que eu lhe entreguei uma das minhas mãos, conectando com uma das dele e dando um estranho aperto de mão. "Harry é o meu nome." olhei para as nossas mãos e depois para a sua cara, afastámos ambos o calor do nosso aperto de mão.
Uma buzina de carro apita, olho para a estrada e reconheço o carro, é a minha mãe. Levanto-me rapidamente com intuito de me afastar de toda a situação estranha que acabara de decorrer "Huh, xau" disse rapidamente para não ser mal educado, claro, foi apenas com essa pretensão . "Adeus, Harry" respondeu com um tom de voz já alto já que eu ia em direção ao carro. Louis.... Louis.. Mas que raio se passou?

EPILEPSYWhere stories live. Discover now