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Harry James Potter corria pela sala, como sempre fazia pela tarde. Lily corria atrás do filho para impedir que ele se machucasse e James corria do filho para alegrá-lo. Ficar confinado em casa era cada dia mais difícil para James. Lily sabia disso, sempre soube. Pelo menos brincar com Harry o distraía.

— Ah, Harry! Eu já estou cansado — James disse e o garotinho riu, ainda correndo todo desengonçado atrás do pai. — Quer saber? — James pegou Harry no colo, o levantou acima da cabeça e jogou para cima. Harry gritava de alegria, James ria e Lily olhava para os dois com tanto amor que sentia que derreteria a qualquer momento.

Lily olhou o relógio na parede. Já passava das cinco da tarde. Logo as crianças começariam a pedir os doces.

— Certeza que não podemos levar o Harry pedir doces? — a voz de James suplicava que Lily dissesse que podiam. Tudo o que ele queria era sair de casa, respirar um ar fresco, se divertir com a esposa e o filho pequeno.

— James... Você sabe que não podemos... É muito perigoso. E se tiver um comensal disfarçado e ele pegar Harry?

— Tem razão, Evans. É que eu queria tanto que fôssemos uma família normal... Não é justo com ele — Harry se revirou no colo do pai, sem entender o que estava acontecendo.

— Vamos fazer uma festa aqui — Lily sugeriu. James sorriu para ela, mas era óbvio que fora para deixá-la feliz. Graças à Morgana, Lily não percebeu.

— Você é a melhor esposa do mundo — James disse e piscou marotamente.

— Ainda não me acostumei com isso.

— Com a piscadela?

— Com esse título. Que somos marido e mulher.

— Já faz dois anos, Evans!

— Eu sei... Vou pegar umas coisas na cozinha para comermos em nossa festinha.

Enquanto Lily foi para a cozinha, James se sentou no sofá e colocou Harry encostado em uma almofada. Alguns segundos depois, Harry já estava escalando a perna do pai e tocando seu rosto com suas mãozinhas.

James o pegou de surpresa e começou a fazer cócegas no bebê. Harry Potter era o bebê mais risonho da face da Terra e James ainda se perguntava se ele poderia ter feito algo mais maravilhoso que aquele menininho: uma cópia perfeita dele, tirando os olhos.

Lily trouxe doces e tortas para a sala e colocou na mesa de centro. Atrás dela, um bule de chá fervendo flutuava, até pousar com delicadeza na mesinha. James buscou as xícaras e pratos. Os dois se sentaram no chão, deixando Harry no sofá. Deram um pedaço de bolo à ele, que ficou completamente entretido. James olhou para Lily e suspirou.

— O que foi, James?

— Eu só estou cansado...

— Podemos dormir mais cedo hoje, se quiser.

— Não... É que eu queria dormir e acordar quando essa guerra já tivesse acabado. Estou cansado de esperar aqui, sem poder fazer nada.

— Eu sei, querido...

— Harry merece mais que isso. Você, Lily, merece mais que isso e eu não sou capaz de dar. Não sou capaz de agir aqui.

— Dumbledore já conversou com você sobre isso, James.

— Mas o que ele sabe? Ele não tem que ficar enfurnado em casa sem saber de nada dobre o que está acontecendo. Ele está lutando, amor! Ele não tem esposa e um filho pequeno que não pode proteger! Dumbledore entende tanto sobre o que passamos aqui quanto entende sobre lidar com a família dele.

— Chega. Vamos mudar de assunto.

— Não.

— Sim. Vamos.

— Eu quero ver Harry crescer, querida.

— Eu também quero! Não fale como se só você quisesse isso!

— Eu nunca falei que não quer. Eu só...

Silêncio.

— Só?

—Eu só queria vê-lo em Hogwarts. Queria receber cartas dizendo que ele não está se comportando e rir das coisas que ele vai aprontar.

— Por Merlin, eu não! Não quero o meu filho fazendo nem um quarto do que você fez, James!

— Você não sabe nem de metade das cosias que fiz, Evans.

Lily jogou uma almofada no marido, o acertando no rosto. Deixando seus óculos tortos. Os dois caíram na gargalhada e Harry acompanhou.

— Eu queria vê-lo se apaixonar, Evans. Casar, ter filhos.

— Nós vamos ver, James.

— Como será que seria? Estar no casamento do seu filho?

— Acho que você choraria a cerimônia inteira.

— E eu acho que você está certa, Evans.

— Eu sei. Mas acho que, independente de tudo, se ele a amasse, nós estaríamos satisfeitos.

— Se ele herdar meu bom gosto, tenho certeza que sim.

— Você continua arrogante, James Potter.

— E você continua certa, Lily Evans.

Caíram no sono antes de bebericarem o chá. Acordaram uma hora depois com Harry caindo entre os dois, ambos sorrindo. James levou a louça suja e o que sobrara do chá da tarde para a cozinha e colocou a louça na pia. Apoiou as mãos na bancada e respirou fundo. "Eu estou fazendo o melhor que posso."

Voltou para a sala e olhou o filho, ainda sonolento, e desejou mais do que desejara qualquer outra cosia em sua vida que Harry tivesse um futuro. Que ele tivesse um futuro ao lado de Lily, o amor de sua vida. Sentou-se ao lado dela e a beijou brevemente. Passou a mão por seus cabelos e ela sorriu com ternura.

Foi quando um barulho como que de uma cerca sendo aberta tomou conta dos ouvidos de James.

Sem saber como poderia ter tanta certeza ele se pôs de pé. Seu coração estava acelerado, podia ouvir o sangue fluir por seu corpo. De repente estava enjoado, com um medo tão grande que não sabia se seria capaz de agir. Mas tinha de agir. Tinha de proteger Lily e Harry. Ouviu passos do lado de fora.

Seus olhos se encheram de lágrimas e respirou fundo uma última vez.

— Lily, leve Harry e vá! É ele! Vá! Corra! Eu o atraso... 

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