Um típico clichê

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Meu estômago roncava quando saí  da sala de computação. Professor Goulart me avisou por meio do Seu Alberto que eu deveria ir até o jornal da escola, Red News, encontrá-lo. E eu estava a caminho de lá.

Bati na porta e a abri. O Red News estava cheio de teias, mofo e poeira. Praticamente não era usado, a não ser para trabalhos escolares. O professor/coordenador estava sentando em uma cadeira de madeira marrom observando alguns livros.

- Com licença. - ele levantou o olhar e o sustentou por cerca de 1 minuto. Bem, se ele estava com uma ideia, provavelmente estava pensando se valia a pena me envolver.

- Olá, Flórida Ellen. Sente-se aqui. - me dirigi a cadeira suja - Bem, eu quero conversar com você a respeito desse lugar. O Red News já teve maior sucesso antigamente, agora está largado ao pó e às traças. Você não é a aluna perfeita porém me pediram pra selecionar a melhor nota de sua turma.

- E cá estamos nós. - sorri.

- E cá estamos nós. - ele repetiu - Quero que você reforme e transforme este lugar, que reviva o R.N. Você tem as melhores notas de redação e os professores adoram seu modo de falar e suas apresentações. É a mais apta.

- Certo, mas eu não posso fazer nada sozinha!

- Isso já está sendo providenciado. Só quero saber se você aceita.

- Isso se enquadra nas atividades extracurriculares? Quero dizer, pra ajudar na faculdade?

- Como quiser. Desde que concorde.

Assenti e sorri. Era começo do ano letivo e futuramente eu já entraria na faculdade, já estava procurando atividades e eu ia me inscrever em todas que eu achasse que teria bom desempenho. Tudo que pudesse facilitar minha formação seria uma ajuda.

Sai da sala feliz da vida. Tirei fotos da sala e fiz desenhos/garranchos do que aquela saleta dominada pelas aranhas poderia se tornar.

Eu amava escrever tão quanto amava a River, minha moto cinza fosco e a liberdade de dirigir. Como eu entrei atrasada na escola, não sou repetente e Deus me livre, isso me deu a possibilidade de tirar a carteira de motorista e passar o ensino médio de moto e com um apartamento meu. Ou melhor apartamento e moto herdados, junto da minha máquina e Orlean, é claro.

Ah, minha máquina. Meu pai nunca gostou dela, dizia que era tranqueira, que a vovó nunca usou para nada e que ele tambem não usaria. Mas mesmo com seus desapreço pela máquina ele a guardou para mim. Como se adivinhasse que eu seria apaixonada por ela.

Subi na River e tirei o capacete preso ao cotovelo para pôr na cabeça quando ouvi uma risada esganiçada e totalmente forçada.

- Então Ellen, soube que você foi convocada como jornalista para o moquifo que é o Red News. Parece que as suas crônicas e romances serviram pra alguma coisa.

Clarice estava ali. Na frente da minha moto com suas fiéis seguidoras sem opinião própria. Parecia um clichê escolar americano.

-  Ah não. - fiz cara de frustrada- Você quer aulas de português de novo? Já te falei que "vermelho" se escreve com "l-h" e não com "l-i-o".

Umas meninas que passavam perto riram, já o alvo, bufou.

- Eu vou ignorar seu comentário desnecessário.

- E a mesma coisa vou fazer com você.

Clarice, Alice e Letice - na verdade seu nome é Letícia mas ela "teve" que mudar para se enquadrar. As garotas ice. Criativo não? Adoram provocar outras garotas e principalmente os rapazes. Cabelos perfeitamente no lugar, entupidos até a raiz de química loura são suas marcas registradas.

- Por falar em vermelho, soube que vão reabrir o Red News. Com você no comando.

- É, vão sim. Mas aposto que você não veio me dar os parabéns.

- Há! - ela projetou a cabeça para trás- Parabéns? Aquilo é um moquifo abandonado e largado as baratas...

- Olha - a cortei - se você não acha que foi bom, veio fazer o que aqui? Só agradeça por não terem te escolhido e fim.

Ela ficou muda. Mordeu o lado interno dos lábios umas vezes até bufar. Mas arrumou a postura e sorriu.

- Você tem razão. Tenho coisas melhores a me preocupar.

Olhei para trás e ali estava um grupo de garotos. Cerca de 5 possivelmemte,  pareciam cópias, na roupa e no modo de agir. Eles se uniram a nós, ou melhor a elas e eu.

Porque eu ainda estava aqui?

Saí andando sem despedida alguma. Ninguém disse nada, como era de se imaginar. Por que diriam? Eu sou totalmente desprendida dessas pessoas fúteis e sugadores de energia tão quanto elas são de mim. Que bom  que será o último ano.
Ninguém tem meu real apreço por aqui.

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⏰ Última atualização: Jan 06, 2020 ⏰

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