Capítulo Único

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BEDAZZLED

escrita por Sue Martins


" – Pobre de mim! – disse Romeu. – Há mais perigo nos teus olhos do que em vinte espadas."


Eu estava quente.

Quente e incomodada.

Acordei naquela manhã de terça-feira cuspindo fogo, em um nível de irritação absurdo, culpando a tudo e a todos pelas minhas oscilações hormonais. Tanto é que descontei brigando com a colega de quarto - sério, é muito pedir para respeitar o espaço alheio e não jogar as roupas sujas dela na minha cama?!

Mas eu ainda me sentia quente...

...e incomodada.

Eu queria sexo.

Puro e simples.

Eu precisava tanto de alívio, sabe? E não só de um consolo! Eu precisava de carne, ossos, vértebras e músculos!

O problema era que apesar de ter opções, todas elas não eram boas o suficiente. Entenda, não sou arrogante, apenas seletiva. Pesava muito os prós e contras de transar sem pensar e depois ficar com a fama de puta no campus, porque, bem, sabe-se bastante sobre a fama de brasileiras no exterior. A minha futura carreira estava em jogo ali, então as minhas escapadas eram realizadas fora da universidade, quando visitávamos a cidade. Lá, um pouco mais livre, poderia ficar sem muitas preocupações. A questão também é que escapávamos pouco. A previsão da próxima saída era somente daqui a duas semanas e ir sozinha não era do meu feitio.

Consegui evitar com razoável facilidade meus rompantes de necessidade primitiva.

Até agora.

Sem privacidade alguma em qualquer canto, fiz o mais sensato possível no momento.

Corri para a biblioteca.

Andei pelos corredores, admirando as prateleiras altas, em madeira de lei, repletas de livros, e ri da minha improbabilidade em estar ali. Aliás, buscando com curiosidade um exemplar recomendado na aula de literatura.

Após dois anos completos em Cambridge, era a melhor matéria no meu conceito. Surpreendente, de verdade. Antes, eu poderia afirmar que odiava literatura. Quanto mais literatura inteligível! Shakespeare era maçante, com suas histórias cheias de drama, traição, amor não correspondido, loucura e nada de pornografia.

Então, apareceu Mr.Hiddleston.

O professor adjunto, que transpirou "Sonho de uma Noite de Verão", em seu recital repleto de energia cativada no interior de seus olhos azuis, na primeira aula daquele semestre. E prendeu a minha atenção, ali, naquele exato momento em que sua voz grave e londrina ecoou pelo auditório.

E o termo pornografia foi adicionado com sucesso em Shakespeare.

Com seu estilo entre o casual e o profissional, no auge de seus trinta e quatro anos - sim, eu fiz pesquisa de campo sobre ele, Mr.Hiddleston era o espécime exato de dedicado professor. Mas algo nele, no jeito com que ele flertava veladamente com as alunas, dava sinais de que a alegada inocência desaparecia assim que ele saísse do seu habitat na mesa da classe.

Algo me dizia que aquelas mãos, com dedos longos e punhos proeminentes, seriam perfeitas para muitas coisas; além de manusearem o projetor, e displicentemente vagarem por seu próprio pescoço quando se perdia em pensamentos.

Encontrei o exemplar que procurava, e me vi sorrindo ante a capa do livro. Busquei o canto mais afastado, acomodei meu corpo, sozinha; e folheei as primeiras páginas de "Macbeth", tentando focar e destrinchar a linguagem pérfida de Shakespeare, lembrando das indicações dadas por Mr.Hiddleston na aula. Tão logo lembrei dele, minha mente começou a divagar por caminhos que eu queria evitar naquele dia.

BEDAZZLEDOnde histórias criam vida. Descubra agora