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As grades que aprisionavam Kim Namjoon em muito se diferenciavam de qualquer cadeia ou gaiola, embora tivessem em si o mesmo objetivo. Elas podiam ser feitas de sangue, carne e ossos, resumindo seu cativeiro ao seu próprio corpo. Mas não. Elas eram feitas de laços; laços sanguíneos, paternais e maternais, laços de nós muito apertados, tecidos num amor deformado e tóxico, laços feitos de família.

E talvez esses fossem os piores.

Em cada ato o garoto era observado, desde os horários em que voltava da escola até a forma que arrumava o cabelo e de fato seu novo estilo em nada era aprovado por seus antecessores na árvore genealógica. Entretanto não era apenas sua aparência externa que dava desgosto em seus pais, e sim tudo com o que ele se assemelhava e se resumia por dentro. Tudo o que Namjoon era de verdade poderia ser capaz de desagradar seus pais.

Um bom aluno, embora dormisse em algumas aulas. Um bom filho, embora tenha começado a responder malcriado certas coisas no jantar. Um bom cristão, embora tenha parado de frequentar a igreja. Uma boa pessoa, embora tenha conhecido Jung Hoseok e tudo o que seus pais aprovavam em si estivesse agora acompanhado por inúmeros "embora"s.

Porque Jung Hoseok é e sempre seria o grande problema. O garoto que tiraria Namjoon dos braços do Senhor para atira-lo direto nas garras de Satanás. Aquele com o sorriso de coração que era terminantemente proibido de passar o batente da porta, lotado da camisetas de mal gosto, trejeitos, e militâncias que só um enviado do demônio poderia proferir.

Um discurso inteiro que o Kim tinha que ouvir quase todos os dias e tentava ignorar com todas as forças mas sempre permitia que uma palavra ou outra se infiltrarsse em seu coração.

Correu os olhos pelos post-its coloridos que usava para estudar, forrando a parede do quarto com várias anotações e suspirou audívelmente - apesar de a porta recém batida após uma das conversas previsíveis com seus pais deixar claro que apenas ele ouviria seu próprio lamento.

Roçou os dedos finos e bonitos pelo matérial rabiscado em sua parede, sem de fato ler o que estava escrito, apenas respirando fundo para não permitir a agonia de seu peito alcançar os olhos, sabendo que deixaria algumas lágrimas caírem caso acontecesse. E estava cada vez mais difícil impedir que todo aquele sentimento entalace na garganta, todo aquele sufoco e as prisões invisíveis que impediam sua alma de correr livre e seu coração de amar. Sentia-se um pássaro engaiolado, sabendo que suas asas são capazes de leva-lo longe entretanto a ausência de liberdade o forçava a permanecer solitário, sem canto e preso perpetuamente no chão.

O melhor de tudo, porém, ainda conseguia alegrar seus dias e tinha nome, sobrenome e o sorriso mais lindo de todo o mundo. Foi no primeiro dia de aula que o avistou pela primeira vez e sem dúvida isso foi o suficiente para fazê-lo perder as estribeiras, mas não o bastante para fazê-lo se apaixonar. Não, isso demorou um pouco mais de tempo porque Namjoon nunca teria coragem de se aproximar por vontade própria de qualquer pessoa que lhe chamasse a atenção, então deixou nas mãos do destino e nada melhor do que uma força cósmica desconhecida como ele para fazer Hoseok tropeçar no próprio cadarço naquela cafeteria que sempre frequentava às sextas, cair de cara na mesa do Kim e fazer os dois pombinhos finalmente trocarem algumas palavras.

Ainda bem que não parou por aí e talvez nunca parasse.

Deixou de encarar os post-its e correu para os lençóis, afundando o rosto no travesseiro e se debatendo contra o colchão num misto de raiva dos pais, de si mesmo por estar chorando e frustração com frio na barriga por pensar em Hoseok mais uma vez. Estavam ficando cada dia mais próximos - tão próximos que Namjoon acabou criando coragem para beijar o garoto, sendo o primeiro beijo para Hoseok e para o futuro casal, poucas semanas antes. Depois disso acabaram por trocar mais beijos e talvez, talvez algumas mãos bobas por conta do Kim.

Let me take you to freedom  [namseok]Onde histórias criam vida. Descubra agora