1. Carmim

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a c u r i o s i d a d e m a t o u . . . q u e m m e s m o ?

quando Mark Lee avistou a silhueta coberta por luzes neon, se movimentando conforme as batidas fortes do baixo que ressoavam naquele lugar, ele sentiu um arrepio correr toda a sua espinha direto para a lateral dos seus quadris e seus olhos estacionarem por vários segundos no garoto há alguns metros de si.

ele se mexia graciosamente. os lábios pareciam brilhar por conta da luminosidade contra o gloss que tinha na boca, mas Mark não sabia se garotos usavam gloss. não naquela cidade pequena, pacata e cheia de olhares tortos direcionados a quem não andasse na linha. era quase mágico — quase sobrenatural —, mesmo que Mark não acreditasse em magia. em um intervalo de tempo de menos de dez segundos, ele tinha se questionado sobre uma série de coisas que acreditava, incluindo esta, desde que pôs os olhos naquele garoto desconhecido.

parecia que ele dançava através dos outros corpos na pista de dança. através mesmo, porque não importava quantas pessoas tinham em uma linha reta entre eles dois, o garoto sempre estava visível. como se flutuasse. como se existissem dois planos e ele se sobressaísse conforme deslizava a ponta dos dedos pelo pescoço e deixava que os fios de cabelo acinzentados caíssem sobre seus olhos maquiados com uma sombra laranja.

ele ficou... curioso.

queria continuar olhando-o, mas já tardava as três da madrugada (e amanhã era domingo, dia de ir a igreja) e seus pais estariam chegando de viagem dali pouco menos de trinta minutos, portanto ele precisava encontrar Taeyong e evitar que os seus progenitores soubessem das saidinhas que seu irmão mais velho fazia todos os fins de semana. ah, seria uma vergonha estrondosa para eles. uma cidade tão pequena como aquela e um sobrenome tão popular como o deles... que desastre. piscou os olhos sonolentos, terminando de bebericar seu copo de água com gás e deixando a garrafinha em cima do balcão. vagou-os pelo local, procurando pelo outro Lee, mas não o encontrou. nem ele, nem o garoto que observava. torceu a boca, para onde ele tinha ido? Mark se estranhou, naquele momento, pois a pergunta soava em sua cabeça seguida pela imagem do garoto desconhecido e não de seu irmão.

enfiou-se no meio das pessoas somente para atravessar a pista de dança e chegar até o corredor que levava aos banheiros. tinha ido ali algumas vezes com o mesmo objetivo daquela noite: encontrar Taeyong, por isso esperava recordar-se qual porta daquelas era o banheiro. mas... subitamente, Mark achou que fossem menos portas. quer dizer, parecia que ele estava andando há horas naquele corredor para conseguir alcançar a última a esquerda, mas ela nunca chegava.

sentiu, de repente, uma brisa gelada infiltrar-se no corredor e arrepiar seu tronco por completo. olhou para trás e parecia que não tinha nem saído do lugar, embora a música agora estivesse consideravelmente mais baixa e abafada. olhou a hora no celular, ainda era três e vinte e sete. perguntou-se então se haviam colocado alguma coisa em sua bebida. ele só podia estar delirando.

Mark entrou na primeira porta que encontrou, um pouco tonto, esperando que fosse o banheiro, mas não fora o que encontrara: seus olhos castanhos não enxergaram seu irmão, como o esperado desde que chegara ali, mas sim o mesmo garoto da pista de dança. e dessa vez, ele não estava sozinho.

os lábios antes iluminados pela luz azul da pista de dança, agora estavam presos por entre os dentes pequenos. o inferior sendo mordido com força e tal ação coberta pelo rastro vermelho da lâmpada do quarto, a luz misturando-se ao líquido escarlate que teimava em aglomerar-se no cantinho da sua boca, bem onde ele maltratava. isso enquanto haviam outros dois garotos desconhecidos ao lado dele, um de rosto fino e queixo pontudo, com os lábios no seu pescoço e as mãos correndo todo o seu cabelo, e o outro com o olhar felino e unhas passando pelas pernas do que estava ao meio.

MacárioOnde histórias criam vida. Descubra agora