Prólogo

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O vento calmo e gélido agitava os galhos das árvores na cidade escura e nebulosa conhecida também como Londres. O céu ameaçava um temporal com trovoadas e raios, então, a essa hora, não se encontrava nenhuma alma rondando pela cidade. Meu quarto estava quente por conta do aquecedor que estava ligado desde cedo, não suportaria deixá-lo desligado em um frio como este.

Olhei mais uma vez para o relógio pregado na parede ao lado de um quadro e ainda eram 20:39, minha mãe ainda estava no trabalho a tratar de negócios. Um suspiro escapou entre meus lábios me fazendo ficar sentada na cama enquanto encarava a rua escura pela janela a minha frente.

Fechei a cortina e peguei um casaco de lã que estava pendurado na maçaneta. O vesti rapidamente e sai dali, indo até a cozinha para tomar algo que pudesse me aquecer.

Estava preparando um chá de camomila quando ouço a porta da frente se abrir e depois se fechar. Não dei muita importância.

- Oi - ouvi a voz da minha mãe soar atrás de mim em um suspiro.

Me virei de frente pra ela e a olhei de cima a baixo, nossa, ela tá exausta. Os olhos azuis estavam seguidos por profundas olheiras cansadas. Seu cabelo ruivo estava bagunçado e a pele pálida. Sua roupa toda solta e as mãos, tensas.

- Tiveste um dia cheio? - perguntei.

- Sim - ela suspirou novamente.

Minha mãe levou as mãos ao rosto e as desceu pelos cabelos, tentando arrumá-los.

- Toma um pouco de chá, vai melhorar - disse, colocando um pouco em um copo.

- Obrigada - respondeu.

Depois que meus pais se divorciaram, tudo ficou mais complicado. Eu comecei a me focar mais nos estudos para ter um futuro melhor, minha mãe está dando tudo de si para conseguir fechar negócio com uma das melhores empresas da cidade. Meu irmão, Joey, está cada vez mais afastado, ele anda se drogando e as vezes, age como se eu fosse algo para ser apanhado.

- Vou pro quarto, tá frio e eu estou imensamente cansada - ela disse, saindo da cozinha e me deixando só.

Continuei tomando meu chá enquanto pensava em como minha vida deu uma grande mudança de 2 anos pra cá.

Depois de já tomado, pus a xícara de chá na pia e voltei ao quarto, amanhã começa um longo dia.

(...)

No dia seguinte, levantei com o maldito som do despertador repetindo o bip bip na cabeceira. Dei um tapa em cima do relógio digital o fazendo parar de berrar. Com um imenso esforço, saí da cama.

- Sam, o café ta na mesa - ouvi minha mãe dizer.

Entrei no banho e me despi. Liguei a ducha e deixei a água quente cair sobre meu corpo, relaxando o mesmo. É sempre assim, eu nunca falo quando acordo, só depois.

Depois de já vestida, andei até a cozinha e tomei o chocolate quente que minha mãe deixou na bancada e o cereal ao lado.

Saí de casa já pronta e fui andando até a escola. Já na esquina, conseguia ver os grupinhos de alunos reunidos para conversarem sobre as novidades. Entrei no pátio e logo enxerguei Luna e Gail, meus amigos.

- Oi gente - disse, forçando um sorriso.

- Oi - responderam.

- Novidades? - perguntei, enquanto subíamos as escadas até a sala.

- Vai ter uma luta hoje, no subsolo do prédio H na faculdade de um amigo meu, estão a fim de vir? - disse Gail, animado.

Lutas, não vejo graça nesse tipo de coisa, ver pessoas se matando em um círculo só para ganhar dinheiro, eu não.

- Não sei não - respondi, com os lábios comprimidos.

- Eu topo - ouvi Luna dizer.

A Luna é viciada em coisas assim, sempre quer ver sangue jorrar de alguém.

- Vamos Sam, vai ser legal - disse Gail, tentando me convencer.

- Nunca é legal isso - respondi, revirando os olhos. - Mas ok, eu vou - completei em um suspiro.

- Ok, passo na casa de vocês às 18h ok - ele disse, antes de entrar na sala de química orgânica.

- Não acredito que vou em uma luta - disse baixo.

- Deixe de ser certinha, Sam - Luna respondeu, me fazendo rir.

Entramos na sala de biologia marítima e assistimos a maldita aula.

(...)

Depois de ter acabado a aula, voltei pra casa com a intenção de fazer o almoço e a lição de português.

- Olá Sam - disse minha mãe, entrando em casa.

- Oi mãe - respondi, abrinco um sorriso.

- Olha, não vou almoçar aqui hoje, o meu chefe marcou um almoço com o pessoal da empresa - ela disse.

- Então o que a senhora faz aqui? - perguntei, confusa.

- Vim deixar umas coisas aqui - respondeu. - Agora eu vou. Tchau - ela disse, antes de sair e fechar a porta.

Nem deu tempo de avisá-la que iria sair com Gail e Luna, mas ela já deve estar acostumada, afinal, toda semana saímos juntos, não para ver lutas ou algo do gênero, mas ir ao shopping ou no parque.

Depois de almoçar e lavar a louça, andei até meu quarto e tomei um banho e vesti uma roupa quente apropriada para o lugar aonde iria. Olhei para o relógio na parede, 17:28, melhor assistir alguma coisa pra passar o tempo.

"Sam, desce , cheguei. X. Gail"

Li a mensagem e levantei da cama, passando a mão pela roupa e pelos cabelos já bagunçados por estar deitada. Desliguei a TV e apaguei as luzes do quarto antes de fechar a porta. Escrevi em um papel onde estaria caso minha mãe chegasse em casa antes de mim.

- Vamos - disse Luna ao Gail, depois que entrei no carro.

- Só espero que não seja má ideia o que estou prestes a fazer - murmurei.

- Sam, relaxa, vai ser divertido - ouvi a voz de Gail soar divertido, enquanto acelerava o carro.

Enterrei minhas costas do encosto do banco e virei minha cabeça em direção à janela, vendo minha casa se distanciar a medida que Gail acelerava.

Luna ligou o rádio e fomos cantando ao som de Fuel to the Fire, do The Maine, minha banda favorita.

De minutos a minutos, eu olhava para a rua, estávamos nos afastando da cidade a cada segundo. A cada momento ficava mais difícil decifrar o caminho de volta. E então, Gail estacionou o carro do lado de fora do portão cinzento trancado por uma corrente grossa de cadeado.

- Vamos ter de escalar - ele disse, enquanto balançava o portão.

O portão ginchou e fez um barulho estranho.

- Vamos - ele ordenou.

Luna e Gail saíram escalando o portão, chegando a saltar do outro lado.

- O que ainda tá fazendo ai, Sam?! - a voz de Luna era estridente.

- Não sei fazer isso - respondi, engolindo a seco.

- Grr... É só por o pé nesses buracos e subir - disse ela, perdendo a paciência.

Fiz o que ela mandou e logo pulei no outro lado do portão. A faculdade estava escura, não havia ninguém pelos prédios.

- A luta já começou, todos estão lá - disse Gail, apressando o passo.

Eu e Luna o acompanhamos e logo chegamos ao prédio H, estava uma enorme muvuca ali ao redor da entrada, como essa bando de gente vai conseguir entrar?

- Não se afastem - disse Gail, agarrando a mão de Luna que logo agarrou a minha.

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