Meu Ideal...

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- Allen?

Para a surpresa do rapaz, não esperava que alguém o encontrasse ali. Se bem que, parando para pensar devidamente, era meio obvio que o rapaz estaria em sua sala "particular". Timcanpy saiu de cima do piano branco que havia na sala para aproximar-se de quem vinha em direção ao exorcista.

- Yui? - o rapaz se levantou do assento a frente do instrumento e se voltou totalmente para a jovem.

- Então você vem aqui quando some e deixa todo mundo preocupado... - a jovem suspirou e acariciou o pequeno Timcanpy que havia pousado sobre seu ombro. - Todos estão te procurando... Estava tocando por acaso?

- Não... - o rapaz tentou mentir o melhor que conseguia, mas sabia que não seria convincente o suficiente. Ele sabia que a garota a frente tinha conhecimento de seu hábito de tocar o piano da Arca. Ele só tocava quando estava realmente preocupado ou muito triste, então não queria preocupá-la. - Só estava pensando sobre tudo o que já aconteceu. - apesar de seu sorriso gentil, ele não podia esconder o tom triste de sua voz.

Yui Mashiro não precisava de muito para compreender o sofrimento que afligia o amigo. Por acabarem se tornando tão próximos, a amizade entre eles tornou-se um laço extremamente profundo. Era como se ela fosse capaz de decifrar cada pedaço de Allen e o mesmo era válido para com ela. Era absurdamente assustador aquele tipo de ligação, porém, para os dois, era como se isso fosse naturalmente ordinário. Recorrentemente, as palavras de Cross ecoavam em sua cabeça como uma maldição, alertando-a dessa conexão entre eles. Mas o que poderiam fazer diante disso? Yui nunca imaginaria que, ao voltar para a sede da Ordem Negra europeia, encontraria tantos exorcistas magníficos... principalmente Allen.

- Preocupado? - ele suspirou fracamente.

- Um pouco... Eu estou muito confuso depois de tudo o que ocorreu.

- A vida de um exorcista nunca foi fácil ou clara. Até mesmo a Soul não sabe o meu destino. Acho que é por isso que o destino é tão misterioso.

Allen fixou seu olhar sobre a companheira, refletindo a confissão da mesma. Estava um pouco surpreso com aquele assunto sobre destino, porém viveu ouvindo coisas sobre o gênero e internamente estava incomodado com aquele tipo de assunto. Tinha ódio do destino. Um ódio inegável. E naquele momento, acabou por ficar surpreso também ao que a jovem tocou no nome de sua Inocência. Soul era uma Inocência consciente e capaz de assumir uma forma física temporariamente. Desse modo, Yui era considerada duas pessoas em um só corpo. Para até mesmo Soul desconhecer o destino de sua usuária, o assunto era realmente complicado.

Contudo o que mais o amedrontava era a verdade.

- O caso é que tenho medo de mim mesmo. - o jovem olhou para o piano, lembrando-se do fato que só ele tinha conhecimento da melodia do 14º Noah.

- Allen... - uma voz suave feminina ecoou pelo recinto, tendo sua origem no corpo de Yui. Aquela voz era característica de Soul. - Ainda está preocupado com a melodia, não é? - o rapaz preferiu não responder. Na verdade, não havia necessidade de confirmar algo que estava bem estampado em seu semblante.

- Você nunca vai mudar, não importa o que aconteça. Você já devia saber.

- Eu não sei... - ele olhou para Yui deixando sua máscara enfim cair. Não mais portava aquele sorriso falso ou até mesmo a indiferença desejada. Estava cansado de fingir e com a jovem não havia nem a necessidade como sucesso se o fizesse.

- Bem... Os acontecimentos só acontecem se permitirmos. Posso? - ela apontou para o piano e ele assentiu. Ela se sentou ao instrumento e ajeitou os longos e lisos cabelos negros que possuía. Allen pode ver o brilho melancólico e preocupado que incumbiam os belos olhos esverdeados. E com um suspiro, a garota completou seu pensamento. - Ninguém resolve o destino de alguém, a não ser dele mesmo. Nós criamos o nosso próprio destino e isso é o que nos faz diferentes e únicos. - as primeiras notas tocadas eram suaves, até mesmo tímidas, e fizeram o rosto do rapaz empalidecer. Ele sabia que melodia era aquela, mas nunca pensou em ver ou ouvir outra pessoa a tocando, sem ser ele mesmo.

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